Mercosul reage às ameaças de Trump e rejeita uso da força na Venezuela
Os governos da Colômbia, do México e do Peru também contestam ao presidente dos EUA. O ministro de Defesa venezuelano responde: “Defenderemos a soberania do país”
Os principais governos da América Latina reagiram neste sábado para rejeitar as ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump, de intervir militarmente na Venezuela. Sem citar o nome de Trump, os países mais importantes do continente, porém, fizeram declarações para defender que a solução da crise venezuelana não pode ser militar. A reação contra as ameaças de Washington esteve comandada pelo Mercosul, que há apenas uma semana decidiu suspender definitivamente a Venezuela do bloco comercial até a "recuperação da ordem democrática" em esse pais.
Na noite da sexta-feira (11) Donald Trump decidiu abrir mais uma vez a caixa de fósforos e alertou a Venezuela sobre a possibilidade de uma ação militar, se persistir a escalada autoritária do governo de Nicolás Maduro e se os EUA a considerarem necessária. Em uma semana marcada pelo acirramento da retórica de Guerra Fria, com a troca de ameaças entre Estados Unidos e Coreia do Norte, o presidente dos EUA lançou um aviso de chumbo sobre Caracas: "Temos muitas opções para a Venezuela, inclusive a militar, se for necessário", disse, de seu clube de golfe em Bedminster, Nova Jersey, onde passa suas peculiares férias.
Os países de América Latina evitaram o confronto direto com o Trump, mas todos acharam preciso reagir para avisar ao presidente dos EUA que uma eventual ação militar na Venezuela não teria qualquer apoio político na região. O Mercosul, que está agora sob presidência brasileira, divulgou uma nota para salientar que "os únicos instrumentos aceitáveis para a promoção da democracia são o diálogo e a diplomacia". "O repúdio a violência e a qualquer opção que envolva o uso da força é inarredável e constitui base fundamental do convívio democrático, tanto no plano interno como no das relações internacionais", diz a nota. De maneira parecida, sem citar a Trump mas rejeitando claramente uma ação militar exterior, reagiram também os governos do México, da Colômbia e do Peru. O governo de Lima, segundo a agencia Reuters, até tentou promover uma declaração conjunta dos países da região.
A declaração do Mercosul lembra que há uma semana os chanceleres do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai decidiram em São Paulo suspender à Venezuela, e lamenta que desde então em Caracas "aumentaram a repressão, as detenções arbitrárias e o cerceamento das liberdades individuais". Esse comportamento do governo de Maduro "reduz ainda mais o espaço para a negociação", segundo os países do Mercosul, mas o bloco comercial afirma que continuara "de forma individual e coletiva" a insistir na pressão diplomática para que "a Venezuela cumpra com os compromissos que assumiu, de forma livre e soberana, com a democracia como única forma de governo aceitável na região".
O governo de Nicolás Maduro respondeu por meio do seu ministro da Defesa, Vladimir Padrino López, que assegurou que as forças armadas estarão na primeira fila para defender a soberania do país. "Isto é um ato de loucura, de supremo extremismo. Há uma elite extremista que governa os Estados Unidos. Não sei o que vai acontecer com o mundo, se não vão acabar com a humanidade, com o planeta terra e seus recursos naturais. Com a atuação deste governo extremista, destas elites econômicas, não sabemos qual será o paradeiro do mundo nos próximos anos. Como soldado junto às Forças Armadas, estaremos na primeira fila defendendo os interesses e a soberania de Venezuela". Segundo a Casa Branca, Maduro pediu uma chamada telefônica com Trump, naquela mesma noite, mas o mandatário americano respondeu que não falará com ele até que a democracia seja restaurada no país.
Trump lançou sua advertência sobre possíveis ações militares contra a Venezuela depois de uma reunião sobre segurança com o secretário de Estado, Rex Tillerson, a embaixadora dos EUA nas Nações Unidas, Nikki Haley, e seu conselheiro de Segurança Nacional, o general H. R. McMaster. O tema principal do encontro e das perguntas dos jornalistas seria a tensão com Pyongyang, mas houve palavras duras para o país caribenho, com suas doses necessárias de inconcretudes.
"Não vou descartar a opção militar, é nosso vizinho e temos tropas no mundo inteiro. A Venezuela não está muito distante e pessoas estão sofrendo e morrendo ali", enfatizou. A situação do país, afirmou, converteu-se em um "desastre perigoso". Um jornalista questionou quais opções considerava para o país, e é quando começou sua declaração: "Temos várias opções na mesa e, certamente, não vou descartar a militar".
O ego militar de Donald Trump está se fazendo ouvir, depois de um fatídico final de ciclo no Senado, em que ficou distante dos legisladores do seu próprio partido, após o sonoro fracasso da sua reforma de saúde na Câmara. Não mencionou, desta vez, "a mãe de todas as bombas", como no último mês de abril, no Afeganistão, nem atacou instalações do regime da Síria, como fez nessa mesma época, mas optou por discursos belicistas de "fúria e fogo" contra a Coreia do Norte. O isolacionismo com qual flertou na campanha eleitoral parece distante.
Na crise da Venezuela, as declarações intimidatórias podem ser combustível para o presidente venezuelano, a quem serve de bandeja a possibilidade de agitar seus seguidores com a ideia do intervencionismo americano, o velho fantasma do imperalismo yankee, após uma semana marcada pela renião de 17 ministros estrangeiros — incluindo Brasil, Canadá, Argentina, México e Colômbia —, que terminou com a assinatura de um comunicado condenando o regime de Nicolás Maduro. Na sexta-feira, o Governo do Peru anunciou ainda a expulsão de Diego Alfredo Molero Bellavia, embaixador da Venezuela em Lima.
Até agora, os Estados Unidos optaram por endurecer as punições contra pessoas chave do governo e do entorno de Maduro, sem fechar as portas para sanções econômicas, mas, na sexta-feira, o presidente alertou que as armas também estão sobre a mesa. O Pentágono esclareceu que não recebeu nenhuma ordem da Casa Branca sobre a Venezuela, segundo a Reuters.
A última rodada de sanções do Tesouro americano aconteceu na última quarta-feira e afetou oito funcionários venezuelanos — entre eles, Adán Chávez, irmão do falecido presidente Hugo Chávez — pelo seu papel no que classificam de Assembleia Nacional Constituinte "ilegítima", o órgão que serviu para Maduro usurpar os poderes da câmara legislativa (controlada pela oposição). As sanções somam-se às impostas ao próprio presidente venezuelano, assim como a outros 13 funcionários de alto escalão do seu governo, e ao presidente e sete membros do Supremo Tribunal. Também foi penalizado, no último mês de fevereiro, o vice-presidente Tareck El Aissami, por seus vínculos com o narcotráfico.
O ministro da Defesa de Venezuela, Vladimir Padrino López, informou na sexta-feira passada, juntamente à resposta a Trump, a captura dos dois oficiais da Guarda Nacional Bolivariana que comandaram o assalto ao Forte Paramacay de Valência, no centro do país, e roubaram 93 fuzis AK 103, de fabricação russa, e quatro lança granadas M6L.
As primeiras informações indicam que o ex-capitão da Guarda Nacional Juan Carlos Caguaripano Scott e o primeiro-tenente Yefferson García Dois Ramos foram interceptados dentro um veículo pela polícia do município de Sucre, no Leste da capital venezuelana. "Esta captura foi um duro golpe ao terrorismo fascista colocado em prática pela direita venezuelana nos últimos meses", afirmou Padrino López, quando se confirmou que os ocupantes eram os assaltantes da Brigada Blindada.
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