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A fúria de Lukaku que ameaça o Brasil

Belga é o artilheiro do melhor ataque do Mundial e credita boa parte do seu sucesso ao ex-jogador francês e auxiliar da seleção, Thierry Henry

Lukaku comemora vitória da Bélgica sobre o Japão nas oitavas.
Lukaku comemora vitória da Bélgica sobre o Japão nas oitavas.Hassan Ammar (AP)
Juan I. Irigoyen
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O contra-ataque foi criado por De Bruyne. O passe foi de Meunier. A fama ficou com Chadli, autor do gol que fechou a histórica virada da Bélgica contra o Japão (3 a 2) em Rostov no quarto minuto dos acréscimos do segundo tempo. Mas existiu um jogador invisivelmente visível em todo o elétrico contra-ataque dos Diabos Vermelhos: Romelu Lukaku. O atacante do Manchester United, de 25 anos, primeiro levou a marcação de dois defensores japoneses, depois levantou a perna direita para deixar passar a bola que Chadli só teve o trabalho de empurrar para a rede. Uma lição de como jogar sem a bola, aluno avançado de um mestre do jogo de espaços como Thierry Henry, ex-atacante francês, hoje assistente do técnico da seleção belga, Roberto Martínez.

Até o técnico espanhol iniciar seu trabalho no comando da Bélgica em 2016, Lukaku tinha uma média de gols de 0,33 por partida (17 em 51). Desde então, praticamente quadruplicou seus números: 1,1 (23 em 21). “Vamos precisar desenvolver uma parte de seu jogo que talvez as pessoas tenham questionado no passado: você consegue jogar no último terço do campo quando o rival se fecha? Você pode ler os espaços para jogar sem a bola?”, perguntou Henry quando assumiu suas funções. “Será uma grande mudança para Lukaku. Eu não era o mesmo jogador com 24 anos e com 28. E posso te garantir uma coisa, ele é um estudioso do jogo, além de se esforçar 100%”, afirmou.

O auxiliar Henry, de branco, durante o treino da Bélgica.
O auxiliar Henry, de branco, durante o treino da Bélgica.BRUNO FAHY (GTRES)

Lukaku não podia falhar com seu ídolo. “Todos os dias aprendo com Henry. Estou com a lenda, em carne e osso. Ele me diz como atacar o espaço como ele costumava fazer. Deve ser a única pessoa no mundo que vê mais jogos do que eu. Debatemos tudo. Nós nos sentamos e conversamos sobre a segunda divisão da Alemanha”, disse Lukaku.

Hoje aproveita com Henry todos os dias no Complexo de Esportes de Guchkovo, a 30 quilômetros de Moscou, onde os Diabos Vermelhos têm seu centro de operações. Antes, entretanto, nem mesmo podia vê-lo pela televisão. “Quando era pequeno”, diz Lukaku para o The Players’ Tribune, “não podíamos ver Thierry Henry no The Match of the Day [programa de futebol da tv inglesa]! Um dia ficamos sem luz, no outro sem água quente e, no final, sem televisão”. O atacante do United se abre sem rancor, mas com orgulho. Um carta aberta em que mostra toda a sua fúria. Uma história de superação, como tantas outras no futebol, mas também de uma extraordinária convicção de que se transformaria no dono de seu destino.

“Costumávamos comer pão e leite. Um dia entrei na cozinha e vi que minha mãe estava misturando o leite com água. Tinha que durar por toda a semana. Não éramos só pobres, estávamos quebrados”, lembra Lukaku.

Na idade em que a maioria dos garotos pula dos jogos aos sonhos, Lukaku levou um tapa da realidade. Tinha seis anos. Nunca mais esqueceu. Ele percebeu, à época, que a bola nunca mais seria um brinquedo. “Cada partida que joguei foi uma final. No parque, era uma final. No colégio, era uma final”. Aos 16 anos estreou na equipe principal do Anderlecht. O resto, já se sabe. “Sou um sargento em campo”, afirma Lukaku.

Até aqui, na Copa do Mundo, são quatro gols em quatro jogos: dois contra a Tunísia e dois contra o Panamá. O camisa 9 é a principal ameaça do ataque belga, o melhor do torneio até aqui, contra a defesa brasileira, que é a melhor do Mundial. Lukaku, que jogou com o meia brasileiro Fernando Canesin no Anderlecht, sabe falar português e tem um carinho especial pelo Brasil. Em entrevista antes da partida pelas quartas de final, o atacante respondeu achar a seleção brasileira a melhor equipe e admirar Neymar, que vem sofrendo críticas pelas simulações nas faltas recebidas. "Neymar não é ator, ele é habilidoso. Contra o Neymar, os jogadores chegam mais duro, porque ele tem qualidades que não são normais. No futuro ele vai ser o melhor do mundo", disse Lukaku.

No seu texto no Players' Tribune, o belga ainda reforça: “As pessoas no futebol adoram falar sobre a força mental. Bom, eu sou a pessoa mais forte que você jamais irá conhecer. Porque me lembro de estar sentado no escuro com meu irmão e minha mãe, fazer nossas orações, e pensar, acreditar, saber... isso vai acontecer”, diz Lukaku.

Aconteceu. “Não quero ser um bom atacante e um goleador. Quero ser o melhor jogador na história da Bélgica”, frisa.

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