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Iraque prende as famílias do Estado Islâmico

Várias ONGs documentam a existência de um campo com 1.400 mulheres e crianças ligadas aos jihadistas

ÓSCAR GUTIÉRREZ
Campo nas proximidades de Mossul
Campo nas proximidades de MossulBalint Szlanko (AP)

Várias organizações que trabalham com desabrigados nas imediações da cidade de Mossul, no norte do Iraque, documentaram a existência de um campo de detenção em que o Governo mantém presas centenas de famílias formadas por mulheres e crianças estrangeiras ligadas ao Estado Islâmico. Bagdá mantém essas famílias em regime de exclusão na cidade de Hammam al Alil, 30 quilômetros ao sul da capital da província de Nínive. Entre os estrangeiros no campo não existem ocidentais, de acordo com as informações recolhidas pelas ONGs. Muitas das famílias viviam antes em Tel Afar, enclave na fronteira sírio-iraquiana, perdido em 27 de agosto. A cidade foi vital justamente no recrutamento e passagem de combatentes estrangeiros às fileiras do EI.

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A ONG Conselho Norueguês ao Refugiado (NCR na sigla em inglês), com boa experiência na região, foi uma das primeiras organizações a denunciar a existência de um campo com familiares de jihadistas do EI. Segundo informou ao EL PAÍS o NCR, que fornece alimentos, latrinas e tendas aos desabrigados, existem por volta de 500 mulheres, crianças e alguns idosos e homens com alguma deficiência. O NCR, que prefere não revelar a localização exata das famílias, denuncia que o Governo iraquiano não permite que as famílias saiam do complexo, de modo que se trata de uma “prisão de fato”.

A pesquisadora da Human Rights Watch (HRW) Bellis Wille teve acesso ao interior do campo nessa semana. A HRW publicará um relatório nos próximos dias, mas adiantou alguns dos dados recolhidos: são 1.400 estrangeiros dentro do campo de Hammam al Alil, aberto desde outubro, mês em que se iniciou a ofensiva para tomar Mossul do EI, o berço de seu califado no Iraque. De acordo com as constatações de Wille, as estrangeiras presas ali são mulheres que viajaram ao Iraque para unirem-se ao EI. Entre as nacionalidades, a maioria vem das áreas orientais do grupo jihadista: Afeganistão, Azerbaijão, China, Irã, Rússia, Turquia, Tadjiquistão, Chechênia, mas também da Síria e Trinidad e Tobago – pequeno país caribenho que tem uma elevada porcentagem de jihadistas per capita.

Em 19 de junho o conselho de Governo de Mossul emitiu uma lei em que dizia que as famílias do EI deveriam ser “reabilitadas” tanto psicológica como ideologicamente. Bagdá abriu para essa finalidade um campo em Bartalla, a 14 quilômetros, em que alojou em sua maioria famílias de iraquianos ligadas à organização terrorista. Pouco depois, Bartalla foi fechado e os desabrigados foram realocados entre Hammam al Alil e Jadah.

Não se sabe qual o futuro que o Governo iraquiano dará a essas famílias estrangeiras, mas o conselho de Governo de Mossul sugeriu que se não existirem ligações com os crimes do EI podem voltar para suas casas. As ONGs presentes na região pediram a Bagdá para que respeite seus direitos como desabrigados de guerra e permitam sua livre movimentação. De acordo com as informações da HRW, o campo de Hammam al Alil está cercado e controlado por militares.

O grupo jihadista liderado pelo iraquiano Abubaker al Bagdadi atraiu milhares de mulheres ao autoproclamado califado instaurado em meados de 2014 em ambos os lados da fronteira sírio-iraquiana. Mas, ao contrário de sua predecessora, a Al Qaeda no Iraque, o EI afastou a mulher do papel de combatente e manteve como sua obrigação fundamental a criação das crianças do grupo e o cuidado dos homens combatentes. Essa doutrina, entretanto, mudou levemente nos últimos tempos e após a grave derrota sofrida pelo grupo em Mossul. Como informa um relatório recente do Centro de Combate ao Terrorismo de West Point (EUA), o número de julho da revista Rumiyah, uma das principais publicações do EI, dedica um espaço à mulher em que diz que deve estar pronta para “participar com coragem e sacrifício dessa guerra”. O relatório, assinado pelos analistas Charlie Winter e Devorah Margolin, informa também sobre o uso de mulheres suicidas durante a batalha de Mossul.

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