Petrobras, uma gigante convalescente no centro do furacão eleitoral
Nova crise apanha a maior companhia brasileira em uma rota de recuperação. Temer diz que não vai mudar política de preços, mas pressão segue. Pré-candidatos se posicionam sobre tema
Dias antes de deixar a presidência da Petrobras, Pedro Parente autorizou um novo reajuste no preço da gasolina na quarta-feira. Era a continuidade de uma política instituída em julho do ano passado, de oscilação dos valores dos combustíveis de acordo com o mercado internacional. Foi também um teste. O aumento apenas três dias depois que o Governo Michel Temer determinara o congelamento do diesel por 60 dias, pressionado pelos caminhoneiros, era também uma pergunta: ele continuaria tendo carta branca de Temer para seguir sem interferências políticas com as regras para os demais combustíveis ou elas teriam ficado politicamente insustentáveis?
A resposta que Parente se deu veio nesta sexta, quando ele entregou sua carta de demissão e se descreveu como um "empecilho" para as discussões dos rumos da Petrobras e da política de preços, fazendo as ações caírem quase 15% em apenas um dia - se somando às demais quedas durante os dez dias de paralisação dos caminhoneiros. Tudo isso mergulha a empresa, a maior companhia do Brasil e que se começava a se despedir de quatro anos de maus resultados, em um mar de incertezas capaz de contaminar até a lenta recuperação econômica do país a apenas quatro meses das eleições presidenciais.
Parente deixou a Petrobras e, junto, reforçou incertezas no mercado que não devem ir embora tão cedo. O Conselho de Administração da estatal nomeou como CEO interino Ivan Monteiro, diretor-executivo da Área Financeira e de Relacionamento com Investidores da estatal. Momentos depois, Michel Temer, representando o Estado que é o acionista majoritário da Petrobras, fez um pronunciamento em Brasília para dizer que Monteiro era seu escolhido para permanecer no cargo, numa corrida para tentar minimizar a saída de Parente o quanto antes. Mais: apesar de já ter mudado na ponta a política para o diesel e de ter feito declarações dúbias a respeito, Temer fez questão de repetir publicamente que a política de preços flutuantes dos demais combustíveis está mantida.
Monteiro, a princípio, preenche os requisitos exigidos pelo antecessor. Em sua carta de demissão, enviada ao presidente Temer nesta sexta-feira, Parente havia pedido: “Permita-me, senhor presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa – que foi nesse momento gerida sem qualquer intervenção política – vossa excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos”, escreveu. Ivan Monteiro chegou à empresa em 2015, junto com o então presidente Aldemir Bendine, agora preso pela Operação Lava Jato. Parente quando chegou à estatal em 2016 decidiu mantê-lo no cargo estratégico, no que foi lido como um endosso do perfil técnico dele.
Pressão política segue
Apesar das declarações e da unção de Monteiro, as dúvidas permanecem porque a pressão para mudar o esquema do preço da gasolina segue vindo de todos os lados - em Brasília, do PT ao PSDB e ao presidente do Senado - e nas ruas. A principal crítica, que foi um dos estopins da greve dos caminhoneiros, é a grande oscilação e a falta de previsibilidade. Desde julho de 2017, o valor nas refinarias varia de acordo com o preço do barril e do dólar, uma inédita transmissão da cotação internacional. Se já causava desconforto, o problema explodiu de vez entre abril e maio, quando o preço do barril do petróleo voltou a subir, chegando agora a quase 80 dólares, algo que não ocorria há mais de três anos.
"A apropriação da Petrobras levou-a a exagerar na dose. Quando você se excede na dose, o remédio pode virar veneno. Os reajustes diários, desorganizando o dia a dia, gerou insatisfação", disse o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES), em debate no Senado com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, na terça. "A Petrobras foi arrogante, indiferente às circunstâncias", disse. Do outro lado, na bancada do PT, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN), dizia que “a política de preços adotada pelo governo Temer e pela gestão de Pedro Parente à frente da Petrobras não desprezou somente a realidade do transporte de cargas em nosso país, como também a realidade de milhões de brasileiros, que dependem da gasolina para se locomover e do gás de cozinha, para cozinhas os alimentos que as famílias consomem”. A imprensa dá conta que a insatisfação com a Petrobras abrange até pessoas muito próximas de Temer, como o ministro das Minas e Energia, Wellington Moreira Franco.
“A política de preço é importante, mas não dá para saber agora se o Governo vai manter”, avalia o economista André Perfeito. Ele frisa que a nova crise na estatal apenas coroa a má fase da economia e do próprio Governo. “O Banco Central não cortou a Selic na última reunião, a Eletrobras deixou de ser privatizada... Tudo isso em conjunto gera um mal-estar”, diz o economista. “A demissão de Parente vem para coroar esse momento. Se fosse só ele, estava até que tudo bem”.
A greve dos caminhoneiros foi tão devastadora e o peso da Petrobras é tamanho na economia brasileira que é difícil que os dois fatores não abalem o resultado do PIB brasileiro, como também o câmbio e até as eleições, prevê o economista. Isso em um momento em que a Petrobras surfava em uma boa onda, pela primeira vez em quase quatro anos. No último dia 10, a companhia havia retomado o posto da maior empresa brasileira de capital aberto, em meio à valorização das suas ações, fruto da alta nos preços do petróleo, e da divulgação do crescimento do lucro no primeiro trimestre deste ano.
No meio do furacão eleitoral
Seja como for, qualquer decisão de Temer sobre a Petrobras tem data de validade: dezembro de 2018. As decisões de maior longo prazo vão ficar nas mãos do próximo presidente. Assim como em 2014, mais uma vez a Petrobras está no olho do furacão destas eleições. Se naquela época, a estatal era o alvo dos presidenciáveis depois dos casos de corrupção desvendados pela Operação Lava Jato, agora a empresa tenta se reerguer tomando decisões impopulares. E os presidenciáveis sabem muito bem disso. Logo após a demissão de Parente, Geraldo Alckmin (PSDB), publicou em sua conta no Twitter que "precisamos definir uma política de preços de combustíveis que, preservando a empresa, proteja os consumidores". Considerando que o ex-presidente da Petrobras é um quadro próximo dos tucanos (foi ministro da Casa Civil de Fernando Henrique Cardoso) e que Alckmin é o que representa a defesa de uma bandeira econômica liberal na disputa, a crítica toma ainda mais relevância.
Em vídeo publicado no Facebook, o pré-candidato Ciro Gomes, do esquerdista PDT, diz que não basta apenas que Pedro Parente saia da Petrobras. "É preciso exigir que a política de preços que ele impôs seja trocada", diz ele, lembrando do aumento da gasolina nesta semana "no meio dessa crise".
Jair Bolsonaro (PSL), que lidera as pesquisas e normalmente não entra no debate sobre economia, não se pronunciou sobre a crise na estatal, mas já havia criticado a política de preços durante a greve dos caminhoneiros. Já o ex-ministro da Fazenda e pré-candidato do Governo à presidência, Henrique Meirelles (MDB), não se pronunciou sobre a crise na Petrobras, mas vem reforçando seu discurso debruçado sobre as reformas, que daria continuidade ao Governo Temer. "O caminho que defendo todos conhecem: reformas que tornem o país mais justo e produtivo e gestão de qualidade", disse ele, na quarta-feira, na mesma rede social.
André Perfeito pondera, porém, que a conduta de Meirelles não deve lhe render frutos. “O conjunto de coisas que vem acontecendo aponta para uma demanda da população menos pró-mercado”, diz Perfeito. “E os candidatos vão ter que se ligar nisso. Aqueles que pegarem as bandeiras da reforma vão queimar as mãos”.
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