Milagre aéreo no México
Todas as 103 pessoas que estavam a bordo de um avião que caiu pouco após a decolagem no norte do país sobreviveram ao acidente
Um milagre. Assim sobreviventes e testemunhas descrevem o desenlace do acidente de um avião comercial da companhia Aeromexico que caiu na tarde de terça-feira, 31, na capital de Durango, no norte do México. Pouco antes das 16h (18h em Brasília), a aeronave decolou rumo à Cidade do México no meio de uma forte tempestade. Minutos depois, ficou sem controle e caiu sobre terrenos próximos ao Aeroporto Internacional Guadalupe Victoria, mas fora da pista. Milagrosamente, o acidente não causou mortes entre as 103 pessoas que estavam a bordo, entre elas, um sacerdote da cidade que acabava de voltar de uma estadia nos EUA.
Muitos passageiros conseguiram sair do avião sozinhas e a equipe de bombeiros do próprio aeroporto apagou rapidamente o incêndio provocado após o impacto. Dezoito pessoas permanecem hospitalizadas. Os casos mais graves são o de uma menor com queimaduras em 25% do corpo e o piloto, operado com urgência na terça-feira à noite por conta de uma lesão cervical. “A oportuna ação da tripulação e dos passageiros evitou a perda de vidas humanas”, disse a empresa na quarta-feira em uma entrevista coletiva.
Um dia depois do acidente, os destroços da fuselagem que sobraram depois do incêndio, que ocasionou uma enorme coluna de fumaça, ainda permaneciam no terreno baldio onde o avião caiu, tomado por arbustos secos e espinheiros. “O protocolo exige que tudo permaneça como estava até o fim da perícia”, dizem os operários da Aeromexico que foram ao local e preferem não se identificar.
Na ausência do relatório final dos peritos e da autoridade da aviação civil mexicana, o governador do Estado, José Rosas Aispuro, informou na terça-feira que o avião – modelo Embraer 190, um dos mais usados por companhias aéreas comerciais – foi atingido “repentinamente” por uma rajada de ar quando estava decolando. O vento sacudiu a aeronave fazendo-a descer “bruscamente” e tocar o solo com a asa esquerda. “Os dois motores do avião se desprenderam” e a aeronave “foi projetada para fora da pista, deslocando-se sobre o solo, parando a cerca de 300 metros da área de aterrissagem”.
“O código vermelho foi ativado na cidade (de 650.000 habitantes) para que ninguém saísse de casa e atrapalhasse o resgate. Nos primeiros minutos, ninguém sabia o que estava acontecendo. Horas depois se soube que não havia mortos. Na verdade, foi um milagre que todos tenham sobrevivido”, diz Rosy Gaucín, de 47 anos, moradora da região.
“Na verdade, foi um milagre que todos tenham sobrevivido”
A destreza do piloto durante a manobra de emergência – o avião nunca deixou de ficar na horizontal –, o rápido acesso dos bombeiros ao local do acidente e a ativação dos dispositivos de evacuação foram fundamentais. “Ficou dois minutos no ar e caiu. Bateu várias vezes e todos nós começamos a sair. Foi tudo muito rápido”, lembrou Guadalupe Herrera, uma das passageiras, em declarações à imprensa local. “O avião caiu” – disse outra passageira, Jackeline Flores – “e foi deslizando para a frente por um longo trecho. Com a vibração, todas as malas do corredor caíram e o incêndio começou. Bem na asa, vi que havia uma abertura. Tirei imediatamente o cinto da minha filha e saímos por ali. Estava com medo de pular e me queimar, mas pulamos. Pulamos sem pensar”.
Os tobogãs de evacuação foram acionados corretamente, afirmou o governador, facilitando a saída dos passageiros “antes do início do incêndio”. Quinze minutos depois do acidente chegaram as primeiras ambulâncias e o corpo de bombeiros. O aeroporto, que permaneceu fechado durante as primeiras horas após o acidente, retomou sua atividade normal durante a noite de terça-feira.
“O avião estava decolando e houve uma condição em que o piloto decidiu permanecer na pista. Há uma variedade de possibilidades que podem gerar o aborto da decolagem, como uma falha de motor, o vento ou a falha de outro sistema, como o hidráulico ou o elétrico. Os pilotos fizeram tudo o que estava em seus treinamentos para executar uma manobra desse tipo com a maior segurança possível”, enfatizou em um comunicado a Associação Sindical de Pilotos Aviadores (ASPA).
Mais de 300 incidentes aéreos em dois anos
Nos últimos dois anos ocorreram 309 acidentes e incidentes aéreos no México. O Colégio de Pilotos Aviadores do México divulgou um duro comunicado criticando a regulamentação das aeronaves: “É necessário que a autoridade aérea aumente imediatamente a fiscalização às escolas de aviação, à aviação geral e executiva, bem como em relação à manutenção das aeronaves, operações aéreas, treinamento e formação. É inaceitável a própria autoridade aeronáutica autorizar alguns operadores a atribuírem às suas tripulações um número de horas de voo superior ao permitido pela Lei Federal do Trabalho”.
A Aeromexico, antiga companhia aérea pública do país, disse por sua vez que o avião, usado pela empresa havia quatro anos, foi submetido à última revisão em fevereiro e cumpria todas as normas internacionais, e que a tripulação – dois pilotos e dois comissários de bordo – tinha começando sua jornada de trabalho naquele voo, número AM243. O avião, no entanto, já acumulava quatro voos desde a manhã de terça-feira.
O parecer definitivo da autoridade aeronáutica civil pode demorar até 10 meses. O Governo mexicano criou uma comissão especial para investigar as causas do acidente, que contará com a participação da Junta Nacional de Segurança de Transporte dos Estados Unidos e da Embraer, fabricante do avião.
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