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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Negar a evidência

Não devemos ignorar que o aquecimento provoca fenômenos climáticos extremos

Trabalhador remove a água de um ginásio em Houston
Trabalhador remove a água de um ginásio em HoustonMIKE BLAKE (REUTERS)

Quando ainda não se recuperou do terrível golpe do furacão Harvey no Estado do Texas, outra terrível tempestade tropical, batizada com o nome de Irma, avança com sua espiral de morte e destruição pelas ilhas do Caribe em direção ao Estado da Flórida. A frequência e a intensidade com que se sucedem fenômenos meteorológicos extremos em diferentes lugares do planeta, sejam tempestades tropicais ou secas extremas, reabre com força o debate sobre se está sendo feito tudo o que é necessário e possível para evitar o que a evidência científica aponta como a principal causa: a mudança climática. Esse debate é particularmente importante nos Estados Unidos, um dos dois maiores emissores, juntamente com a China, de gases de efeito estufa, onde, apesar da esmagadora acumulação de provas científicas, o presidente Trump se permite abandonar os acordos de Paris contra a mudança climática.

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Faz tempo que os cientistas advertem que uma de suas primeiras manifestações será a intensificação dos fenômenos climáticos que são habituais, mas que serão cada vez mais frequentes e mais devastadores. O tempo já é notícia habitual nos jornais de televisão, não na seção de previsões, mas na de acontecimentos. A onda de calor experimentada no sul da Europa e nos Bálcãs neste verão, com 10 países em alerta vermelho por causa de temperaturas extremas, os furacões que assolam o Caribe ou a intensidade que adquirem na Ásia as tradicionais monções fazem parte do mesmo fenômeno, o aquecimento global. Nos painéis de observação do clima as evidências se acumulam. O ano de 2017 figura, juntamente com 2014 e 2015, como o ano mais quente da história desde que são realizados registros; a temperatura do Mar de Barents, no Ártico, atingiu 11 graus centígrados acima da média em agosto, enquanto que em terra a temperatura média já subiu dois graus. A temperatura da superfície do oceano, que já é de 20 centímetros acima da época pré-industrial, é mais elevada do que no ano anterior pelo sexto ano consecutivo.

Esta é a principal causa da intensidade dos furacões, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial. Quanto mais a temperatura do oceano aumenta, mais evaporação ocorre e a água que acumula cai onde costumava cair, mas com maior intensidade. A mudança climática não é a causa dos furacões, mas é a responsável por sua força e pela imprevisibilidade do seu comportamento. O Serviço Meteorológico Nacional dos EUA teve que introduzir novos parâmetros em seus gráficos para poder incluir os níveis anormais de precipitação do furacão Harvey, que, além disso, contra todas as previsões, permaneceu ativo em uma área do Texas durante muito mais tempo do que o esperado.

Agora, o furacão Irma avança – a uma velocidade de 25 quilômetros por hora, com ventos que em alguns pontos atingiram 295 quilômetros por hora – em direção à costa da Flórida. Estima-se que mais de seis milhões de pessoas enfrentarão uma situação de perigo extremo. O Governo norte-americano não pode continuar ignorando, por um fundamentalismo ideológico carente de qualquer base científica, uma realidade que tem um custo cada vez mais alto, não só em danos materiais, mas em vidas humanas.

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