_
_
_
_
_

A praça de Paris mais cobiçada pelos ladrões

Place Vendôme, lugar onde nesta semana roubaram uma joalheria, já sofreu numerosos assaltos

Silvia Ayuso
Carro patrulha frente da entrada do Hotel Ritz na place Vendôme de Paris
Carro patrulha frente da entrada do Hotel Ritz na place Vendôme de ParisIAN LANGSDON (EFE)
Mais informações
O túnel de 4 milhões de reais que seria usado no maior assalto a banco do Brasil
Paraguai suspeita que assalto de 120 milhões de reais foi obra do PCC

Se alguma coisa ficou demonstrada no roubo desta semana em uma joalheria do Ritz de Paris, é que os assaltos de filmes não são uma fantasia de Hollywood, e estão bem longe disso. A place Vendôme, onde se situa o luxuoso hotel cinco-estrelas assaltado, o mesmo de onde há 20 anos a princesa Diana de Gales saiu para morrer pouco depois em um acidente de trânsito e onde também viveu e faleceu, em 1971, Coco Chanel, não é alheia a esse tipo de roubo. A praça de calçamento de pedra abriga algumas das lojas de joias e moda mais exclusivas do mundo em uma área central de Paris conhecida por seu comércio de luxo extremo. E muitas delas foram vítimas, nos últimos anos, de assaltos tão ou mais espetaculares — e bem-sucedidos — do que o ocorrido recentemente.

Porque pelo menos neste último assalto as autoridades puderam recuperar todo o butim, que chega a cerca de quatro milhões de euros (cerca de 16 milhões de reais), e têm em mãos três dos cinco ladrões. A captura dos restantes é praticamente uma questão de tempo. Os cinco entraram na tarde da quarta-feira no vestíbulo do hotel encapuzados e armados com machados com os quais quebraram as vitrines cheias de joias e de relógios de alto luxo, e depois encheram suas sacolas.

As coisas se complicaram na saída, quando viram sua via de escape bloqueada por três agentes da polícia rapidamente alertados. Conseguiram entregar o butim a dois de seus cúmplices, que, segundo os relatos da imprensa francesa, fugiram em veículos separados, uma moto e um carro que horas mais tarde foi achado carbonizado em Val d’Oise, nos arredores de Paris.

Os detidos são oriundos da região parisiense e beiram os trinta anos. São “velhos conhecidos da polícia por assaltos à mão armada, violência e acobertamento”, disse uma fonte policial à mídia francesa. Na quinta-feira à noite foi confirmado que a totalidade do roubo tinha sido recuperada.

Em uma cidade que acaba de relembrar o terceiro aniversário dos ataques terroristas ao semanário Charlie Hebdo e a um supermercado judeu, que provocaram uma vintena de mortes no começo de um ano de atentados jihadistas que resultaram em mais de cem mortos em toda a França, alguns dos clientes do Ritz que se encontravam no momento do assalto nas instalações do hotel pensaram que se tratasse de um novo atentado.

Foi o que pensou o escritor Frédéric Beigbeder, que estava tomando um drinque no bar Hemingway do Ritz — o hotel também era o favorito do Nobel de Literatura norte-americano — quando os assaltantes, que ao que parece entraram no estabelecimento por uma porta traseira vestidos como pintores, irromperam no local e instaram os clientes a ir embora. “Achei que fosse um atentado terrorista (...) todo mundo começou a correr na direção da saída”, relatou a Le Figaro.

Apesar de sua espetacularidade, o assalto no Ritz não é nem o mais original nem o mais custoso dos roubos sofridos nessa luxuosa praça de Paris, atacada várias vezes nos últimos 15 anos. E mesmo sendo também a sede do Ministério da Justiça. De fato, em 2014 as lojas da praça — onde se sucedem joalherias como Cartier e Chopard, relojoarias como Rolex e Patek Philippe, além de butiques como Chanel e Louis Vuitton — tiveram de aumentar as medidas de segurança depois de sofrerem, em menos de sete meses, cinco roubos à mão armada que representaram perdas entre 420.000 e 2 milhões de euros (cerca de 1,7 milhão e 8 milhões de reais), lembrava esta semana Le Parisien.

Talvez precisamente por isso, porque esse tipo de roubo já não é tão extraordinário, a vida retomou rapidamente seu curso na place Vendôme e arredores. O próprio Beigbeder conta que, quando soube que não era um atentado, mas um assalto, retornou ao bar — havia se escondido em um banheiro — para terminar seu coquetel. “Acabei de tomar meu Moscow mule, mas disse a uma garçonete que não tinha o mesmo gosto, estava picante demais. Todo mundo começou a rir, mas não era uma piada, meus olhos e nariz ardiam”, relatou o escritor. “Ela me respondeu de um modo extraordinário: ‘o chef Colin Field não se engana jamais em seus coquetéis, o que o senhor sente é o gás lacrimogêneo usado pela Polícia”.

Os assaltos mais suculentos da place Vendôme

Outros roubos na mesma exclusiva praça parisiense foram mais suculentos ainda que o do Ritz. O jornal Le Parisien lembrou nesta semana mesmo que desde o ano 2000 a área foi alvo de dezenas de assaltos. E citou alguns dos mais espetaculares, como o sofrido pela suíça Chopard em maio de 2009, quando um homem levou em um assalto à mão armada um butim de 6,8 milhões de euros (27 milhões de reais). É o mesmo profissional — que está cumprindo pena de prisão por vários roubos — que em 2005 cometeu outro assalto na joalheria Fred, na mesma Place Vendôme, um estabelecimento que três anos antes tinha sofrido outro chamativo roubo em que dois homens armados com gás lacrimogêneo e martelos com os quais destruíram as vitrinas levaram joias no valor de 5,5 milhões de euros (22 milhões de reais). Não fazia nem um ano desde o último assalto na zona, em 23 de maio passado na joalheria Buccellati, a uma centena de metros do Ritz, quando os ladrões levaram um butim de cinco milhões (20 milhões de reais).

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_