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Confiante nas pesquisas, Lula ressalta inocência e já anuncia medidas de governo

Pesquisa Ipsos desta quarta mostra nova alta no apoio ao ex-presidente, que afirma: “Não serei preso. Preso só pode ir quem cometeu crime e contra mim não há uma vírgula”

Xosé Hermida
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em protesto contra o Governo em outubro.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em protesto contra o Governo em outubro.Bruna Prado (AP)

A maioria dos analistas, bem como lideranças políticas e econômicas do Brasil – incluindo o mercado financeiro —, estão convencidos de que a Justiça impedirá o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de participar das eleições de outubro do ano que vem. Mas há uma pessoa que defende o contrário: o próprio Lula. “Não vou ser preso. Preso só pode ir quem cometeu um crime e não tem uma vírgula contra mim. Duvido que neste país tenha alguém com a consciência mais tranquila do a que minha”, proclamou com grande veemência o ex-presidente nesta quarta-feira em São Paulo em um encontro com a imprensa. “Muito otimista” sobre seu futuro, com as pesquisas cada vez mais favoráveis, Lula se apresenta como o provável vencedor da eleição do próximo ano e até se permite anunciar algumas das medidas que tomaria se voltasse ao Governo.

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Lula não quer falar nem como hipótese sobre uma possível decisão desfavorável do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), que marcou para o dia 24 de janeiro em Porto Alegre o julgamento de seu recurso contra a sentença de nove anos de prisão do juiz Sérgio Moro. A condenação, alega, seria simplesmente “uma negação da Justiça”, por isso espera que daqui até o dia do julgamento se abra caminho para um “consenso” sobre sua inocência no caso do triplex do Guarujá. Insistiu que não há uma única prova de que o apartamento seja dele e até brincou: “Leiam a sentença e se encontrem alguma coisa, me liguem”. “Se não acreditar na democracia e na Justiça, em que vou acreditar na minha idade, na luta armada?”, acrescentou.

A estratégia de Lula antes do decisivo encontro de Porto Alegre, que pode marcar não apenas seu futuro, mas o rumo da disputa eleitoral do próximo ano, ficou clara em um longo encontro de duas horas com um grupo de jornalistas. O ex-presidente apresenta como fato evidente que será absolvido –“tenho certeza absoluta”– e seu interesse é aparecer perante o público não apenas como candidato, mas como se estivesse prestes a retornar ao Palácio do Planalto. Por isso, desconversou diante de todas as perguntas sobre qual seria a reação do PT a uma hipotética condenação. Não entrou em considerações se a encarava como fraude eleitoral ou a culminação do “golpe”, como dizem alguns líderes de seu partido. Da mesma forma, não quis alimentar especulações sobre possíveis planos B, mesmo que o único membro do PT presente ao evento fosse um dos mais citados como alternativa a Lula, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, coordenador do programa eleitoral.

Com essa ideia, o líder petista preferiu falar sobre economia, política externa, programas sociais ou possíveis alianças políticas. E aproveitou a oportunidade para anunciar algumas medidas governamentais voltadas para os setores mais pobres da sociedade. Prometeu uma reforma tributária para que os ricos paguem mais e aqueles com rendimentos inferiores a 5.000 reais mensais sejam isentos do imposto de renda. Também prometeu uma nova “valorização do salário mínimo” e mais gastos em educação. Disse que deseja se candidatar novamente para “fazer o que não fiz”, porque desta vez seu objetivo é “distribuir a riqueza, não só a renda”.

Lula chegou estimulado pelas pesquisas de intenção de voto que lhe são cada vez mais favoráveis. Nos últimos meses, a popularidade do ex-presidente não parou de crescer até atingir os níveis mais altos desde o impeachment; A última pesquisa foi divulgada nesta quarta-feira, feita pelo Instituto Ipsos para o jornal O Estado de S. Paulo, e traz resultados espetaculares para o líder do PT. Sua popularidade cresceu 16 pontos percentuais desde junho, até atingir 45%, mais do dobro de seus adversários potenciais, o ultradireitista Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, o centrista Geraldo Alckmin, que, além disso, caíram nas últimas semanas

O líder do PT aludiu diretamente a esse vento favorável das pesquisas e se esforçou tanto em aparentar que não está preocupado com sua situação judicial que explicou que está preparando uma nova Carta ao povo brasileiro. Embora desta vez o destinatário “será o povo e não o mercado”. O ex-presidente confessou que está magoado com reação contra ele do setor financeiro: “Nunca me agradeceram pelo que ganharam comigo”. Mas, ao mesmo tempo, quis deixar claro que não é verdade, como se comenta, que tenha dado uma guinada à esquerda. “Não estou mais radical, estou mais sabido”, disse. “E responsabilidade fiscal eu tenho de sobra, porque aprendi com uma mulher em uma favela”.

Os petistas já começaram a se mobilizar para organizar um protesto no próximo dia 24 em Porto Alegre, diante do Tribunal que julgará o caso. Lula revelou que não comparecerá porque tem uma viagem à África. Mas não evitou críticas muito duras à Justiça de Curitiba que dirigiu em primeira instância a maioria dos processos contra ele. Acusou-a de atuar “como partido político”, com o apoio da “grande imprensa brasileira”, e personalizou tudo isso muito claramente no procurador Deltan Dallagnol, dizendo que “deveria ser exonerado” pelo famoso powerpoint que apresentou há algum tempo à imprensa, colocando Lula como chefe de uma organização criminosa.

Para além dos ataques ao que ele mesmo tinha chamado de “República de Curitiba”, o ex-presidente evitou desqualificar a Lava Jato globalmente. Tampouco fez qualquer autocrítica em relação ao envolvimento de seu partido em casos de corrupção. E também lembrou que foi nos governos petistas que foram tomadas medidas para favorecer a luta contra a corrupção, como a independência do Ministério Público e da polícia, a criação de vários órgãos de controle ou a regulamentação das delações premiadas. “Não houve na história do Brasil um presidente ou um partido político que tenha tomado as medidas contra a corrupção que tomei”, afirmou.

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