Temer reage aos inquéritos mandando investigar seus investigadores
Decisão surge após jornal revelar que PF suspeita que o presidente tenha lavado dinheiro com reformas e compras de imóveis para familiares
Em reação ao aprofundamento dos inquéritos policiais contra si, o presidente Michel Temer (MDB) determinou que os investigadores da Polícia Federal que trabalham no caso do decreto dos portos passem a ser investigados por vazarem as informações à imprensa. Nesta sexta-feira, em um pronunciamento a jornalistas Temer afirmou que sugeriria ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, que abrisse uma apuração interna para saber de que forma repórteres tem acesso aos detalhes das investigações contra ele. Horas depois dessa fala, Jungmann anunciou a abertura dessa apuração.
A fala à imprensa que cobre o dia a dia do Palácio do Planalto foi motivada por uma reportagem da Folha de S. Paulo na qual Temer é apontado como suspeito de ter lavado dinheiro de propina por meio de reforma de imóveis e por dissimulação de transações imobiliárias envolvendo alguns de seus familiares – entre eles sua mulher, Marcela Temer, sua sogra, Norma Tedeschi, e seus filhos, a psicóloga Maristela e o estudante Michel, de apenas nove anos de idade.
As informações publicadas pelo jornal se basearam em um inquérito da Polícia Federal. Uma das linhas de apurações da PF mostram que Temer teria recebido 2 milhões de reais em propina no ano de 2014 por intermédio de um colaborador de suas campanhas eleitorais, o ex-coronel da Polícia Militar João Baptista de Lima Filho. Os valores teriam sido pagos pelas empresas JBS e Engevix, ambas investigadas no âmbito da operação Lava Jato. Tanto o presidente quanto o policial negam os delitos.
Em nota o ministro Jungmann ressaltou que os responsáveis pelo vazamento podem sofrer sanções administrativo-disciplinar, cível e penal. “No Estado democrático de direito, não é admissível comprometer o legítimo direito de defesa e a presunção de inocência de qualquer cidadão ou do senhor presidente da República”, disse a nota.
Em seu pronunciamento, o presidente afirmou que a suspeita da PF é um disparate e que ele se tornou “vítima de uma perseguição criminosa disfarçada de investigação”. Temer decidiu discursar porque se irritou ao ver os nomes de sua mulher e filhos divulgados. E isso ficou claro em seu pronunciamento. “Só um irresponsável, mal-intencionado, ousaria tentar me incriminar, a minha família, minha filha, meu filho, de nove anos de idade, como lavadores de dinheiro”, disse em tom duro. E complementou em outro momento: “se pensam que atacarão minha honra e da minha família e vão ficar impunes, não ficarão sem resposta”. O presidente ainda reclamou que seus advogados não têm acesso aos autos da investigação, mas a imprensa tem.
Dentro desse inquérito dos portos, a psicóloga Maristela Temer foi intimada a prestar depoimento na próxima semana. A PF suspeita que uma das reformas feitas em sua casa ocorreu como lavagem do dinheiro de propina.
Em nota, a Associação dos Delegados da Polícia Federal afirmou estar preocupada com o pronunciamento do presidente, apesar de também defender a apuração dos vazamentos. “É muito comum que investigados e suas defesas busquem, por todos os meios, contraditar as investigações. Entretanto, é necessário serenidade, sobretudo daquele que ocupa o comando do país, para que suas manifestações não se transformem em potenciais ameaças e venham a exercer pressão indevida sobre a Polícia Federal”, diz trecho do documento.
Histórico de escândalos
Desde que assumiu o Palácio do Planalto, em maio de 2016, em substituição à Dilma Rousseff (PT), que sofreu impeachment, o presidente não passa um mês sem ter de dar explicações sobre investigações contra si ou seus principais ministros. Foi o primeiro presidente denunciado pelo Ministério Público Federal durante o cumprimento de seu mandato. Mas, com a ajuda do Congresso Nacional, conseguiu postergar até janeiro de 2019, quando ele deixar o Planalto, o andamento de duas denúncias criminais pelos delitos de corrupção, organização criminosa e obstrução de justiça.
No Supremo Tribunal Federal ainda tramitam duas investigações contra o presidente. O que apura se o presidente assinou um decreto para favorecer empresas do porto de Santos em troca de propinas. E outro em que ele é suspeito de ter recebido 10 milhões de reais da Odebrecht como caixa dois nas eleições de 2014.
Há exatamente uma semana, o presidente aproveitou que faria um tradicional pronunciamento da véspera do Dia da Inconfidência para defender a si e a sua gestão. Se comparou a herói nacional Tiradentes e disse que um dia seu governo seria reconhecido. Disse o emedebista: “É fácil bater no Michel Temer. É fácil bater no governo. É fácil só criticar. Quero ver fazer. Quero ver conquistar. Quero ver construir e realizar o que nós conseguimos avançar em tão pouco tempo. A torcida organizada pelo fracasso tenta bater bumbo. Tenta perder o jogo todos os dias”.
Apesar dos discursos enfáticos e levando em conta a quantidade de suspeitas que ainda pesam contra si, possivelmente, Michel Temer ainda terá de ocupar algumas tribunas e canais oficiais para seguir se defendendo.
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