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De quem é o milhão e meio de euros sob a Fontana di Trevi?

Prefeitura de Roma estuda o que fazer com as moedas que os turistas lançam na fonte, até agora destinadas à Caritas

A Fontana di Trevi, em Roma, em 4 de janeiro de 2016.
A Fontana di Trevi, em Roma, em 4 de janeiro de 2016.ROBERTA MARROLLO (EFE)

Todos os dias praticamente a qualquer hora há um viajante em Roma lançando uma moeda na Fontana di Trevi. A maioria faz como manda a tradição: de costas para o monumento, com os olhos fechados e pensando em um desejo. Alguns pedem para voltar à Cidade Eterna, outros, encontrar o amor, e muitos simplesmente expressam um anseio fortuito. Juntando tudo, sem ter essa intenção, deixam sob as águas da fonte uma pequena fortuna coletiva. O tesouro é destinado à Caritas, que desde 2001 o investe em ações beneficentes. E continuará fazendo isso pelo menos até o final deste ano, mas depois a Prefeitura de Roma pretende destinar o montante a outros fins.

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Quando passa a maré de turistas e curiosos, de madrugada, enquanto o imponente Netuno e seus cavalos marinhos se espreguiçam na solidão, um grupo de operários da Prefeitura recolhe o tesouro com um aspirador. Em 2016, segundo o último relatório da Caritas, foi arrecadado quase um milhão e meio de euros (6 milhões de reais). O uso que será dado às próximas coletas é incerto. Desde outubro, a Prefeitura e a entidade beneficente da Conferência Episcopal Italiana andam às voltas com esse assunto. A Câmara Municipal decidiu que em 1 de abril terminaria o histórico convênio e o dinheiro seria utilizado diretamente pela Prefeitura para “financiar projetos de assistência e solidariedade”. Na quarta-feira, a apenas três dias de o prazo expirar, a prefeita de Roma, Virginia Raggi, deu um passo atrás e prorrogou o acordo com a organização até o final deste ano. Enquanto isso, um grupo de trabalho estudará o que fazer e como repartir o tesouro da fonte. Nos últimos dias, a Caritas e a Prefeitura estão mantendo reuniões para buscar uma solução. Ambos rejeitaram dar declarações até que a decisão seja definitiva.

O montante que todo ano sai das águas da Fontana di Trevi se traduziu até agora em camas em albergues para as pessoas sem teto, almoços e jantares em refeitórios de caráter social, cobertores para quem dorme na rua e roupa e produtos de primeira necessidade para os pobres. A Caritas sustenta na capital uma ampla rede de serviços de atendimento de pessoas em risco de exclusão social. Entre eles se destacam os chamados “supermercados da solidariedade”, distribuídos pela capital –nos quais as pessoas sem recursos podem fazer a compra de forma gratuita–, centros de orientação e formação para desempregados, espaços de auxílio e companhia para idosos e assistência à saúde em domicílio para doentes com aids.

Funcionário da Prefeitura de Roma recolhe algumas das moedas jogadas na Fontana di Trevi, em 2 de maio de 2011.
Funcionário da Prefeitura de Roma recolhe algumas das moedas jogadas na Fontana di Trevi, em 2 de maio de 2011.LUCIANO DEL CASTILLO (EFE)

Especialmente nos dias da Semana Santa, nos quais milhares de visitantes enchem as ruas de Roma, o rendimento da famosa fonte continua aumentando. Entre todas as atrações da cidade, a Fontana é uma das mais populares. Recebe 450.000 visitas por mês, em média, e 1.200 pessoas se detêm a cada hora diante dela nos momentos de máxima afluência, segundo o portal de Turismo da Prefeitura.

Como Laura Galeano e Sergio Teodoro, que vieram de Madri de férias. Acabam de jogar sua moeda na água em meio a um enxame de turistas que fazem o mesmo, alheios à chuva. “Se as pessoas dão desinteressadamente este dinheiro de seu sonho, com a esperança de que se cumpra um desejo e, além disso, ele servir para ajudar quem precisa dele, tanto melhor. A Prefeitura já tem o suficiente com os impostos para cobrir suas despesas”, diz Galeano. “A princípio, pensei o contrário. Vi algumas ruas que estão de dar pena. Se o investirem em limpeza, também não estaria mal. Um pouco para cada coisa”, replica Teodoro. A poucos metros, Alba Elena faz a foto de praxe com seu grupo de amiga de Salamanca depois de realizar o ritual da moeda. Juntas, comentam: “O problema seria se o dinheiro que a Prefeitura recolhe não for para a cidade ou outras necessidades. Se agora se sabe que vai para a Caritas, está bom.”

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