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Séries de televisão
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

‘Black Mirror’: todos os episódios, organizados do pior para o melhor

Classificamos os 19 capítulos da antológica série, da primeira à quarta temporada. Sem dúvida, apesar de talvez não ser necessário lembrar, a lista é subjetiva e aberta a discussões

Não há outra série de TV como Black Mirror na televisão. Sabemos disso desde que esta antologia de ficção científica sobre tecnologia e comunicação no século XXI estreou em 2011 no canal britânico Channel 4. Era a herdeira de The Twilight Zone. A criação de Charlie Brooker – contida, real, provocadora e direta – não tardou a se tornar um fenômeno e ganhar todo tipo de público. Em 2016 deu um salto internacional com sua terceira temporada com seis episódios, graças à plataforma digital Netflix. A quarta temporada chegou quando 2017 estava prestes a se despedir, com outros seis episódios independentes e muito distintos (embora conectados entre si). Chegou a hora de olhar para trás e fazer uma classificação de todos os 19 capítulos da série, organizados do pior para o melhor (sempre levando em conta que até os piores superam com folga a maior parte de qualquer outra ficção). Sem dúvida, apesar de talvez não ser necessário lembrar, a lista é subjetiva e aberta a discussões.

19. Metalhead

(Temporada 4, episódio 5. Direção: David Slade; Roteiro: Charlie Brooker)

Esse é o pior episódio da história de Black Mirror? Achamos que sim. Embora tenha seguidores, nada do que conta nos interessa nem entusiasma. É o capítulo em que você quer fazer outra coisa, onde nunca realmente se conecta com a fuga da protagonista nem se importa que ela seja perseguida pelas máquinas. David Slade, que dirigiu episódios de séries como Hannibal e American Gods, além do filme Menina Má, dá o melhor de si. Notamos seu estilo a todo instante. Mas o problema é que ele dirige uma história sem nada para contar. E olha que gostamos de preto e branco...

18. Men Against Fire

(Temporada 3, ep. 5. Direção: Jakob Verbruggen; roteiro: Charlie Brooker)

Men Against Fire é um episódio longo de Black Mirror, quase uma superprodução bélica, mas se perde numa guinada pouco inesperada e numa mensagem que fica clara quase desde o primeiro momento. Como em muitos dos episódios da terceira temporada, sobram minutos. E, se não bastasse, seu protagonista não nos transmite nada.

17. Hated in the Nation

(Temporada 3, ep. 6. Direção: James Hawes; roteiro: Charlie Brooker)

É o último capítulo da terceira temporada, um episódio de 90 minutos proposto como um thriller de suspense no qual pessoas que foram objeto da ira das redes sociais morrem em circunstâncias estranhas. Apesar de a premissa e a reflexão de fundo serem interessantes, sobram minutos ao capítulo e não chega a decolar como deveria.

16. The Waldo Moment

(Temporada 2, ep. 3. Direção: Bryan Higgins; roteiro: Charlie Brooker e Chris Morris)

The Waldo Momenttem um ponto de vista interessante que, além disso, com a chegada do candidato republicano à Casa Branca, Donald Trump, ganhou pontos em veracidade. Como episódio, no entanto, é pouco memorável. Sua ideia principal não se desenvolve como algo muito crível, seu personagem também não tem muita graça, e é difícil ter empatia pelo protagonista.

15. White Bear

(Temporada 2, ep. 2. Direção: Carl Tibbetts; roteiro: Charlie Brooker)

Uma mulher acorda sem se lembrar quem é. Não sabe onde está nem por que tanta gente está gravando com os celulares. Não sabe por que essas pessoas disfarçadas a perseguem. O que sabe é que terá de ir a White Bear, supostamente um local seguro. No fim, como costuma acontecer nos capítulos de Black Mirror, as coisas não são o que parecem, e uma virada obriga a repensar toda a história. Um capítulo inquietante da segunda temporada da série, com um ritmo frenético, mas abaixo da média.

14. San Junipero

(Temporada 3, ep. 4. Direção: Owen Harris; roteiro: Charlie Brooker)

San Junipero talvez seja o capítulo mais feliz da história de Black Mirror, uma história de amor pura com toques de ficção científica, com a nostalgia e o envelhecimento como alvo. Mas, apesar de ter seus seguidores (sobretudo graças ao carismático casal formado por Mackenzie Davis e Gugu Mbatha-Raw), é um pouco insossa para poder ser considerada um episódio incrível da série. Talvez nosso coração é que simplesmente esteja congelado.

13. USS Callister

(Temporada 4, ep. 01. Direção: Toby Haynes; roteiro: Charlie Brooker e William Bridges)

Para alguns, um dos melhores capítulos da quarta temporada da série (não para nós) é essa história de ficção científica com um toque vintage, que serve de homenagem e/ou paródia de Star Trek. Um homem cansado de ser ignorado no trabalho se torna o todo-poderoso num jogo em que é o capitão de uma nave. E os tripulantes que têm de obedecer às suas ordens são justamente os seus colegas de trabalho. A ideia é boa, mas se dilui num mero divertimento, longe da escuridão e da profundidade de outros episódios da série. E embora lance mensagens muito importantes sobre o abuso de poder e o machismo, o episódio é muito longo (dura 1h15), um dos erros da passagem para a Netflix.

12 - Playtest

(Temporada 3, ep. 2. Direção: Dan Trachtenberg; Roteiro: Charlie Brooker)

Dentro da terceira temporada se encontra este capítulo no qual um jovem norte-americano, em busca de novas experiências em Londres e necessitado de dinheiro, aceita participar como cobaia de um novo e revolucionário sistema de jogos virtuais que funciona através de um implante no cérebro. O que começa como um jogo inocente termina por levá-lo a uma casa em que se seus piores temores reproduzirão. Uma história perturbadora, que aproveita o terror psicológico, com um ou outro susto incluído.

11. White Christmas

(Especial de Natal. Direção: Carl Tibbetts; roteiro: Charlie Brooker)

Três histórias em uma para um capítulo de 90 minutos que teve Jon Hamm como protagonista. Começa com a trama de um homem que recorre à ajuda de um conselheiro amoroso à distância para tentar ter mais sucesso em suas conquistas. Continua mostrando um mundo no qual as pessoas podem ter um clone que faz as tarefas solicitadas. E termina entrando na premissa de que a opção de bloquear os outros, como nas redes sociais, possa ser transferida para as relações físicas. Ideias interessantes que, devido à brevidade com que são colocadas, não chegam a se desenvolver de todo, mas conseguem ter unidade e inquietar.

10 - Nosedive

(Temporada 3, ep. 1. Direção: Joe Wright; roteiro: Charlie Brooker, Mike Schur e Rashida Jones)

Nosedive é, na aparência, um episódio muito futurista, com muita tecnologia envolvida, mas sua mensagem não poderia ser mais atual. O capítulo – que emana certo aroma de bom-mocismo dos roteiristas Mike Schur (Parks and Recreation, The Good Place) e Rashida Jones – causa verdadeiro terror, mas não porque haja sustos ou monstros, e sim porque nos reconhecemos nele. É muito presente. O diretor Joe Wright dá, além disso, certo ar cinematográfico a uma proposta em que a adorável Bryce Dallas Howard – a quem amamos odiar – se sente como um peixe dentro d’água. Talvez, apesar disso, seja longo demais.

9 - Crocodile

(Temporada 4, ep. 03 Direção: John Hillcoat; roteiro: Charlie Brooker)

Um segredo que não deve ser divulgado de jeito nenhum é o ponto de partida de uma história em que uma mulher vai tomando uma série de decisões terríveis, enquanto uma funcionária de uma companhia de seguros investiga um acidente com base nas lembranças das testemunhas graças a uma tecnologia futurista. Uma visita ao inferno que contrasta com o frio congelante das paragens islandesas (daí seu aspecto de drama policial escandinavo), onde foi filmado esse notável capítulo da quarta temporada.

8 – Shut Up and Dance

(Temporada 3, ep. 3. Direção: James Watkins; roteiro: Charlie Brooker e William Bridges)

Um jogo macabro e um segredo oculto. Shut Up and Dance é talvez o episódio mais sombrio, e menos de ficção científica, desde National Anthem. Uma sufocante história de terror psicológico, uma horripilante viagem rodoviária que nunca poderia terminar bem. Ver Jerome Flynn num papel tão diferente do de Bronn em Game of Thronestambém pesa a seu favor.

7 - Black Museum

(Temporada 4, ep. 06 Direção: Colm McCarthy; roteiro: Charlie Brooker)

Uma antologia dentro de outra. Como o episódio de Natal, Black Museum reúne uma série de histórias curtas (uma delas roteirizada a partir de uma ideia que o ilusionista Penn Jillette contou a Charlie Brooker, criador da série) que desembocam numa conclusão macabra. Nem todas funcionam, mas são interessantes o bastante para conduzir uma narrativa diferente do já típico episódio de Black Mirror, temperada com todo tipo de detalhes da mitologia da marca Brooker – de objetos icônicos à música. E Letitia Wright pinta como uma nova estrela.

6 - Arkangel

(Temporada 4, ep. 02 Direção: Jodie Foster; roteiro: Charlie Brooker)

Dirigido por Jodie Foster, esse episódio conta a história de uma mãe para satisfazer sua obsessão de controlar e proteger a sua filha. Isso graças a um dispositivo implantado na menina, que permite conhecer sua localização, protegê-la de visões que possam ser perturbadoras e até mesmo ver o que ela vê. O resultado é um dos melhores capítulos da quarta temporada, rodado como um filme indie, que leva ao extremo a superproteção dos filhos.

5 – Fifteen Million Merits

(Temporada 1, ep. 2. Direção: Euros Lyn; roteiro: Charlie Brooker e Konnie Huq)

Nesse mundo alternativo, a principal utilidade das pessoas é participar de um programa de televisão no estilo X Factorpara tentar sair da situação de escravidão em que vivem seu dia a dia, pedalando o tempo todo e vivendo através de um avatar virtual. Este episódio da primeira temporada dispara contra vários flancos, como o lixo televisivo ou uma sociedade alienada levada a extremo, o que é facilmente extrapolável à realidade atual. Um mundo futuro, mas muito presente.

4 – The Entire History of You

(Temporada 1, ep. 3. Direção: Brian Welsh; roteiro: Jesse Armstrong)

Um microchip em nossa mente grava todas as nossas lembranças para que as repitamos reiteradamente. Um conceito original e simples, que se transforma em um pesadelo de infidelidades, ciúmes e um casamento prestes a explodir. Como nos melhores episódios, o aparelho acaba sendo só uma desculpa para falar desses personagens imperfeitos e quebrados.

3 - Hang the DJ

(Temporada 4, ep. 04 Direção: Timothy Van Patten; roteiro: Charlie Brooker)

Muitos rotularam essa alegoria dos encontros através do Tinder como o San Junipero da quarta temporada, devido ao seu otimismo e à sua mensagem romântica. Para nós, contudo, ele supera o anterior. Tudo fuciona. Nos identificamos com sua história. O carisma do casal protagonista (Joe Cole e Georgina Campbell) é bem trabalhado. E até esse onírico e surpreendente final é satisfatório. Brooker é ainda melhor escrevendo episódios não tão distópicos.

2 – The National Anthem

(Temporada 1, ep. 1. Direção: Otto Bathurst; roteiro: Charlie Brooker)

Foi o capítulo com o qual descobrimos Black Mirror, o já mítico episódio em que o primeiro-ministro do Reino Unido precisa tomar uma decisão contra o relógio: para que os sequestradores libertem a princesa Susannah, terá de manter relações sexuais com um porco enquanto todo o país vê o ato pela televisão. As redes sociais e a pressão midiática, instantânea e em tempo real, fazem com que a situação rapidamente escape do seu controle. Um capítulo impactante, que golpeia o espectador e que determinou as bases do tom e estilo da série.

1 – Be Right Back

(Temporada 2, ep. 1. Direção: Owen Harris; roteiro: Charlie Brooker)

Be Right Back é um desses episódios de Black Mirror que tem de tudo: uma mensagem sobre a tecnologia, uma história de ficção científica pura e também muita alma e sentimento. Sabe ver tanto o lado otimista quanto o pessimista desse futuro próximo. O amor perdido toma forma de androide com carisma neste episódio que, além disso, tem dois protagonistas tão sólidos como Hayley Atwell (a Agente Carter do universo Marvel) e o onipresente Domhall Gleesson, que deixou de ser um androide e se apaixona por outro em Ex-Machina. Impossível não doer.

Este texto foi originalmente publicado no blog Quinta Temporada, do EL PAÍS.

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