6.700 rohingyas morreram no primeiro mês da perseguição em Myanmar
Pesquisa da Médicos sem Fronteiras também mostra que 730 das vítimas tinham menos de cinco anos
Pelo menos 6.700 rohingyas, sendo 730 crianças, morreram no primeiro mês da ofensiva do Exército birmanês contra os rebeldes no Estado de Rakhine, em agosto passado, segundo um relatório da ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) apresentado nesta quinta-feira. Essa é a mais elevada cifra de mortos a ser apresentada desde que a violência eclodiu na região, provocando uma grave crise humanitária. Em apenas três meses, quase 650.000 pessoas dessa minoria muçulmana fugiram em péssimas condições de Myanmar para Bangladesh, num movimento que a ONU e os Estados Unidos qualificaram como “limpeza étnica”.
"Estimamos, sendo muito conservadores nisso, que pelo menos 6.700 rohingyas morreram, incluindo 730 crianças menores de cinco anos”, disse o diretor médico do MSF, Sidney Wong. O número provém de uma pesquisa feita com 2.434 famílias nos campos de refugiados. “Nós nos reunimos com eles e conversamos com os sobreviventes de Myanmar, e o que descobrimos foi assombroso. Todos falaram de pelo menos um membro de sua família que foi morto ou ferido”, acrescentou Wong.
A ONG indica que, se a proporção de mortos na população pesquisada se estender ao resto dos recém-chegados – um total de 647.000 até o momento – entre 9.425 e 13.759 rohingyas morreram nos primeiros 31 dias após o início da violência, sendo cerca de mil crianças menores de cinco anos.
Os dados colhidos mostram que 69% dos mortos foram baleados por arma de fogo, seguidos pelos queimados dentro de suas próprias casas (9%) e os espancados (5%). No caso das crianças menores de cinco anos, 59 foram mortas a tiros, 15 queimadas vivas em casa, sete foram surradas e 2% foram vitimadas por explosões de minas.
Os dados do MSF contrastam com os apresentados pelas autoridades de Myanmar (antiga Birmânia), segundo as quais apenas 400 pessoas, incluindo 376 "terroristas" rohingyas, morreram nos primeiros meses da ofensiva militar.
A Birmânia e Bangladesh assinaram em 23 de novembro um acordo para possibilitar o retorno de centenas de milhares de rohingyas que fugiram do Estado birmanês de Rakhine depois de duas ondas de violência por parte das forças de segurança (em 9 de outubro do ano passado e em 25 de agosto deste ano). A ONU denunciou em setembro que a campanha militar promovida pelas autoridades birmanesas em Rakhine representava “uma limpeza étnica de manual”.
As operações militares foram lançadas em resposta a ataques contra quartéis das Forças Armadas birmanesas por parte do Exército de Salvação Rohingya em Arakan . Milhares de rohingyas que viviam em Rakhine antes da crise fugiram para Bangladesh. Myanmar considera os rohingyas “imigrantes ilegais bengaleses” e não os reconhece como uma de suas 135 etnias, apesar de viverem há séculos na região.
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