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O insólito caso do policial militar que roubou um trator em São Paulo

Sargento foi chamado para averiguar furto em fábrica de Suzano. Voltou dias depois para levar máquina e acabou preso em flagrante

Cerimônia com policiais militares
Cerimônia com policiais militaresEduardo Saraiva (A2IMG)
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Em um plantão de madrugada, na cidade onde mais de 100 roubos são registrados por mês, uma patrulha policial foi acionada para prender um assaltante que fugia com um trator pelas ruas de Suzano, na região metropolitana de São Paulo. Do cerco da polícia acabou preso o assaltante, também um policial militar, o sargento Wanderley Rodrigues Lopes, colega de batalhão dos patrulheiros. Seria só mais um caso insólito na rotina da polícia, mas o sargento foi solto dois meses depois e uma testemunha acabou ameaçada. Por isso, o sargento acabou preso novamente na noite de sexta-feira (23).

O trator foi roubado no dia 7 de julho por volta das 4h30. Mas o interesse do sargento pela máquina começou em outra ocorrência policial. Em um dia de trabalho, o policial esteve na sede da fábrica Gyotoku, em Suzano, para responder a uma comunicação de crime no local e tentar prender assaltantes que furtaram objetos da empresa. Naquele dia, enquanto devia procurar bandidos, o sargento viu o trator e se interessou pela máquina. Sem muita conversa, pediu a um funcionário para "liberar" a máquina. "Liberar", no caso, significava transferir a propriedade sem mais delongas, como se não houvesse credores interessados na massa falida da empresa dona do equipamento. O policial alegou que usaria o trator para "carregar areia e pedra" de um depósito de materiais de construção que dizia possuir.

Não deu certo, mas o sargento não desistiu. Dias depois, voltou ao local para perturbar o funcionário. O representante da empresa tentou novamente evitar a situação. Alegou que o trator estava sem bateria. Não adiantou. O policial abriu o porta-malas de seu carro e tirou uma bateria e cabos elétricos. Enquanto fazia isso, deixava à vista uma pistola no bolso da calça "para intimidar a testemunha", de acordo com relatório da Corregedoria da Polícia Militar, obtido pelo EL PAÍS.

Antes de concretizar o roubo, o policial ainda tentou assustar o funcionário da empresa e sugeriu que qualquer comunicação do roubo seria infrutífera: "nem ligue no 190, porque hoje é minha equipe que está na rua e se você ligar são eles que vão atender a ocorrência".

Horas depois, o sargento escapava com o trator, auxiliado por um mecânico. Mesmo com a intimidação, a Polícia Militar foi acionada e o gatuno acabou detido. Mas nem por isso a vida do funcionário ficou mais tranquila. Em depoimento à Corregedoria da PM depois da prisão, ele contou que um homem armado esteve na sede da empresa e deu um recado, acompanhado de um comparsa. "Toma cuidado com o depoimento que você vai dar, cuidado para não prejudicar meus amigos", afirmou um homem armado.

Não foi a única ameaça. Depois disso, o funcionário disse que recebeu dois telefonemas em que um interlocutor falou para que "retirasse" as informações que revelou em depoimento à Corregedoria da PM.

Depois dessas ameaças, a Corregedoria da PM solicitou nova prisão do sargento ao Tribunal de Justiça Militar de São Paulo. Ele tinha conseguido o direito de responder a processo em liberdade no dia 20 de setembro, quando foi solto. Lopes foi preso novamente e transferido para o presídio militar Romão Gomes, no Tremembé, Zona Norte de São Paulo, na madrugada de sábado.

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