_
_
_
_

Argentina recupera duas torcidas no clássico Boca e River

Decisão da Supercopa foi um experimento bem sucedido pelo fim da torcida única no futebol argentino

Torcidas de River e Boca estiveram juntas na decisão em Mendoza.
Torcidas de River e Boca estiveram juntas na decisão em Mendoza.AFP/EFE

River Plate x Boca Juniors. Boca Juniors x River Plate. O clássico de sempre. Que a cada partida escreve uma página na rica história da rivalidade. Esse ódio, desta vez, não cruzou a fronteira do folclore e, apesar de alguns incidentes isolados, não houve brigas nem grandes confusões. De certa forma, pode-se dizer que a decisão da Supercopa vencida pelo River por 2 a 0 foi um triunfo do futebol que há muito tempo não se via na Argentina. Jogaram rivais, não inimigos. E o River ganhou porque teve mais coração que seu rival, componente fundamental na hora de disputar um troféu. Assim, o time millonario se vingou, 42 anos depois de duelarem pela última vez em uma final.

Mais informações
“Liberem os sinalizadores”: a cruzada das torcidas pelo resgate da festa nos estádios
Fair play financeiro, uma realidade distante do futebol brasileiro

Além do jogo e do resultado, o fato de as duas maiores torcidas da Argentina voltarem a dividir as arquibancadas de um estádio, ainda que fora de Buenos Aires, soa como uma redenção para o esporte local. O Superclássico desta quarta-feira foi uma prova de fogo para que as autoridades voltem a permitir público visitante nos jogos de futebol.

Ao pé da cordilheira dos Andes, a quase 1.000 quilômetros da capital federal, as estradas de Mendoza receberam esquema especial de vigilância antes e depois da partida. O deslocamento de torcedores para a quarta cidade mais importante da Argentina se transformou em uma questão de Estado. Desde a sexta-feira passada, o Ministério da Segurança deslocou parte de seu efetivo para Mendoza. O órgão centralizou uma operação que envolveu 1.500 policiais, em conjunto com cinco províncias, para controlar as rotas que separam a terra “do bom sol e do bom vinho” de Buenos Aires.

O fluxo de pessoas na cidade começou a aumentar uma semana antes do clássico. Os ônibus misturaram lobos solitários das torcidas de Boca e River, que, sem provocar intrigas, compartilharam mesas de bar e cervejas. As companhias aéreas aproveitaram a ocasião – e a mobilização – para inflar o preço das passagens. Um voo que em época normal custaria entre 2.500 e 4.000 pesos (cerca de 500 reais) saiu por 10.000 pesos (quase 1600 reais), o mesmo valor que dois voos para o Rio de Janeiro. Os poucos assentos disponíveis na véspera do jogo tinham escala em Santiago, no Chile, e uma espera de 12 horas. No entanto, Mendoza vestiu-se com as cores mais populares da Argentina e, desde segunda-feira, grupos de torcedores rivais se cruzavam nas ruas cantando e festejando. A bomba-relógio que poderia anunciar uma briga generalizada acabou desarmada pela forte presença de famílias que encaravam a partida como um passeio.

Fazia muito tempo que o Superclássico não tinha duas torcidas, um velho costume que dá ao futebol argentino um contorno especial, que muitas vezes se impõe à qualidade dos jogos entre Boca e River. A necessidade de novos anunciantes faz com que os dirigentes da Superliga argentina pressionem o governo e as forças de segurança pela volta das torcidas visitantes aos estádios. O Superclássico de Mendoza marcou a estreia do programa Tribuna Segura 2.0. Pela primeira vez na história do país, um estádio teve wifi disponível em todos os seus setores. Assim, o Ministério da Segurança pode implementar o reconhecimento facial dos torcedores, que se soma ao controle por RG que, em mais de um ano, já restringiu o acesso a 1.141 barra bravas e prendeu 286 indiciados em 531 operações.

“A Superliga está trabalhando para ter outro perfil de torcedor. Não é o mesmo que foi ao clássico, e o modelo de torcidas visitantes que temos em mente é outro, não este [de Mendoza, com divisão meio a meio]”, advertiu ao EL PAÍS o diretor da área de eventos esportivos do Ministério da Segurança, Guillermo Madero. “Queremos um torcedor monitorado desde a compra do ingresso, passando pelo acesso e o controle de identidade, até chegar às arquibancadas, em um estádio seguro e onde todos estejam sentados. É um trabalho progressivo”, enfatizou, antes de fazer uma recomendação: “A organização do futebol precisa ter maior investimento em segurança”. Não há dúvidas de que o êxito do clássico democrático em Mendoza pode acelerar ainda mais o processo pelo fim da torcida única na Argentina.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_