Campanha não prenuncia solução para o Brasil
É necessário alertar que as eleições não são necessariamente o bálsamo que resolverá uma situação complicadíssima
A instabilidade institucional, a incerteza econômica e uma profunda crise política marcam a campanha que começou no Brasil e que terminará, em outubro, com a eleição do novo presidente do gigante sul-americano. Não se trata de uma boa notícia para o país mais importante da região que até poucos anos atrás era visto como exemplo para o mundo de sucesso político, crescimento econômico e combate à pobreza.
As eleições porão fim a um mandato turbulento caracterizado por casos de corrupção em grande escala que comprometeram profundamente tanto o setor político como o econômico, protestos maciços de uma classe média prejudicada e insatisfeita com a atitude dos políticos e uma convulsão institucional quase suicida que, entre outros efeitos, teve o polêmico impeachment, em 2016, da presidente eleita Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT).
Mas é necessário alertar que as eleições não são necessariamente o bálsamo que resolverá uma situação complicadíssima. De fato, os sinais observados na pré-campanha não convidam ao otimismo. Primeiro, porque o desencanto do eleitorado com a situação criada deixou um número expressivo de brasileiros sem saber em quem votar, e nem mesmo se vai votar. E não fica atrás o fato de o favorito ser Jair Bolsonaro, um ex-militar que defende posições nacionalistas de extrema-direita e escolheu como companheiro de chapa um general na reserva, defensor da ditadura militar que o país sofreu entre 1964 e 1985. Bolsonaro usa uma estratégia de comunicação – os institutos de pesquisa o consideram o político mais eficaz nas redes sociais – com a qual tem conseguido chegar às pessoas. Os outros candidatos, ancorados em outras fórmulas, têm uma dificuldade adicional quando se trata de divulgar suas mensagens.
A outra circunstância que marca a campanha é a situação do ex-presidente – e por enquanto candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto 12 dos 13 candidatos vão viajar milhares de quilômetros tentando ganhar eleitores e participar de inúmeros debates televisivos, Lula transformou sua cela na sede da Polícia Federal em Curitiba em um escritório onde recebe dezenas de visitas e dá instruções. A estratégia do PT, apoiada no prestígio de um presidente que ganhou duas eleições e colocou o Brasil como modelo de democracia e economia pujante – é fazer seu candidato ficar o mais presente possível mediante imagens de arquivo e distribuição de máscaras nos comícios. A ver até que ponto, numa sociedade marcada pela imagem e pelo imediato, a figura de um candidato ausente será eficaz na hora de ganhar votos. E isso acontecerá pelo menos até que o Tribunal Eleitoral decida sobre a legalidade ou não de sua candidatura. Em qualquer caso, dentro do poderoso partido de esquerda, há vozes que acreditam que a tática do líder veterano está fazendo seu possível substituto, Fernando Haddad, perder um tempo precioso na candidatura.
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