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‘O pequeno catalão’ onde a venda de bandeiras da Espanha disparou

Numa centenária loja de Saragoça, cujo nome remete à comunidade independentista, a venda de flâmulas espanholas aumentou

Patricia Gosálvez
Protesto em frente à Prefeitura de Saragoça contra o referendo catalão.
Protesto em frente à Prefeitura de Saragoça contra o referendo catalão.EUROPA PRESS

El pequeño catalán nunca vendeu tantos metros de bandeiras da Espanha. "Nem nos mundiais houve tanta demanda como durante o referendo da Catalunha", diz Alfonso Pomar, encarregado do marketing nesta centenária loja de Saragoça. O fato é curioso justamente pelo nome da loja, que em português se traduz para "O pequeno Catalão", em referência à comunidade autônoma vizinha e que no último domingo votou para se tornar independente da Espanha, em um pleito considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional do país. "Nós não nos metemos em política, simplesmente vendemos o que o público pede. É assim que um comércio sobrevive 150 anos", afirma o tataraneto do primeiro Pomar que começou a trabalhar ali.

Nestas semanas, o que o público mais pediu foi a flâmula espanhola. Sobretudo, em rolo, a cerca de 5 euros o metro (18 reais), uma opção mais econômica que as "bandeiras bandeiras, com pano de qualidade, como as que compram os hotéis, por exemplo", explica Pomar. Estas custam 24,90 euros (92 reais) e a loja vendeu as 40 que tinha em estoque. As da Catalunha ele não tinha, mas também ninguém apareceu para pedir.

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"Vendemos bandeiras de todos os tipos. Me fala a mais rara que você imagina... pois fabricamos!", diz Pomar, ressaltando mais uma vez que em política eles não se metem. Têm bandeiras anteriores à Constituição? "Claro! Republicanas e fascistas. Mas não deixamos nenhuma das duas expostas".

A discrição antes de tudo. Tanto que o pequeno catalão não tem sequer o nome da loja em destaque. "Desde que fizemos obras há alguns anos deixamos assim...", explica Pomar, "mas todo mundo nos conhece". Estão no mesmo lugar—salvo o tempo que tiveram que mudar por conta das obras— desde 1860, quando dois irmãos catalães, comerciantes de telas, se apaixonaram por duas mulheres de Saragoça. Uma vez assentados na capital da província fundaram cada um sua loja, o grande catalão e o pequeno catalão, "porque um era grandote e outro mais miudinho". Para o miudinho começou a trabalhar o primeiro da família Pomar, que acabou se tornando o responsável pela loja e casando com a filha do dono. Hoje já é a sexta geração da família que comanda tudo.

Fachada da loja O pequeno catalão, antes e agora.
Fachada da loja O pequeno catalão, antes e agora.

A sétima geração, ainda criança, brinca com espadas pelo local onde este ano se inaugurou uma nova linha de negócio: "presentes de recriação medieval". "Aparecia muita gente perguntando... vimos a demanda e oferecemos o melhor", explica Pomar, que também vende uniformes de colégio e de trabalho. "Para que uma empresa familiar resista, tem que evoluir e se adaptar aos tempos".

Nestes dias, a demanda, ao menos em Saragoça, é pelas bandeiras da Espanha. O pequeno catalão não foi a única loja que vendeu tudo. David Lasala de Larraz, um conhecido comércio de telas e mercearia, descreve o acréscimo de venda de bandeiras espanholas destes dias como "espetacular e inesperado". "O referendo coincidiu mais ou menos com a festa de Pilar e da Hispanidad", lembra Lasala, em referência a duas festas populares espanholas. "Assim, muitos já aproveitaram para enfeitar suas varandas". Mas a maior concorrência, admitem os comerciantes, é a "dos chineses". "Certeza que venderam tantas ou mais que a gente... embora as suas sejam de um plastiquinho fino, que para uma manifestação servem. Mas só pra uma", opina Pomar. Negócio teve para todos: "Com a chegada do referendo, para muita gente a bandeira da Espanha saiu do armário".

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