Quase metade de Pernambuco está na mira de um novo surto de zika
Casos devem se concentrar em regiões que escaparam da grande epidemia de 2016, cuja repetição em escala nacional está descartada. Também transmitidas pelo 'aedes aegypti', dengue e chikungunya também ameaçam 80 dos 185 municípios do Estado
Levantamento realizado pelo Ministério da Saúde em todo o país entre os meses de janeiro e abril mostra que quase metade dos municípios pernambucanos correm risco de surto de dengue, zika vírus e chikungunya. O chamado Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes Aegypti (LIRAa) foi feito em 184 dos 185 municípios do estado. Desses, 80 estão em risco de surto das doenças e outros 80, dentre eles a capital, estão em alerta, e os demais estão fora da zona considerada problemática.
Junto com o risco de infestação do mosquito aedes aegypti, transmissor das doenças, Pernambuco também registrou aumento nas notificações de zika e dengue neste ano em comparação com o ano passado. Até abril, foram notificados 4.147 prováveis casos de dengue no estado, um aumento de 45% em relação ao mesmo período de 2017. As notificações de zika aumentaram 20%. Já os casos de chikungunya foram reduzidos em 31% no mesmo período.
Os números mostram que Pernambuco está na contra mão da média nacional. No mesmo período, os registros de casos de dengue obtiveram uma redução de 20% no país, enquanto os de zika reduziram em 70%. Mesmo a redução dos casos registrados de chikungunya foi maior na média nacional: 65% a menos que no ano passado.
Claudenice Pontes, gerente de arboviroses da Secretaria de Saúde de Pernambuco, ressalta, porém, que não há risco de uma nova epidemia como a ocorrida em 2016, que se espalhou pela América. No início daquele ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou a epidemia como caso de emergência internacional e centenas de mulheres grávidas infectadas com o vírus da zika tiveram seus filhos com microcefalia, o que levou a uma associação entre a malformação e a doença transmitida pelo mosquito. “Agora nós não vamos ter uma nova epidemia, porque a maioria da população já teve contato com algum desses vírus e está imunizada”, ressalta Pontes.
A imunização neste caso significa que a pessoa já entrou em contrato com a doença e por isso não será infectada novamente. É por isso que os registros de casos de chikungunya neste ano apontaram redução em relação ao ano passado: porque houve uma explosão muito grande da doença naquele momento, e a tendência, na sequência, é de arrefecer. “A tendência que podemos ter agora é de surtos epidêmicos, em localidades que não registraram tantos números de casos, ou em crianças que nasceram após o período da epidemia”, diz ela. O sertão pernambucano, por exemplo, registrou poucos casos de chikungunya. "Se eu fosse esperar um surto epidêmico, seria nessa região".
A diferença entre uma epidemia e surtos epidêmicos é que, na primeira, a doença avança de forma generalizada, como ocorrido há dois anos. Na segunda, há explosão de casos em uma região localizada. Pontes explica que os casos da doença estão voltando por duas razões: após uma epidemia como a ocorrida em 2016, é normal que na sequência haja uma redução grande dos casos, o que ocorreu em 2017. "Os registros deste ano, comparados aos do ano passado são maiores mesmo, por causa do ciclo natural da doença", diz Pontes. Mas a redução dos casos também faz com que a população relaxe mais nos cuidados de prevenção. “Os casos estão voltando porque se relaxa nos cuidados também”, diz ela. “E o vírus permanece. Não há registros, mas ele está ali. O mosquito está contaminado. Basta uma pessoa chegar ao local, sem ter tido nenhum tipo das doenças, que ela adoece”.
Esses descuidos, somados à época de chuva que acabou de começar no Nordeste, podem levar a um aumento ainda maior de casos nos próximos meses, alerta Pontes. “Com certeza haverá um aumento ainda maior”, diz ela. A região é mais sensível à proliferação dos mosquitos por questões climáticas e sociais. “O mosquito gosta de temperaturas altas e a região Nordeste tem isso o ano inteiro”, diz Pontes. Além disso, a falta de água em diversas cidades da região leva a população ao armazenamento, um berçário perfeito para as larvas. “Mesmo em lugares com abastecimento já regular, as pessoas fazem estoque em baldes, panelas, onde puderem. É o hábito”, diz Pontes. No inverno, além dos estoques dentro de casa, ainda chove muito, criando outros depósitos vulneráveis que acumulam água.
Por fim, Pontes lembra que, dada as condições ambientais ideais para a proliferação do mosquito, é preciso agir agora, antes que mais casos sejam registrados. "Não podemos esperar que os casos comecem a aparecer para iniciar uma campanha de combate ao mosquito", diz. "O momento é agora, precisamos evitar que os mosquitos se proliferem para minimizar o risco de um surto, principalmente neste momento onde teremos ocorrência de chuvas e depósitos vulneráveis que podem virar criadouros potenciais do Aedes". Manter as caixas d'água, barris e tonéis de água sempre fechados com tampas adequadas, cuidar de objetos que possam acumular água parada, como pneus, garrafas, pratinhos de plantas e não jogar lixo em terrenos baldios são algumas das formas de se prevenir a proliferação do mosquito.
Homem também cuida
Com o intuito de envolver os homens também no combate ao zika vírus, a ONG Instituto Papai criou a campanha Homem também cuida. A ação terá dois focos, o primeiro, nos homens para que se conscientizem sobre a transmissão da doença também via relação sexual e para que acompanhem as ações de combate às larvas dos mosquitos. O segundo foco será nos profissionais de saúde para que envolvam os homens em suas ações estratégicas de prevenção. O trabalho será realizado em Caruaru, a 135 quilômetros do Recife, situada no agreste pernambucano, a segundo região com maior incidência de casos.
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