Oriente Médio, a nova Meca da arte
O Louvre de Abu Dhabi, primeiro “museu universal” do mundo árabe, abre suas portas neste sábado Mas um país sem liberdade de expressão está preparado para abraçar a subversão trazida pela arte?
A areia flutua no vento e penetra entre os dentes. Não há nada ao redor. Só um punhado de hotéis de luxo grudados à primeira linha do mar, rodeados por bairros residenciais ainda em construção, que em estridentes cartazes publicitários prometem uma vida idílica aos seus potenciais moradores. Uma longa fila de táxis aguarda junto ao campus da faraônica filial emiradense da Universidade de Nova York, semivazia por causa das férias letivas. Só alguns turistas ricos desfrutam a tarde jogando golfe num campo tingido de um verde incongruente com a aridez da paisagem. O novo Louvre de Abu Dhabi emerge como uma miragem ao fundo deste panorama. Este foi o lugar escolhido para erigir esta medina flutuante sobre a água e sob o sol asfixiante do deserto, protegida por uma cúpula prateada e transparente, que impregnará as salas do museu – obra do starquiteto Jean Nouvel – de uma luz constante e poderosa.
Neste momento, o edifício deve ser observado apenas à distância. Para descobrir seu interior, é preciso esperar até sábado, dia 11, quando a pinacoteca abrirá suas portas neste canto da ilha de Saadiyat (felicidade, em árabe). Este futuro distrito cultural, unido por uma nova ponte ao centro da capital dos Emirados Árabes Unidos, foi criado com a missão de acolher cinco museus de primeiro nível. Entre eles um novo Guggenheim, a cargo de Frank Gehry, um museu nacional, assinado por Norman Foster, e outros dois centros projetados pelo japonês Tadao Ando e pela já falecida anglo-iraquiana Zaha Hadid. Dez anos depois de os projetos vencedores serem anunciados com pompa e circunstância, nem uma só pedra foi movida para transformá-los em realidade, por causa da relativa desaceleração da economia local. O novo Louvre, por enquanto, reinará sozinho nesta paisagem.
A criação do museu é só a ponta de lança de uma estratégia global de investimento em educação e cultura, aprovada em meados da década passada pelas autoridades do emirado. Abu Dhabi – que forma os Emirados Árabes Unidos junto com Dubai, Sharjah, Ajman, Umm al Quwain, Ras al Khaimah e Fujairah – é responsável por 9% da produção mundial de petróleo, o que garante metade do seu produto interno bruto. Possui também mais de 90% do petróleo e do gás do país. Mas o emirado sabe que suas reservas fósseis não são ilimitadas, e que o futuro passa necessariamente por outro tipo de investimentos. “Talvez em 50 anos esgotemos o último barril de petróleo. Se investirmos agora nos setores adequados, vamos celebrar este momento”, afirmou o príncipe-herdeiro, Mohamed bin Zayed al Nahyan, em 2015. Seguindo o modelo de Dubai, menos favorecida pelos recursos naturais, Abu Dhabi decidiu diversificar suas fontes de rendimentos. De entrada, colocando-se no mapa do turismo cultural. Depois da inauguração do novo Louvre, o aeroporto de Abu Dhabi espera receber 45 milhões de passageiros por ano. Em 2016 foram 24,5 milhões (em comparação, Barajas, em Madri, recebe 50 milhões, e El Prat, em Barcelona, 45 milhões).
Apesar de tudo, não se deve ver o projeto apenas como uma aposta econômica. Seus responsáveis se esforçaram para cobri-lo também com uma pátina política. Na apresentação do museu, no Louvre parisiense, no final de setembro, o diretor do Departamento de Cultura e Turismo de Abu Dhabi, Mohamed Khalifa al Mubarak, pronunciou as seguintes palavras: “Quando as pessoas entrarem no novo Louvre, ouvirão mensagens de aceitação, tolerância e conectividade, das quais necessitamos no mundo de hoje e que o transformarão num lugar melhor”. A pergunta é se um simples museu pode aspirar a tão elevada missão. “Será o primeiro museu universal do mundo árabe e do século XXI”, responde seu diretor, o francês Manuel Rabaté. “Apresentaremos as obras de forma original, para mostrar as similitudes entre as distintas civilizações. Desejamos que cada visitante possa encontrar sua própria cultura e, ao mesmo tempo, entender as dos outros”.
Para conseguir isso, o Louvre de Abu Dhabi contará com recursos abundantes. Seu acervo permanente, constituído durante os últimos 10 anos, será formado por 600 obras próprias, de autores do nível de Leonardo da Vinci, Manet, Gauguin, Calder, Magritte e Klee. Sua exposição inaugural apresentará 300 dessas obras, somadas a outras 300 que foram emprestadas por um consórcio composto por uma dúzia de museus franceses, entre eles, o Centro Pompidou, o Museu d’Orsay, o Grand Palais, o Museu Rodin e o Museu do Quai Branly, além do próprio Louvre. Todas essas instituições participarão da organização de quatro exposições temporárias por ano, o que se supõe que garantirá um fluxo permanente de obras-primas e uma direção científica alinhada com os níveis de rigor e qualidade que imperam na capital francesa.
A gestação deste museu – que não será uma filial do Louvre parisiense, e sim um centro autônomo – não foi isenta de polêmica. Quando o projeto foi anunciado, no final de 2006, todos os alarmes dispararam. Na França, acusou-se o Estado de criar “uma Las Vegas do deserto” que representaria “um caminho terrível em termos de ética”, segundo um documento assinado por 5.000 personalidades do mundo da arte. Em tempos de liquidez minguante, a oferta era lucrativa demais para ser rejeitada. O Louvre cedia sua marca durante as três décadas seguintes, em troca de 400 milhões de euros (1,5 bilhão de reais, pelo câmbio atual). Somem-se a essa cifra mais 190 milhões de euros pelo empréstimo de obras pertencentes às coleções públicas, e outros 195 milhões pela organização de exposições temporárias durante os próximos 15 anos. Uma soma estratosférica, à qual também cabe acrescentar o custo do edifício: 580 milhões de euros pelos 85.000 metros quadrados projetados por Nouvel. Para o arquiteto francês, era fundamental adaptar o edifício ao local. “Sou um arquiteto de contextos”, explica. “Não queria que fosse um museu internacional que aterrissou ali como um disco voador. O museu tem de pertencer a eles e ser um símbolo da civilização deles”. O arquiteto não vê seu museu como um simples instrumento de legitimação diplomática, nem um ímã oportunista para seduzir o visitante ocidental. “Esse museu é feito, em primeiro lugar, para os emiradenses”, afirma. “Ao longo da história, as cidades política e economicamente poderosas sempre fizeram museus. É normal que eles se equipem”.
Apenas duas dúvidas empanam o brilhante futuro previsto por todos os responsáveis. A primeira é se esse ambicioso projeto conseguirá encontrar um público à altura do investimento. A segunda, se as especificidades culturais e religiosas dos Emirados serão um problema para expor certo tipo de obras. Por exemplo, aquelas que mostram nus. Fontes do museu garantem que o país de acolhida – uma monarquia constitucional com reflexos autocráticos, onde a liberdade de expressão continua sendo controlada e limitada – não vetou, até o momento, nenhuma obra. “Por sua história e localização geográfica, Abu Dhabi foi desde sempre um lugar de intercâmbio entre civilizações. A abertura e o respeito à diferença estão no coração da cultura emiradense”, diz Rabaté.
A capital dos Emirados ficará orgulhosa de ter as grandes instituições, mas o mercado de arte continuará localizado a cerca de 150 quilômetros ao norte desse país com forma de bumerangue. Dubai, a irmã cosmopolita e barulhenta da solene Abu Dhabi, há anos tornou-se o principal hub da arte contemporânea no Golfo Pérsico. “Existe uma competição entre emirados, mas é positiva. Essa luta obriga você a ser melhor”, explica o artista Khalil Abdulwahid, formado pelo pai fundador da arte contemporânea emiradense, Hassan Sharif, que agora dirige a divisão de artes visuais na Autoridade de Arte e Cultura de Dubai (equivalente a um ministério). “No fundo, todos nós compartilhamos uma cultura e um idioma. Somos uma família”.
Nessa megalópole cheia de vias expressas e arranha-céus, as primeiras galerias do país foram criadas nos anos noventa. Hoje há cerca de 50.000 metros quadrados de espaços expositivos e um excelente clima para esse tipo de transações. Em seu território convivem 180 nacionalidades diferentes. Apenas algo entre 10% e 15% da população local possui nacionalidade emiradense. O resto são estrangeiros provenientes de todos os lugares do planeta, que vêm para os Emirados em busca de um emprego mais bem pago em setores profissionais que parecem estagnados no Ocidente, como confessam 9 em cada 10 pessoas (quase sempre em inglês, a língua franca deste antigo protetorado britânico). Os ofícios criativos são um deles. Nesta cidade, a arte tornou-se sinônimo de modernidade e abertura, símbolo de um futuro melhor. Não é por acaso que ultimamente ela brota em todas as esquinas. Por exemplo, em City Walk, um novo distrito comercial que promove a ideia de caminhar como o ponto culminante da modernidade – em uma cidade dependente do automóvel em níveis doentios –, os muros são decorados por cotadíssimas estrelas da street art, como o francês Blek le Rat ou os português Vhils. Ao mesmo tempo, os colecionadores nascem, crescem e se reproduzem. De acordo com os dados da casa de leilões Sotheby’s, que abriu um escritório em Dubai em março de 2017, a participação de clientes do Oriente Médio em suas vendas teria aumentado 76% nos últimos cinco anos. No caso específico dos emiradenses, a porcentagem seria superior a 150%. Um recente leilão organizado por sua principal rival, a Christie’s, que abriu uma filial na cidade em 2006, superou a marca de 8 milhões de dólares e estabeleceu um recorde mundial para 18 dos artistas participantes, todos eles originários desta dinâmica zona geográfica.
“Surgiu uma nova geração de compradores que aspira a se identificar, em termos de herança cultural, com a obra que deseja adquirir. Eles querem se reconectar com suas raízes”, diz Myrna Ayad, uma libanesa de 40 anos e nova diretora da Art Dubai, uma feira de arte fundada há uma década no emirado e que se transformou em ponto de referência. A edição da última primavera contou com a presença de uma centena de galerias de 43 países diferentes e mais de 28.000 visitantes em apenas cinco dias. Entre eles, representantes das maiores instituições do mundo, como a Tate de Londres, o Centro Pompidou de Paris e o MOMA de Nova York. “Antes, as capitais culturais no mundo árabe eram Beirute, Cairo ou Bagdá. Por motivos políticos e econômicos, os olhares se dirigem agora para o Golfo Pérsico”, acrescenta Ayad, apontando para novos centros nevrálgicos como Dubai ou Abu Dhabi, mas também Doha ou inclusive Jidá, a segunda cidade da Arábia Saudita.
A Art Dubai acontece no Madinat Jumeirah, um enorme hotel que se estende por mais de 40 hectares, formado por uma sucessão de edifícios e jardins intercalados com canais artificiais. Dos andares mais altos se pode ver a silhueta da vizinha Palm Jumeirah, uma das três ilhas em forma de palmeira que delimitam a frente marítima. Por seus corredores circulam homens vestidos com o dishdash, túnica branca que vai até os tornozelos, e mulheres vestidas com seus hijabs cerimoniosos, juntamente com outras que mostram decotes vertiginosos. Um concorrido corredor cospe imagens pop, que fazem dele o fundo perfeito para um selfie. Um pouco mais adiante, em uma das áreas de descanso, está um grupo de colecionadores espanhóis. “Nós viemos ter uma noção. Vamos embora com alguns nomes anotados. Artistas líbios, sírios, iranianos ou iraquianos que nem sempre chegam a nós. De vez em quando se descobrem coisas extraordinárias”, explica uma conhecida empresária e mecenas catalã, que prefere fica no anonimato.
O perímetro desta feira é também um espaço de convivência pouco comum no fragmentado mundo muçulmano. A Art Dubai não entende dos cismas entre sunitas e xiitas. Uma galeria saudita tem uma iraniana como vizinha, apesar da rivalidade legendária entre as respectivas nações. Além disso, artistas de origem árabe se beneficiam de um espaço mais receptivo às suas propostas do que em outras feiras. Por exemplo, uma artista tunisiana como Nicène Kossentini, que expõe seus desenhos inspirados por um tratado sobre o amor do século XI, convive com o mestre iraquiano Dia Azzawi e seus óleos coloristas. Em um dos cruzamentos aparece Dana Farouki, uma das colecionadoras que apoiam a feira desde sua criação. Nascida há 37 anos em Washington, essa filha de palestinos faz parte da equipe que adquiriu a coleção do futuro Guggenheim de Abu Dhabi. Agora ela mora em Dubai e é membro destacada da cena artística da cidade. “Quero apoiar os artistas de países e culturas com os quais me sinta identificada”, diz.
Apesar de tudo, a mesma pergunta reaparece. Uma sociedade que não aceita a dissidência pode abraçar a liberdade absoluta à qual a arte sempre aspira? A resposta é sim, desde que se evite a explicitação. “A arte é um lugar de protesto silencioso. Os artistas do Oriente Médio desenvolveram uma poesia e uma inteligência brutal para fazer suas denúncias. Esse vocabulário criou uma cena muito especial”, explica o madrilenho Pablo del Val, contratado por Dubai em 2015 como número dois depois de ter dirigido a feira Zona MACO no México. Na edição de 2012, as autoridades de Dubai mandaram retirar quatro obras da feira pouco antes da visita da família que preside o emirado. Uma delas era inspirada pela conhecida imagem de um grupo de soldados egípcios agredindo uma mulher na Praça Tahrir. Na última edição, no entanto, algumas peças incômodas foram vistas, como fuzis Kalashnikov cobertos de flores – da palestina Laila Shawa – ou diferentes esculturas de corpos masculinos seminus e algemados, do iraniano Reza Aramesh.
Para fazer evoluir as mentalidades, a própria feira promove um programa de conferências, chamado Global Art Talks, que não foge de questões delicadas. “A censura existe em todos os lugares. Tudo depende de onde você desenha a fronteira. O que a arte faz é permitir que certas coisas ultrapassem essa fronteira sem serem detectadas pelo radar das autoridades políticas”, diz o coordenador, Shumon Basar, prestigioso historiador da arte britânico de origem bengali. “As coisas mudaram muito nos últimos 10 anos. O poder entendeu que, se quer competir com as grandes cidades, também precisa se abrir à cultura, à arte, às ideias. Talvez seu impulso inicial fosse apenas ser percebido como inteligente, mas o resultado foi muito diferente”.
Esse impulso não mostra sinais de esgotamento. Em 2018 será inaugurado um novo museu de 10.000 metros quadrados, que receberá a coleção da fundação privada Art Jameel. Enquanto isso, na Alserkal Avenue, a antiga área industrial que concentra as principais galerias desde sua refundação como distrito artístico, em 2007, o arquiteto Rem Koolhaas inaugurou em março seu primeiro edifício no Golfo Pérsico, o Concrete, um cubículo de concreto e vidro projetado para receber exposições, shows e desfiles de moda. “Dubai é um lugar onde você repensa todas as suas ideias preconcebidas”, explica Koolhaas. “Como arquiteto, é importante estar exposto a forças diferentes das habituais. No aspecto econômico, é claro, mas também em termos de sensibilidade: aqui é mais discreta e delicada, mais coletiva e menos agressiva”. O OMA, o estúdio de Koolhaas, abriu um escritório em Dubai em 2015, pouco depois de ter feito o mesmo no Catar, onde também termina a nova Biblioteca Nacional desse país, o que possui a maior renda per capita de todo o planeta.
O dono do edifício é Abdelmonem bin Eisa Alserkal, um dos principais mecenas do país, membro de uma família de industriais que vendeu os primeiros automóveis e criou os primeiros bancos de Dubai. “Este é o momento em que devemos nos perguntar qual queremos que seja nossa relevância na próxima década. O progresso natural de qualquer cidade aponta para a arte”, explica. “Nos dá muita satisfação oferecer uma plataforma para que os artistas possam se expressar e escrever a história da região”. Mesmo quando essa arte é crítica? “Sim, mesmo nesse caso”, responde com um riso nervoso. Em um armazém anexo ao edifício principal, o artista Ammar Al Attar, de 35 anos, expõe suas fotografias de cinemas abandonados de Dubai: uma sutil invectiva à transformação acelerada dessa cidade.
No emirado vizinho de Sharjah, um grupo de senhoras vestidas com o niqab passa diante de uma obra têxtil do artista libanês Joe Namy, feita com tecidos tradicionais. Só uma delas para, observando-a da abertura de sua roupa. A obra é uma das instalações da Bienal de Sharjah, que acontece desde 1993. É um evento pioneiro que mudou a maneira de ver a arte neste emirado de reputação conservadora, onde o álcool é proibido. Nas salas de exposição, artistas do mundo árabe refletem sobre suas culturas de maneira mais crítica do que aparentam a priori. Por exemplo, a dubaiense Hind Mezaina apresenta uma série de cianotipias de folhas de plantas e árvores da cidade, testemunhos de uma natureza que se extingue entre os arranha-céus e os centros comerciais. “A arte não tem por que vociferar”, explica. “Somos dessa região do mundo e sabemos quais limites podemos ultrapassar e quais não podemos. Quando você prepara uma obra sabe que se disser algo ofensivo, isso terá consequências. Você será multado e preso. Mas não chamaria isso de autocensura, porque não é um processo deliberado. É outra forma de encontrar o caminho”.
No lobby do hotel Mina A’Salam, o crítico de arte Hammad Nasar, curador do pavilhão dos Emirados na última Bienal de Veneza, dá seu ponto de vista. “No tai chi existe o tui shou, a prática marcial das mãos que empurram. Trata-se de absorver a energia do outro, bloqueá-lo e fazer com que se esgote. Os artistas jovens deste país são mestres nessa arte. São respeitosos, mas críticos. E isso é, em minha opinião, muito mais interessante do que a literalidade e os slogans”, afirma. Nasar mandou a Veneza cinco artistas que residem no país. Dois deles nem sequer nasceram nos Emirados. “Pensei que seria polêmico, mas ninguém protestou. Fiquei quase desapontado”, sorri. “Os emiradenses estão cansados dos estereótipos. Costuma-se dizer que este é um lugar de dinheiro, ostentação e petróleo. Eles sentem a necessidade de dizer que são muito mais do que isso”, conclui. O primeiro capítulo dessa nova história começa em novembro. O final ainda está envolto em uma névoa misteriosa. Mas isso sempre acontece, afinal, com as melhores histórias.
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