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Eleições 2018
Coluna
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Quantos Lulas existem?

O ex-sindicalista sabe que em 2018 nenhum político raivoso, velho ou novo, será eleito presidente

Juan Arias
Lula, no sábado passado, em ato da CUT no Rio de Janeiro.
Lula, no sábado passado, em ato da CUT no Rio de Janeiro.APU GOMES (AFP)
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Lula pôs em funcionamento uma operação para refazer sua imagem para 2018, convencido de que será candidato às presidenciais. Com isso revela seu grande faro político e sua capacidade de se metamorfosear, exatamente no momento em que toda a velha guarda política está petrificada e contra as cordas.

Que Lula está à procura de uma nova imagem para 2018 acaba de ser revelado em quatro linhas de sua coluna em O Globo, por Ancelmo Gois, um dos jornalistas mais bem informados do país. Ele disse na segunda-feira que Lula, em um jantar na casa do ator Fábio Assunção, confiou um segredo: “que está cada dia mais interessado pela filosofia e pela poesia”, o que alguém já traduziu como seu desejo de aparecer mais tranquilo, banhando-se nas águas calmas do saber e da arte. Nasce assim também a nova imagem do Lula leitor, tão diferente do antigo, ao qual ler “dava sono”, ou para o qual a leitura era “pior do que fazer o exercício na esteira”. Agora ele lê, não romances, mas filosofia e poesia.

Revelou ainda mais o polêmico ex-sindicalista, o político do “nós contra eles”, que um dia teve um ato falho e chegou a dizer que o DEM, partido de oposição, deveria ser “extirpado” da política. Era então o Lula da espada. No jantar de agora, Lula confidenciou que vive um momento no qual, disse: “procuro cada vez mais valorizar a vida e a amizade”.

De certa forma é a volta ao primeiro Lula, o da primeira vitória depois de perder três eleições presidenciais, quando ainda metia medo em todos. Volta o Lula “paz e amor”? O ex-presidente sabe muito bem que hoje o Brasil vive em conflito em carne viva, um país dividido salomonicamente, exausto de brigas e insultos entre esquerda e direita.

Ele sabe que em 2018 nenhum político raivoso, velho ou novo, será eleito presidente. Hoje começam a ter mais chances os Macri ou os Macron, políticos capazes de devolver orgulho e esperança ao país. Não é tempo de exterminadores. Poderia parecer uma provocação por parte de Lula dizer que hoje valoriza mais do que nunca a amizade, quando toda a classe política está em guerra. É que Lula é capaz de farejar por onde passam as lebres. É o melhor marqueteiro de si mesmo.

Isso reflete que Lula não é daqueles que desistem facilmente. Não sei se é mais corrupto ou não do que os outros políticos que como ele estão brigando com a justiça. Isso será decidido pelos tribunais. O que é certo é que começou a tomar distância deles na operação de resgate.

É verdade que o ex-sindicalista sempre foi mais pragmático do que ideológico e que soube se entender igualmente com banqueiros e deserdados, com empresários milionários e simples trabalhadores, dizendo a cada um o que queriam ouvir e sempre se recusou a ser rotulado politicamente: “Não sou nem esquerda nem de direita , sou sindicalista”, era seu velho lema.

Sua estratégia sempre foi se entender com gregos e troianos, com Hugo Chávez ou Maduro e com Obama ou Sarkozy, com Rajoy e Felipe González. E hoje, se necessário, com Macri e com Macron, enquanto seu partido defende Maduro.

Sabe que Temer, que era seu amigo e que pediu a Dilma que o escolhesse como vice, como muitos dos ministros do atual Governo acusados de corrupção, já foram seus ministros e de Dilma. Estiveram juntos um dia no mesmo banquete. E sabe que poderiam volta r estar juntos amanhã. Lula é, sobretudo, um estrategista e herdou de seu amigo Fidel Castro a ideia de que negar mil vezes uma acusação pode levar a que seja absolvido pela História, e que repetindo outras mil vezes o que pedem as ruas pode acabar sendo abençoados por elas.

Lula não está morto. Se conseguir ser candidato, saibam seus adversários e concorrentes que ele intuiu que a sociedade brasileira busca a paz, e que em vez de ir em busca de debates ferozes com seus possíveis adversários, começou a tirar o pó de sua velha estratégia de tentar unir o Brasil exatamente quando o país parece estar mais dividido.

E que seu partido também não se esqueça disso. Lula não está gostando que o PT apoie muito o Governo da Venezuela e seu líder Maduro, porque intui que já são terra arrasada. Nem quer um partido mais à esquerda do que ontem porque sabe que a onda no Brasil atravessa outras águas.

Ninguém sabe qual será o futuro do seu partido, mas às cabeças mais exaltadas deste, amantes das brigas de galos, já começou a dizer que ele prefere hoje um cenário de trégua, que está valorizando a amizade e que prefere ler e refletir a brigar. Além disso, deu a entender que não deseja que o próximo encontro em Curitiba, daqui a um mês, com Moro, o terrível, seja tão tumultuado e alardeado como o anterior.

Será que ele irá, em sua nova metamorfose de amor pela filosofia e de valorização da amizade, abordar desta vez seu inimigo Moro buscando a pomba da paz?

Lula é capaz de surpreender a sua própria sombra. Quantos Lulas existem?

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