FMI: mundo vive risco de recaída ao cenário da crise de 2009 com escalada da dívida global
Fundo detecta sinais parecidos aos da gestação da crise financeira, com o planeta 12% mais endividado que naquele ano. China teve 43% do incremento da dívida desde 2007
Os bons tempos não vão durar para sempre. É a mensagem que repete o Fundo Monetário Internacional (FMI) olhando a vulnerabilidade mais notável que vive, neste momento, a economia e o sistema financeiro: a dívida global, tanto pública como privada. Está a um nível historicamente muito alto e um ajuste repentino nas condições financeiras, adverte, vai colocar em perigo o crescimento até o ponto de detonar uma nova recessão.
A reflexão é simples. Esta alavancagem – jargão financeiro para definir endividamento — pode se transformar em um verdadeiro problema e provocar fortes tensões se as taxas de juros subirem conforme o avanço do processo de normalização da política monetária e as condições financeiras se restringem. Como assinala o FMI, dá-se a circunstância de que há economias muito endividadas que, além disso, têm um perfil de crescimento menor que antes da passada crise.
“Está-se perfilando uma dinâmica mais própria do fim do ciclo de crédito”, reconhecem os técnicos do organismo, “remanescente do período de gestação da crise” financeira causada pela bolha imobiliária em 2009. Tobias Adrian, principal conselheiro financeiro do FMI, adverte que no palco mais adverso é possível que se produza “um crescimento negativo” em um prazo de três anos. É uma possibilidade, em todo caso, ainda longínqua, assinala.
A dívida global chega a 164 trilhões de dólares, segundo dados de 2016. Isso equivale ao 225% do produto interno bruto mundial. O planeta está 12% do PIB mais endividado que no anterior máximo em 2009. A China é uma força maior, com 43% do incremento desde 2007. A dívida pública também desempenhou um papel importante nesta escalada, pelas medidas de resposta à recessão.
O relatório de estabilidade financeira adverte que a persistência da frouxidão monetária está provocando um aumento das vulnerabilidades no médio prazo, pela acumulação de ativos de dívida vinculada às empresas. Na semana passada, já advertiu de que as emissões de bônus corporativos dispararam. O FMI assinala que a volatilidade observada desde fevereiro nos mercados é reflexo de que os riscos ficaram ligeiramente mais agudos no curto prazo. No médio prazo, acrescenta, “são elevados”.
Incerteza
O fato de que a tensão recente em Wall Street e outros centros financeiros não provocasse transtornos maiores, segundo Adrian, “não deveria servir de grande consolo”. “Os investidores e as autoridades devem estar atentos aos riscos vinculados à alta das taxas de juro e ao acréscimo da volatilidade”, insiste. As tensões comerciais e um incremento do protecionismo trazem uma incerteza adicional.
As economias emergentes e em desenvolvimento estão especialmente expostas a este risco derivado de um eventual endurecimento repentino das condições financeiras. A China é um ponto principal de preocupação, por seu tamanho. Embora aplauda que as autoridades estejam adotando medidas para fazer frente a este risco, qualifica as vulnerabilidades de seu setor financeiro de “agudas”.
Estas vulnerabilidades, alerta, “poderiam pôr em perigo o crescimento”. “Conforme os bancos centrais continuem normalizando a política monetária”, insiste, “as vulnerabilidades financeiras pressagiam um caminho cheio de solavancos pela frente”. Esta alavancagem, explica, não fará mais que amplificar o impacto dos choques no sistema financeiro e no conjunto da economia.
A marcha da inflação será chave a partir agora. O FMI não sabe dizer como responderão os preços aos estímulos fiscais nos Estados Unidos, onde o processo de normalização está mais avançado. “Mas se a inflação sobe mais rápido que o previsto”, adverte, “os bancos centrais poderiam responder com mais firmeza e produzir uma forte contração das condições financeiras”.
Transição
O FMI insiste, portanto, que a economia global enfrenta “um momento de transição crítico” conforme se normaliza a política monetária. O reto é que essa transição se faça da maneira mais suave possível. Para dissipar os riscos ao máximo, o Fundo recomenda aos bancos centrais que o avanço no processo se faça de uma forma gradual e se comunique a estratégia com clareza.
Em paralelo, pede às autoridades que abordem os riscos no setor não bancário e que sigam adiante com as reformas em marcha depois da crise, reforcem os balanços dos bancos mais débeis e resolvam os problemas de liquidez de algumas instituições que operam em escala internacional. “Uma turbulência repentina poderia deixar expostos esses desajustes e cristalizar problemas de financiamento”, adverte.
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