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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Berlusconi e o triste milagre do programa sem números

Em comparação com as 177 páginas do plano de governo da coalizão alemã, o da centro-direita italiana possui somente 12 e não tem nenhum número

Andrea Rizzi
O líder do Força Itália, Silvio Berlusconi, em Roma na sexta-feira, 2 de março
O líder do Força Itália, Silvio Berlusconi, em Roma na sexta-feira, 2 de marçoALBERTO PIZZOLI (AFP)
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Alemanha 177, Itália 12. Não é o resultado de um terrível confronto esportivo, mas a comparação da extensão dos documentos que fundamentam o acordo de governo entre democratas-cristãos e socialdemocratas alemães, e o plano de ação da coalizão de centro-direita italiana (Força Itália, Liga, os pós-fascistas do Irmãos da Itália e um pequeno grupo democrata-cristão), favorita nas eleições de domingo.

A diferença de tamanho por si só ilustra a grave indefinição do projeto de governo conservador na Itália, mas não é o sintoma mais inquietante. O pior é, sem dúvida, que nessas 12 folhas os únicos números sejam os da paginação. E mais, só há um “116”, em referência a um artigo da Constituição. Dessa forma, a principal promessa eleitoral da coalizão, uma radical reforma do sistema fiscal que introduziria “um imposto único para famílias e empresas” não menciona algo tão básico como o nível em que seria fixado. Se em 15%, como pretende a Liga, ou 23%, como sugere o Força Itália (FI).

O exemplo serve para ilustrar a indefinição e as contradições internas da coalizão que provavelmente sairá vencedora da disputa eleitoral de domingo. Existem pelo menos quatro ordens de conflito interno. A primeira, sobre a liderança. O FI propõe Antonio Tajani, atual presidente da Eurocâmara, como primeiro-ministro, enquanto a Liga sugere seu próprio chefe, Matteo Salvini. O partido que conseguir mais votos escolherá. Em segundo lugar, a contradição entre os instintos autonomistas anti-sul das bases nortistas da Liga — que permanecem apesar dos esforços de seu líder para transformá-lo em um partido de implantação nacional ao redor da ideologia nacionalista e xenófoba — e, por outro lado, as amplas bolsas de votos do Força Itália no Sul e dos pós-fascistas (outros membros do grupo) no centro. Em terceiro lugar, a visão da Europa, com projetos de revisão radical de tratados por parte da Liga e uma posição mais continuísta e pragmática do FI. Por último, a forte diferença entre os elementos mais moderados que militam no FI (que mantiveram de pé um Governo do Partido Democrático durante o último mandato) e as alas mais extremistas da Liga e dos pós-fascistas.

O Movimento 5 Estrelas tem, por sua vez, um programa bem detalhado e até indicou quem seriam os ministros responsáveis por ele no caso de uma vitória. Os especialistas concordam em indicar que as promessas contidas no programa provocariam um autêntico rombo nas contas públicas. Os líderes do M5S afirmam, entretanto, que, mesmo pretendendo uma margem maior de manobra fiscal, não são partidários de déficits descontrolados.

O PD apresenta, por sua vez, um programa bem ortodoxo, que é razoável pensar que seria o preferido de Bruxelas (em relação a conteúdo e executores), mas, levando em consideração as pesquisas, pouco inspirador à maioria dos italianos.

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