_
_
_
_
_

Maduro ameaça proibir as principais forças da oposição de disputar a presidência

“Partido que não participou hoje não pode participar mais”, afirma o líder bolivariano sobre o boicote às eleições municipais

Francesco Manetto
O presidente venezuelano Nicolás Maduro vota neste domingo em Caracas.
O presidente venezuelano Nicolás Maduro vota neste domingo em Caracas.EFE
Mais informações
Maduro endurece seu controle do regime em eleições municipais boicotadas pela oposição
O que mais é preciso acontecer na Venezuela para que esses fiéis devotos caiam do cavalo?
Nicolás Maduro tira da cartola um bitcoin bolivariano

O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, ameaçou neste domingo, durante a realização das eleições municipais, proibir as principais forças da oposição de concorrer às presidenciais de 2018. “Partido que não participou hoje e pediu o boicote das eleições não pode participar mais”, afirmou, aludindo às organizações lideradas por Henry Ramos Allup, Leopoldo López e Henrique Capriles.

Este ano foi para a Venezuela um dos mais sombrios de sua história recente. Foi assim para os partidos críticos do regime, que pelas manobras do chavismo deixaram de controlar o Parlamento e ficaram praticamente fora do jogo no terreno institucional. E foi assim para o aparato bolivariano, que para fazer frente a quatro meses de protestos iniciou uma mudança que culminou com a eleição, em 30 de julho, de uma Assembleia Nacional − encarregada de redigir a nova Constituição e eleita com regras de jogo favoráveis ao Governo.

Desde então já foram realizadas três eleições no país sul-americano. As forças opositoras rejeitaram a primeira para não cair na armadilha do oficialismo. Participaram da segunda, a votação regional de outubro, denunciando falta de garantias e fraude no processo. E a maioria delas convocou um boicote às eleições municipais deste domingo, que abrem caminho para um poder quase absoluto de Maduro.

O sucessor de Hugo Chávez aproveitou a ocasião para ameaçar expulsar seus principais adversários do sistema político e impedi-los de participar das próximas eleições presidenciais, previstas para 2018. Suas palavras, pronunciadas em uma entrevista coletiva, delineiam um futuro autoritário no qual seria muito difícil qualquer tentativa de diálogo. Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), brandiu mais uma vez o fantasma do inimigo externo ao se referir ao Governo do presidente norte-americano, Donald Trump, e a um dos dirigentes da oposição venezuelana, Ramos Allup, da Ação Democrática (AD).

“No norte já decidiram quem é seu candidato presidencial, e não é Ramos Allup”, disse Maduro. “Pode tirar o cavalinho da chuva, Ramos Allup. Pronto. Utilizaram você o máximo que puderam. Não dá mais, Ramos Allup, não dá mais, compadre, embora em todas as pesquisa a Ação Democrática seja o principal partido da oposição venezuelana, muito longe do PSUV”, acrescentou. “Os demais partidos, Vontade Popular e Primeiro Justiça, sumiram do mapa político venezuelano e hoje desaparecem totalmente”, prosseguiu, antes de fazer sua ameaça. “Porque partido que não participou hoje e pediu o boicote das eleições não pode participar mais. Esse é o critério que a Assembleia Nacional Constituinte usou de forma constitucional e legal, e eu como chefe de Estado de um poder constituído os apoio. Não poderão participar, desaparecerão do mapa político”, insistiu.

A intimidação de Maduro pode ter consequências amargas, pois se for concretizada afetará as três principais forças da coalizão oposicionista Mesa de Unidade Democrática, prejudicará as organizações de Ramos Allup, López e Capriles e, principalmente, transformará a realização das eleições presidenciais em uma mera formalidade para que o chavismo se perpetue no poder. “Nós optamos pelo caminho eleitoral, pacífico, democrático e constitucional em 19 de abril de 1997”, afirmou o dirigente chavista em referência ao primeiro passo dado por Chávez para concorrer às eleições do ano seguinte, “e nele vamos nos manter pelas décadas e séculos vindouros”.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_