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Brasil sem Lula em 2018: quem ganharia e quem perderia no xadrez político

Especialistas analisam a situação dos potenciais candidatos após a sentença de Sérgio Moro

Gil Alessi

Lula, a maior potencia eleitoral para as eleições de 2018, está a uma decisão judicial de virar pó. Caso o Tribunal Regional da 4ª Região confirme a decisão de Sérgio Moro, que condenou o ex-presidente Lula a 9 anos e meio de prisão, será o fim do sonho do petista de subir novamente – pela terceira vez - a rampa do palácio do Planalto. A condenação pela Corte faria dele ficha suja, e o tornaria inelegível. E de quebra o ex-mandatário ainda pode ser mandado para uma prisão, onde cumpriria pena em regime fechado. Atualmente ele lidera todos os cenários da última pesquisa eleitoral do Datafolha, com 30% das intenções de voto, seguido à distância por Jair Bolsonaro (PSC) e Marina Silva (Rede). Agora o mundo político começa a analisar dois cenários possíveis para as próximas eleições: um com o ex-presidente e líder petista, outro sem ele.

O ex-presidente Lula, na semana passada, ao comentar a condenação pelo juiz Sergio Moro.
O ex-presidente Lula, na semana passada, ao comentar a condenação pelo juiz Sergio Moro.Sebastião Moreira (EFE)

Sem o ex-presidente na disputa, o PT teria que articular um plano B. Os nomes do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner são os mais cotados para a vaga. Nenhum deles, no entanto, tem o carisma e a força política de Lula. Mesmo fora do pleito, a avaliação de especialistas é que o petista ainda é “o maior eleitor do Brasil”, e poderia emprestar sua imagem e prestígio entre os eleitores simpáticos ao PT para alavancar um de seus colegas de partido. “O fenômeno da transferência de votos é algo difícil de se verificar de antemão, mas provavelmente se Lula ficar de fora por algum impedimento jurídico, ele seria um forte cabo eleitoral”, afirma Leonardo Avritzer, cientista político da Universidade Federal de Minas Gerais. De qualquer forma, em um cenário sem o ex-presidente, crescem as chances da legenda abrir mão da cabeça da chapa para compor com alguma outra legenda.

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“Se o julgamento dele ocorrer ainda este ano e ele se tornar inelegível, isso pode fomentar uma candidatura de aliança do PT com partidos do campo da esquerda, mais especificamente com o PDT de Ciro Gomes”, afirma o cientista político Antônio Lavareda da Universidade Federal do Pernambuco. Caso o TRF4 não tire Lula do páreo “até julho ou agosto de 2018”, o professor acredita que o ex-presidente não apenas irá disputar, como usará a campanha como “estratégia de defesa”.

Gomes, que é ex-governador do Ceará e ex-ministro, já sinalizou que não irá disputar caso Lula seja candidato. Em junho deste ano ele chegou a afirmar que uma candidatura do petista seria “um desserviço ao país”, uma vez que “justa ou injustamente, ele [Lula] divide a sociedade brasileira em ódios, passionalismos e até violência”. Isso, de acordo com o pedetista, tiraria o foco das questões econômicas e sociais que devem ser pauta na campanha. Uma estratégia possível de Gomes seria entrar na campanha contando com o cenário em que o ex-presidente seja condenado. “Ele quer se tornar herdeiro dos votos do Lula, então seria plausível o Ciro entre na disputa. No campo da esquerda e centro-esquerda ele seria a melhor opção para o eleitor petista, tendo em vista que a Marina Silva apoiou o Aécio Neves em 2014”, diz Lavareda.

Após a condenação de Lula por Moro, Gomes divulgou nota criticando a sentença por não trazer "um prova cabal e simples", mas também dispara contra o ex-presidente: "Considero Lula o grande responsável político pelo momento terrível pelo qual passa o País. Foi traído, mas a ele, e somente ele, devemos a imposição de um corrupto notório na linha de sucessão do Brasil, o senhor Michel Temer". 

O professor Lavareda não acredita que a condenação em primeira instância vá afastar os eleitores petistas do partido, agora que os críticos do ex-presidente pretendem colar em definitivo o selo de corrupto em Lula. “Grande parte dos eleitores do PT não enxergam esse estigma, e votam no Lula por motivos ideológicos. Eles tendem a ser complacentes com o ex-presidente”, afirma Lavareda. Ele aponta ainda que “o PT convive com essas acusações de corrupção desde 2005, com o mensalão, então o partido tem uma maior resiliência a este tipo de escândalo”. Mesmo imerso nas denúncias desencadeadas pelo ex-deputado Roberto Jefferson, a legenda conseguiu reeleger Lula e eleger Dilma duas vezes, o que corroboraria a tese de Lavareda.

Mas o PT não seria o único partido com problemas pela frente caso Lula fique de fora das eleições. Outros partidos teriam desafios pela frente. Com a ausência de um candidato petista competitivo “o campo tucano terá, pela primeira vez em muitos anos, que aprender a fazer uma campanha sem o elemento de polarização contra o ex-presidente Lula”, afirma Lavareda. Até o momento o candidato tucano é uma incógnita. O senador Aécio Neves, derrotado em 2014 por Dilma Rousseff, responde a processos no âmbito da Operação Lava Jato – o que pode comprometer suas chances nas urnas. Ele chegou a ser afastado do cargo pelo STF, mas foi reconduzido no início de julho. Sua irmã, Andrea, está em prisão domiciliar. Poucos analistas apostam que ele chegará a 2018 com força política suficiente para disputar. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, seria outro postulante à vaga do PSDB, mas correndo por fora aparece o prefeito paulista, João Doria.

O professor Avritzer acredita que independentemente de quem sejam os candidatos em 2018, a pauta “já está colocada”. “A campanha irá girar em torno de quem é a favor ou contra as reformas econômicas e da Previdência”, afirma. O Governo Temer e seus aliados do PSDB têm defendido esta agenda pró-mercado e liberal no Congresso, e devem continuar a fazê-lo no ano eleitoral, caso não consigam aprovar tudo neste ano.

“Por parte do PSDB e do PMDB há pressa para aprovar tudo agora para não ter que tocar nesse assunto ano que vem, tendo em vista que são reformas impopulares”, afirma Claudio Couto, professor de Ciências Políticas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Já o campo oposicionista vai querer “desgastar os partidos da base do Governo trazendo para o pleito estes ‘assuntos desagradáveis”. Couto afirma que é difícil prever a reação do mercado a uma candidatura de Lula: “Eu não vejo espaço hoje para uma esquerda mais dura, mais intervencionista, por falta de uma liderança forte”.

Dentre os candidatos do campo oposicionista, Couto aponta que Marina Silva seria a que mais agradaria o mercado. “Ela é menos avessa a interesses do mundo financeiro do que Ciro Gomes, que, pelo menos em teoria, tem um perfil mais desenvolvimentista”, afirma o professor.

O ex-presidente Lula não é o único pré-candidato bem colocado nas pesquisas que pode ficar de fora das eleições. O deputado Jair Bolsonaro (PSV-RJ), que tem a segunda maior intenção de votos de acordo com o último levantamento Datafolha, é réu no Supremo Tribunal Federal sob a acusação de incitação ao estupro. Em dezembro de 2014 ele disse à deputada Maria do Rosário (PT-RS) que não a “estupraria” porque ela “não merecia”. Caso os ministros condenem o parlamentar, ele se tornaria inelegível. A pesquisa do DataPoder360 divulgada no sábado mostra Bolsonaro com uma tendência de alta, encostando em Lula.

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