_
_
_
_
Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

Rumo à tempestade

Espanha não soube ou não quis gerir a crise política com a Catalunha como uma questão de primeira ordem

Ato em Barcelona no dia 11 de junho
Ato em Barcelona no dia 11 de junhoALBERT GARCIA

O primeiro volume das memórias de Winston Churchill sobre a Segunda Guerra Mundial, A Aproximação da Tempestade, é uma crônica que relata as circunstâncias que conduziram o mundo à tempestade que se desencadeou em 1939. Todos sabiam que a guerra era iminente. Somente alguns governantes, como o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain, acreditaram que a razão se imporia. Será que o ser humano nunca aprende? Será que as guerras são uma parte da constituição genética e biológica do sangue dos povos? Será que não há nada mais humano que o complexo de avestruz?

Mais informações
O fracasso das revoluções
Até onde? Até quando?
López, a nova Venezuela
Sem referentes, sem limites

Agora começam as férias e é evidente que vamos rumo à tempestade. Apesar de não ser possível prever com exatidão a força que terá, pode-se alertar, sim, que um tufão devastador está por vir. Um desses tufões, o mais claro, o mais perigoso, e que poderia ter sido evitado, é o catalão.

A Espanha está dividida entre quem pensa que a força da razão e da lei será suficiente e aqueles que esgrimem a arma da vontade e da capacidade de autodeterminação dos povos, embora, no final, a ideia de que não se atreverão a exercê-las se converte em um valor agregado.

A Espanha não soube e não quis administrar o que já é uma crise política de primeira ordem. Os catalães irão para o descanso com o bloqueio do orçamento da Generalitat imposto pelo Governo espanhol com a finalidade de impedir o desvio de recursos para o referendo de 1 de outubro.

No entanto, essa consulta já está em marcha: o levantamento contra a legalidade vigente, antepondo a legalidade catalã à espanhola, já é per si um êxito. A Catalunha está fragmentada e atomizada, e a Espanha, quebrada. E mesmo que se enviem forças de segurança ou se tome a decisão – apesar de parecer piada – de prender o Governo catalão, o dano já está feito.

Além do mais, uma possível saída é muito difícil porque, do ponto de vista democrático, não se pode ignorar a importância de adaptar as leis às necessidades sociais de cada momento.

Em uma democracia, o poder do povo se organiza e tem sua origem no ordenamento da convivência sob a supremacia das leis. No entanto, não se deve esquecer que nenhuma lei em nenhuma democracia está acima da vontade popular. Quando as leis servem para limitar a expressão dos povos e não para ordená-la de maneira civilizada como um ato de participação, e não de imposição, isso deixa de ser uma democracia e se transforma em uma autocracia.

Os grandes momentos que permitiram às sociedades avançar foram gestados contra os ordenamentos jurídicos nos quais se originaram, desde o New Deal de Roosevelt até outros exemplos, como aquele exercício de equilíbrio político que significou a transição da ditadura à democracia, sem romper as leis e convencendo os franquistas da necessidade do suicídio coletivo para que a democracia fosse um produto legal na Espanha.

Mas isso não foi uma revolução, foi uma transição. E, no caso da Catalunha, a transição fracassou e a revolução das formas permanece porque sobrepor a legalidade da Generalitat à da Espanha já é toda uma revolução, sobretudo porque, no final das contas, a legalidade catalã emana da Constituição espanhola.

A Espanha não soube solucionar o problema político. Não basta fechar-se no que as leis permitem fazer, também é necessário saber escutar as demandas. Na minha opinião, a geração que tornou possível a transição viu endurecer sua capacidade de escutar e compreender para dar uma saída política aos problemas que a mudança de século trouxe consigo.

Agora a iniciativa está na improvisação e naquela gente que, diante do império das leis, se atreve em nome da paz a desafiar a ordem para mudar a história. Não se deve esquecer que um dos maiores apóstolos da paz se chamou Gandhi e foi ele que demonstrou que, quando não se tem o poder, mas se acredita, sim, estar com a razão, tudo o que se deve fazer é golpear, golpear, golpear até que o poder cometa um erro que legitime conseguir o impossível.

Voltarei a encontrar-me em setembro com os leitores que me fizerem o favor de me seguir para continuar com este espaço de análise.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_