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Doria aposta (de novo) no antipetismo para vencer a eleição mais difícil do PSDB em São Paulo

Tucano foi ungido candidato neste sábado e é favorito nas pesquisas de intenção de voto, mas enfrentará desafios inéditos na corrida pelo governo do Estado mais rico do País

João Doria, em seu último dia como Prefeito de São Paulo.
João Doria, em seu último dia como Prefeito de São Paulo.LEON RODRIGUES (SECOM)
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O ex-prefeito de São Paulo João Doria não deixou dúvidas sobre o tom que pretende adotar para conquistar o eleitor paulista — principalmente o do interior — durante a campanha pelo governo do Estado. “Vamos lembrar o herói Sérgio Moro que, como juiz destemido e corajoso, pôs Lula na cadeia e está pondo vários outros”, disse o tucano na convenção estadual do PSDB, neste sábado. Ao lado de Geraldo Alckmin, Doria afirmou ainda que o alto desemprego no Brasil foi causado “pelos governos do PT e dos partidos de esquerda”. Antes de terminar o discurso, voltou à carga: “nada de bandeira vermelha, nada de esquerdismo!”

Foi dessa forma, redobrando a aposta no antipetismo e apresentando-se como um gestor de sucesso que trocou o conforto de uma vida de empresário para dedicar-se à administração pública, que Doria deu a largada oficial da sua campanha. O figurino não é novo: foi com ele que o tucano se elegeu prefeito de São Paulo em 2016 ainda no primeiro turno.

Dois anos depois, no entanto, ninguém dentro do PSDB espera uma eleição fácil, principalmente porque o partido enfrentará umas condições inéditas no Estado que controla há 24 anos. Pela primeira vez desde 1998 os tucanos terão de lutar contra a máquina do Governo estadual, que atualmente é comandada por um adversário, o governador Márcio França (PSB). Vice de Alckmin, que se desligou do governo estadual em abril para poder concorrer à Presidência da República, França deve ser oficializado candidato do PSB na próxima semana.

“Há uma ruptura dentro do próprio grupo hegemônico em São Paulo, que não consegue mais se conciliar em termos eleitorais”, avalia o cientista político Vitor Marchetti, da Universidade Federal do ABC.

Não é o único obstáculo no caminho de Doria. Ele convive com uma alta rejeição, principalmente na capital, onde está desgastado por não ter concluído o mandato de prefeito. O tucano sinalizou neste sábado qual deve ser a sua linha de defesa nesse tema, que será um dos principais flancos de ataque dos seus oponentes. Rendeu elogios a seu sucessor, Bruno Covas (PSDB), e afirmou que cada voto que recebeu em 2016 foi também para o seu antigo vice. “O Bruno Covas é o retrato do PSDB”, declarou.

Os números das últimas pesquisas dão uma ideia da complexidade do atual pleito estadual. Na mais recente sondagem do Ibope, Doria aparece com 19% das intenções de voto, tecnicamente empatado com o presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (MDB), que tem 17%. Os dois são seguidos à distância por França que, embora apareça com apenas 5% da preferência do eleitorado, é considerado alguém com potencial de crescimento por ter a projeção que o cargo de governador confere e ainda ser desconhecido.

Disputa acirrada

Cientistas políticos ouvidos pelo EL PAÍS consideram que há chances reais de a predominância do PSDB no Estado ser rompida estas eleições, principalmente diante da perspectiva de um pleito em dois turnos — em 2006, 2010 e 2014 o candidato do PSDB se elegeu no primeiro turno.

Quem conseguir polarizar com os tucanos no primeiro turno, dizem, poderá capitalizar, no segundo turno, o cansaço do eleitor com um partido que administra o Estado há mais de duas décadas e que teve a sua imagem manchada depois das denúncias de corrupção que atingiram em cheio Aécio Neves, ex-presidente da sigla. “Eu acredito que o PSDB terá mais dificuldades este ano”, afirma Marco Antonio Teixeira, professor da Fundação Getúlio Vargas.

Tanto França quanto Skaf — que também foi confirmado candidato hoje pela convenção do MDB paulista — trabalham para se viabilizar como essa segunda força no primeiro turno. Skaf tenta manter o recall conquistado nas duas últimas eleições para governo, mas carrega o ônus de ser um fiel aliado do presidente Michel Temer, que acumula altos níveis impopularidade. Na convenção do MDB realizada neste sábado, por exemplo, não houve qualquer menção ao presidente da República.

França, por sua vez, correu contra o tempo desde que assumiu o governo para liberar recursos estaduais a prefeitos, com o objetivo de garantir uma boa votação nas pequenas e médias cidades do interior. Ele também utilizou seu período na cadeira de governador para costurar a segunda maior aliança partidária no Estado, algo fundamental para, a partir das inserções diárias no rádio e na televisão, tornar-se mais conhecido entre o eleitor paulista.

O atual governador, no entanto, sofreu baixas que foram sentidas na sua pré-campanha. A mais sentida delas foi o fato de Alckmin, depois de pressionado pelo PSDB, ter sido obrigado a só participar de atos da campanha de Doria. Associar-se ao ex-governador tucano era a principal estratégia de França para não ser rotulado como um candidato da esquerda, algo que Doria já indicou que vai explorar em seus ataques ao adversário.

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