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O segredo da convivência entre Donald e Melania Trump: distância

Presidente e sua esposa têm horários, rotinas e lazer diferentes. A primeira-dama dorme sozinha

Melania Trump, na segunda-feira, dia 7 de maio, na Casa Branca
Melania Trump, na segunda-feira, dia 7 de maio, na Casa BrancaAndrew Harnik (AP)
Antonia Laborde
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A fragrância misteriosa que emana Melania Trump pelos discursos que não pronuncia, as reuniões das que não participa e as mãos que não aperta, causou um progressivo interesse sobre o que faz enquanto não é vista. Quando a primeira-dama abandonou Nova York – ainda que sua conta pessoal do Twitter indique que mora lá – para se instalar na Casa Branca cinco meses depois do marido assumir a presidência dos Estados Unidos, desfez as malas em um quarto diferente do dele. O do mandatário, por pedido próprio, tem um trinco na porta. E não são só os quartos que estão separados. Também suas rotinas e tempo livre.

Uma das poucas histórias sobre Melania que Michael Wolff pôde descobrir para seu livro Fogo e Fúria — Por Dentro da Casa Branca de Trump revela o ânimo com que a eslovena chegou à casa de governo. Durante a campanha presidencial vazaram fotos da ex-modelo posando nua. Ela alertou seu marido-candidato que, se era esse o futuro que os aguardava, ela não o queria. Trump reagiu como Trump. Apesar do magnata estar certo do contrário, lhe respondeu que processariam a imprensa e lhe garantiu que tudo acabaria em novembro porque não havia a menor chance de ele ganhar as eleições. Quando os resultados foram conhecidos, Melania chorou. Wolff narra que não foram lágrimas de alegria.

Um artigo recente publicado pelo The Washington Post sobre a vida íntima da primeira-dama descreve o mundo paralelo que ela construiu na Ala Leste da Casa Branca. Acorda mais tarde do que Trump – que às 5h30 já está com suas três televisões ligadas e o Twitter aberto – e prepara seu filho Barron, de 12 anos, para ir ao colégio. Em sua ala só trabalham nove empregados, menos da metade dos que tinham Michelle Obama e Laura Bush. De acordo com uma reportagem da VanityFair, os funcionários permanentes adoram a primeira-dama. Às vezes abandona seu escritório e vai ao outro lado da Casa Branca onde está o Salão Oval e o de sua enteada mais velha, Ivanka Trump. “Poucas vezes coloca os pés na Ala Oeste”, contou à publicação norte-americana uma pessoa com conhecimento em primeira mão. Segundo o The Washington Post, Trump detesta que Melania venha ganhando popularidade entre os norte-americanos enquanto ele só cai nas pesquisas. Os últimos dados dão a ela 57% de aprovação popular e a ele, 42%. Não consegue a maioria na aprovação.

A Ala Leste está aberta ao público cinco dias por semana como parte da visita à Casa Branca. Mas Melania não se deixa ver. Seu oximoro, Jackie Kennedy, chegou a ser ela mesma “a guia do tour”. Em 1962, em uma iniciativa sem precedentes, a à época primeira-dama explicou aos norte-americanos em televisão aberta cada espaço da casa de governo que com tanta dedicação havia redecorado. Mas uma coisa ambas dividem. Viver sob a nuvem de supostas infidelidades.

Em 2018, Trump enfrentou a acusação da ex-atriz pornô Stormy Daniels, que diz ter recebido 130.000 dólares (470.000 reais) pouco antes das eleições de 2016 como parte de um acordo com os advogados do à época candidato para manter em silêncio seus encontros sexuais. Quando a notícia explodiu, a primeira-dama cancelou seus planos para viajar com seu marido ao Foro Econômico Mundial em Davos. Depois foram vistos chegando em carros separados ao discurso de Estado da União.

Os Trump, até mesmo quando têm tempo livre, funcionam de maneira autônoma. Ele joga golfe. Ela, não se sabe. Ele janta com empresários e políticos. Ela, não se sabe. Ele publica no Twitter tudo o que ele pensa. Ela, não se sabe. Segundo vários assistentes atuais e anteriores, o casal frequentemente faz as refeições separado. Stephanie Grisham, a assessora de Melania, contradisse essa versão. Afirmou que comem juntos durante as viagens e de noite. Trump, entretanto, não tem muito tempo livre. Deixou isso claro no recente aniversário de 48 anos de sua esposa, a quem não comprou um presente por estar “muito ocupado”.

O hermetismo da primeira-dama, que se livra das entrevistas como quem sacode a água de um guarda-chuva, deu espaço a especulações sobre o porquê. Ivana Trump, a primeira esposa do mandatário, com quem dividia a paixão pelos negócios, narrou em seu recente livro Raising Trump (Criando os Trump): “Em nosso casamento não podiam existir duas estrelas, de modo que uma precisou ir embora”. Peter Slevin, autor de Michelle Obama. A Life (Michelle Obama. Uma Vida) e veterano do jornal Washington Post, afirma que a diferença com a ex-primeira-dama é que os próximos a ela diziam que era a pessoa mais estrategista que conheciam. Fixava objetivos, tinha um plano, nada parecido ao que mostra Melania, que lançou Be Best (Seja Melhor), a iniciativa em que trabalhará, 16 meses após assumir seu papel.

A imagem borrada construída por Melania pode ser frustrada, de acordo com Slevin. “Honestamente não sei se tem uma estratégia, eu não a vejo. Mas realmente não sabemos, pode ser que sim, mas ela não nos diz e não sabemos a quem perguntar”, explica o escritor e acrescenta que praticamente não tem experiência em público. Talvez a filha de uma modista e de um vendedor comunista da antiga Iugoslávia simplesmente não fique confortável indo dançar no The Ellen DeGeneres Show como Michelle Obama, muito menos sendo a primeira-dama dos Estados Unidos. Mas, como é costume com ela, não se sabe.

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