Esta corrente humana conseguiu salvar uma escola em chamas na Galícia
“As pessoas agiram da forma mais simples e democrática possível”, diz o autor da foto
Pelo menos quatro pessoas morreram devido a uma onda incêndios em várias partes da Galícia. Em certas áreas, a urgência é tanta que a polícia está pedindo voluntários. O fotógrafo Delmi Álvarez registrou, na tarde de domingo, a imagem de um grupo de pessoas formando uma corrente humana em Vincios (Pontevedra). O grupo tentava controlar o fogo com baldes de água para proteger uma escola próxima. “As pessoas agiram da forma mais simples e democrática possível. Colocaram mãos à obra quase sem pensar e sem esperar uma ajuda que não chegava”, disse Álvarez, autor da foto, ao EL PAÍS.
Álvarez capturou o que ocorria com sua câmera e enviou as imagens para o jornal. A primeira delas, feita com seu celular, foi publicada em seu perfil do Twitter, e vários usuários compartilharam a imagem para ilustrar os incêndios na Galícia. Entre eles, a prefeita de Barcelona, Ada Colau.
¡Qué tristeza #ArdeGaliza! Mucho ánimo a la gente que defiende la tierra, como defendió el mar, de la destrucción y la avaricia #NuncaMais pic.twitter.com/0YoPtbCEkx
— Ada Colau (@AdaColau) October 15, 2017
Trad: Muito ânimo à gente que defende a terra, como defendeu o mar, da destruição e a avareza
“Tudo aconteceu muito rápido. Começou a fazer muito calor, e foram declarados incêndios em toda a província de Pontevedra. A situação era caótica. Com a seca na região, as muxicas [chispas] que caíam em zonas secas provocavam novos incêndios. Os moradores corriam de um lado para o outro com mangueiras, baldes de água e galhos para apagar as chamas”, relatou Álvarez, residente de Bruxelas, que passava alguns dias na Galícia, sua terra natal, dias antes de ter coberto o conflito político na Catalunha para o EL PAÍS.
A corrente humana vista na imagem foi formada perto de uma escola. Diante da “total falta de meios” disponíveis nesses primeiros momentos, os moradores de Vincios decidiram eles mesmos proteger o prédio.
“Muitos deles costumam trabalham no campo e tinham muita habilidade. Com o esforço conjunto, conseguiram que a escola não pegasse fogo. Quando cheguei, quase haviam apagado o fogo. O vento era muito forte, e as brigadas dos Montes estavam lá, mas os bombeiros não haviam chegado”, lembra o fotógrafo.
Cercado pelas chamas, muitos dos moradores se sentiam desamparados diante da lenta reação das autoridades políticas. “Deveriam ter agido com mais rapidez e enviado mais recursos. A Guarda Civil e a polícia local trabalharam muito bem coordenadas, mas havia poucos aviões para apagar o fogo”, contou Álvarez.
Vincios foi uma das áreas desocupadas, embora o fotógrafo calcule que a maioria de seus habitantes tenha ficado acordada a noite toda, trabalhando para controlar as chamas, e que buscarão acomodação mais tarde.
“Depois de publicar a imagem no Twitter, deixei de ter controle sobre ela. Sei que inspirou outras áreas da Galícia, e que essa corrente humana se repetiu como um sistema para lutar contra o fogo”, diz Álvarez.
15 años después los mismos cubos, la misma dignidad y la misma rabia. pic.twitter.com/aTT7KV5XFa
— Manuel Jabois (@manueljabois) October 15, 2017
Trad: 15 anos depois os mesmos baldes, a mesma dignidade e a mesma raiva.
En Galicia siempre igual. Si hay fuego lo apaga la gente. Si hay petróleo lo limpia la gente. Gobierno para qué. #QueimanGalicia
— Gerardo Vázquez (@herr_ardo) October 15, 2017
Trad: Na Galícia é sempre igual. Se há fogo, as pessoas apagam. Se há petróleo, as pessoas limpam. Governo para que?
El petróleo lo limpiamos nosotros,a las víctimas del tren las ayudamos nosotros.Esto lo apagaremos nosotros #ArdeGalicia #QueimanGalicia
— Noaluire (@noaluire) October 16, 2017
Trad: O petróleo nós que limpamos, as vítimas do trem nós que ajudamos. Isto [o fogo] nós que apagaremos
A situação foi comparada nas redes sociais com a que ocorreu durante a catástrofe do Prestige, de 2002, na qual foram os próprios cidadãos que se encarregaram de limpar com baldes grande parte da maré negra que contaminou a costa após o derramamento de petróleo. A foto de Álvarez também aparece nesses comentários.
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