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Assim foram as eleições municipais na Venezuela sem os principais nomes da oposição

Abstenção da grande maioria dos eleitores críticos ao chavismo marca a jornada eleitoral na Venezuela

Maolis Castro
Pessoas votam nas eleições municipais da Venezuela.
Pessoas votam nas eleições municipais da Venezuela.MIGUEL GUTIERREZ (EFE)
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O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e a máquina chavista aproveitaram no domingo a realização de eleições municipais para endurecer o controle do regime ao término de um dos anos mais nefastos da história recente do país. As eleições, boicotadas pelos principais partidos de oposição, ocorreram em um clima de abstenção e ceticismo, mas permitiram ao líder bolivariano consolidar sua guinada ao autoritarismo antes de 2018, quando devem ser convocadas eleições presidenciais.

A situação, que não suspendeu a campanha nem mesmo durante a jornada eleitoral – especialmente nos bairros populares, onde se viam cartazes de propaganda de candidatos, por exemplo, da chavista Érika Farias –, recorreu também à eleição de prefeitos para a revisão do censo dos titulares do chamado carnê da pátria, um cartão de fidelidade que vincula os beneficiários de programas sociais ao Executivo. Em vários locais de votação, os membros do Partido Socialista Unido da Venezuela exerceram esse tipo de vigilância sobre os eleitores. “Primeiro você deve votar [com documento de identidade] e depois voltar para cá para ativar o carnê da pátria. Iremos revisá-lo, isso é para realizar o controle de nossa comunidade”, admitiram alguns funcionários.

Os venezuelanos votaram no domingo para eleger 335 prefeitos e um governador no Estado ocidental de Zulia sem a participação das forças de oposição com mais apoio. O Vontade Popular (fundado por Leopoldo López), Primeira Justiça (liderado por Henrique Capriles) e o Ação Democrática (dirigido por Henry Ramos Allup) tomaram essa decisão por considerarem inexistentes as garantias eleitorais após denunciarem graves irregularidades nas eleições regionais de outubro.

Essa circunstância acabou oferecendo à população um leque de opções ligadas ao regime que se traduzem em uma confirmação do apoio a Maduro, com a exceção dos partidos de oposição Um Novo Tempo (UNT), Copei e Avanço Progressista, que lançaram candidatos nas eleições municipais. No sábado à tarde, por exemplo, um dos concorrentes à prefeitura do Município Libertador de Caracas renunciou com o argumento de que o Governo estava pedindo o carnê da pátria para votar. Desse modo, em suas seções eleitorais os eleitores críticos ao chavismo e à guinada de Maduro só podiam encontrar o nome de Maribel Castillo, do Avanço Progressista.

Laura Sánchez, de 82 anos, cidadã venezuelana e espanhola, preferiu não participar. “Não voto porque todos são uns sem-vergonhas, a pessoa se mata por eles e na hora da verdade sempre perde. Essas eleições estão mancomunadas, a oposição quase sempre perde, mesmo que ninguém queira Maduro. Eu votei nas regionais e ao ver o golpe decidi não votar mais”, afirma antes de contar sua história. “Nasci nas Astúrias, meu pai era Lino Sánchez Díaz, que dirigiu o Conselho Municipal de Ribadesella e vim jovem à Venezuela. Já estou há 60 anos aqui e vi emigrarem quase todos os meus filhos e netos por culpa do Governo de Maduro”.

Na paróquia de Caricuao, uma área do oeste de Caracas, Justiniano Carrillo, de 77 anos, defende por sua vez o regime. “Sou aposentado, mas trabalho como vigilante. Meus filhos trabalharam na PDVSA e na Controladoria Geral da República. E não vejo problemas na saída da oposição das eleições porque só trouxeram desastres para esse país: mortes, guarimbas [como o ex-presidente Hugo Chávez chamou os protestos da oposição]. Ultimamente estamos mal na Venezuela, mas não é culpa do Governo. É nossa culpa por comprarmos as coisas mais caras com os especuladores. Votarei com minha carteira de identidade e depois passo pelo ponto vermelho [o ponto do PSUV] para que saibam que votei e me registrem através do meu carnê da pátria. Essa é a ordem do Governo e é preciso cumpri-la”, afirma Carrillo, que usa um boné da petroleira estatal.

Se o partido do regime conquistar resultados arrasadores, seria de qualquer forma uma vitória anunciada com uma popularidade reduzida. A gestão de Maduro é vista como “negativa” por 80% da população, de acordo com as pesquisas locais. É um mal-estar causado por um coquetel de adversidades: a depressão econômica, o autoritarismo político e a carestia da população. Mas o PSUV não tem herdeiros ao trono. Maduro quer ser reeleito em 2018, mesmo que seu Governo seja visto como autoritário. Dessa forma, o mandatário venezuelano se refugia no suposto diálogo com a oposição e suas vitórias nas eleições da Assembleia Nacional Constituinte, provinciais e possivelmente nas municipais para argumentar que existe democracia no país sul-americano.

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