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Guerra comercial e criptomoedas pautam primeiro encontro do G20 na América Latina

Primeira reunião dos países mais poderosos organizada pela Argentina abordará o futuro do trabalho, as criptomoedas e a tributação internacional

Carlos E. Cué

O primeiro G-20 realizado em um país sul-americano começa nesta segunda-feira em Buenos Aires com um grupo de países emergentes apostando em se abrir mais enquanto vê com preocupação a guerra comercial se acirrar entre as grandes potências do primeiro mundo, especialmente entre os Estados Unidos e a União Europeia. A primeira reunião dos ministros das Finanças e dos presidentes dos bancos centrais que prepara a grande conferência de cúpula dos líderes em novembro acontecerá com essa grande sombra do protecionismo de Donald Trump que está provocando a reação da União Europeia.

O ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, abre a 10ª Conferência IIF - G-20 no domingo, 18 de março, em Buenos Aires
O ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, abre a 10ª Conferência IIF - G-20 no domingo, 18 de março, em Buenos AiresReuters

A presidência da Argentina, um dos países mais fechados do mundo que agora aposta em mais abertura, concebeu um G-20 centrado em corrigir os desajustes da globalização e os problemas decorrentes da crescente influência do mundo digital, especialmente com a regulação das criptomoedas, que ninguém ainda conseguiu controlar e que já estão movendo enormes fortunas, e a busca de soluções para conseguir taxar internacionalmente os lucros das empresas que operam exclusivamente na internet e conseguem contornar as legislações nacionais. São esperados avanços em relação às criptomoedas, que alguns ministros da Economia já têm como prioridade.

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A agenda está repleta de questões de fundo, como o futuro do emprego face ao aumento da robotização, ou os projetos para acabar com as disparidades globais em relação às infraestruturas. Mas a guerra comercial está tão presente na atmosfera que antecede a cúpula de Buenos Aires, que, como de costume no G-20, será a portas fechadas, que parece impossível que a batalha entre os EUA, os grandes países europeus e a China, agora grande defensora do livre comércio, não domine as duas jornadas.

Nos dias anteriores, vários participantes, incluindo a diretora do FMI, Christine Lagarde, que chegou há alguns dias a Buenos Aires, mostraram sua preocupação com uma guerra comercial que pode deter a incipiente recuperação do mundo depois da duríssima crise de 2008. “Estamos vendo um processo de toma lá dá cá [na guerra comercial]. Assim não conseguiremos nada. É uma luta constante. Isso leva a conflitos potenciais e reduzirá o comércio e o crescimento. Não melhorará a vida daqueles que têm baixos rendimentos nesses países”, disse a ex-ministra francesa na Universidade Di Tella, em Buenos Aires.

O Governo argentino encara uma grande prova de fogo internacional em um momento em que a inflação não cede – começou o ano pior do que 2017, algo que não era esperado, e caminha para superar os 20% ao ano –, mas o crescimento voltou e os ministros macristas destilam otimismo. “A Argentina passou da suspensão de pagamentos a presidir o G-20, é uma mudança importante. Continuamos sendo o país mais fechado do mundo, mas estamos mudando, só a eliminação de impostos sobre as exportações que fizemos nos custou 2% do PIB”, diz Nicolás Dujovne, ministro da Fazenda. Ele não quer se mostrar muito preocupado com a onda protecionista e acredita que o G-20 se concentrará na agenda prevista. “No momento há muito barulho, mas não um movimento generalizado de protecionismo. Mas se isso crescer em todo o mundo teríamos um impacto. Haveria menos crescimento”, admite.

Os organizadores tentarão se concentrar em questões de fundo, mas menos espinhosas do que a guerra comercial, que ninguém sabe como enfrentar. O eixo será as novas formas de economia decorrentes da globalização, e especialmente a busca de um acordo internacional para evitar que as chamadas fin-tech, as empresas que obtêm todos os seus lucros no mundo digital e em escala global, consigam escapar dos impostos que as empresas tradicionais pagam. “O canal de finanças abordará as questões fundamentais sobre como a economia digital gera valor, onde se cria valor e como os impostos podem ser arrecadados de maneira equitativa, eficiente e efetiva sem criar barreiras à inovação”, observa a apresentação da reunião.

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