‘Salvator Mundi’, de Leonardo da Vinci, a obra mais cara da história
Tela foi adquirida em um leilão por 450 milhões de dólares, o dobro do recorde anterior, de Picasso
A última obra de Leonardo da Vinci nas mãos de um colecionador privado, propriedade do oligarca russo Dmitry Rybolovlev, foi leiloada na quarta-feira, dia 15 de novembro, na Christie’s por um valor recorde de 450,3 milhões de dólares (cerca de 1,47 bilhão de reais). Salvator Mundi é uma obra excepcional, a ponto de os especialistas se referirem a ela como o Santo Graal do mundo da arte. Não só mais do que duplicou os quase 179,3 milhões de dólares (cerca de 537 milhões de reais na época) desembolsados há dois anos por Mulheres de Argel, de Pablo Picasso, o recorde até agora em um leilão, mas também superou amplamente os cerca de 300 milhões de dólares (981 milhões de reais) pagos em evento privado pelo investidor Kenneth Griffin por Interchange, de Willem de Kooning, e valor semelhante pago por um emir do Catar por Nafea Faa Ipoipo (Quando você vai se casar?), de Paul Gauguin.
O óleo que mostra Jesus Cristo como salvador do mundo é a maior redescoberta artística do século XXI. Que se saiba, há menos de 20 óleos sobre madeira criados pelo gênio renascentista italiano que sobreviveram à passagem do tempo. Esta surgiu em 2005, depois de um hiato de muito tempo. A obra data de 1500 e durante décadas se pensou que tinha sido destruída. “É um testamento da relevância que segue tendo sua pintura”, avalia Loic Gouzes, da casa de leilões Christie’s.
A noite começou calma, com uma obra de Adam Pendleton. Aos quinze minutos chegou ao lote 9B, em meio a grande expectativa. A disputa pelo Da Vinci começou em 70 milhões de dólares (228 milhões de reais). Tomou fôlego nos 100 milhões (327 milhões de reais), como se estivesse ganhando força antes da retomada. Em três minutos chegou a 200 milhões (654 milhões de reais). A disputa se prolongou por 19 minutos. A batalha foi travada por dois compradores anônimos que fizeram suas apostas por telefone. O martelo foi batido nos 400 milhões (1,3 bilhão de reais), aos quais se somam a comissão da casa de leilões.
Salvator Mundi foi pintado na mesma época em que a Mona Lisa. A composição é muito parecida e são um exemplo perfeito do mistério que rodeia o trabalho de Da Vinci. Sua história também é extraordinária. A pintura decorou o quarto privativo de Henriqueta Maria da França, esposa do rei Carlos I da Inglaterra, no palácio de Greenwich. Desapareceu depois de ser leiloada em 1736. Sir Charles Robinson a comprou em 1900 pensando que era um trabalho de um discípulo de Leonardo.
A obra-prima de Da Vinci caiu de novo no esquecimento, perdida entre outros trabalhos artísticos que integravam sua coleção. A pintura, que tinha sido manipulada, foi consignada à casa de leilões Sotheby’s para venda em 1958. Foram pagos por ela 50 milhões de euros (190 milhões de reais). Voltou a desaparecer até que surgiu novamente em um pequeno leilão há 12 anos. A redescoberta mobilizou especialistas no trabalho de Leonardo, que certificaram sua autenticidade.
Batalha legal
A pintura foi apresentada ao mundo em 2011, no âmbito de uma mostra dedicada ao artista na Galeria Nacional de Londres. Sua propriedade está cercada de controvérsia. O magnata russo Dmitry Rybolovlev, dono do clube de futebol AS Mônaco, pagou 108,3 milhões de euros (cerca de 411 milhões de reais) quando a adquiriu em 2013. A obra é, além disso, uma das que protagoniza a batalha judicial entre o milionário russo e o corretor de arte suíço Yves Bouvier: o primeiro acusa o segundo de enganá-lo inflando em até 1 bilhão de euros (3,8 bilhões de reais) os preços de cerca de 40 obras de arte que foi comprando ao longo de muitos anos.
O preço final pago por Salvator Mundi pode, portanto, ter implicações legais no processo que Rybolovlev trava com Bouvier. A casa de leilões evitou comentar o litígio e se limitou a pedir que a atenção se concentre em seu valor artístico excepcional. Para atrair a atenção dos colecionadores, viajou antes por Hong Kong, Londres e San Francisco.
Salvator Mundi é a grande estrela da semana de leilões de outono que acontece em Nova York. Inspirado no gênio do Renascimento, foi colocada à venda uma obra gigantesca de Andy Warhol na qual ele replica 60 vezes a célebre A Última Ceia de Leonardo da Vinci, que foi leiloada na mesma noite. A Christie’s procurava assim acentuar o “efeito Da Vinci”.
Cultura popular
O monumental trabalho, que criou um ano antes de morrer e foi oferecido pela primeira vez em um leilão, é um exemplo da grande série do período final do artista. Warhol, profundamente religioso, fez mais de uma centena de variações diferentes da obra de Da Vinci. A Última Ceia de Leonardo não só se transformou em cânone da história da arte, como também faz parte da cultura popular.
Christie’s e Sotheby’s tentam fechar a semana com vendas combinadas no valor de 1,36 bilhão de dólares (quase 4,5 bilhões de reais), com obras de Léger, Picasso, Monet, Miró e Degas. A segunda-feira começou com o óleo Labourer dans un champ, de Vincent van Gogh, vendido por 81 milhões de dólares. Datado de 1889, um ano antes de sua morte. Ficou muito perto do recorde de 82,5 milhões que o artista obteve com seu Retrato do Dr. Gachet.
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