_
_
_
_
_

Detido desde 2014, opositor Leopoldo López vai a prisão domiciliar na Venezuela

Preso político venezuelano se tornou um símbolo da oposição contra o Governo Nicolás Maduro

Leopoldo López, após deixar a prisão neste sábado.
Leopoldo López, após deixar a prisão neste sábado.ANDRES MARTINEZ CASARES (REUTERS)
Mais informações
Ataque ao Parlamento venezuelano amplia divisões no chavismo
O silêncio da esquerda latina sobre a Venezuela
Oposição convoca consulta para parar o processo constituinte de Maduro
Os escudos artesanais dos manifestantes venezuelanos

O prisioneiro político venezuelano Leopoldo López, de 46 anos, deixou a prisão de Ramo Verde. López, encarcerado em fevereiro de 2014, passou para a prisão domiciliar e está em casa desde a madrugada deste sábado, segundo confirmou ao EL PAÍS o espanhol Javier Cremades, um de seus advogados. O opositor venezuelano voltou para casa sem aceitar nenhuma condição para seu retorno, afirma Cremades. A nova medida —que na Venezuela é chamada de “casa como prisão”— ocorre quando se completam três meses de protestos muito intensos contra o regime de Nicolás Maduro nos quais 89 pessoas morreram.

López ficou mais 90 dias sem ver seus advogados e os últimos 32 isolado em uma torre da prisão militar de Ramo Verde. Na noite desta sexta, a mãe do opositor, Antonieta Mendonza, havia anunciado a familiares mais próximos que iria visitá-lo. A libertação também a surpreendeu. "Mantenho firme minha oposição a este regime", escreveu López em uma mensagem lida por Freddy Guevara, dirigente do partido Vontade Popular, do lado de fora da residência do líder opositor, onde dezenas de pessoas estavam reunidas. "Reitero meu compromisso de lutar até conquistar a liberdade da Venezuela", acrescentou.

O Supremo informa em seu site que decidiu conceder a López prisão domiciliar “devido à informação recebida sobre a saúde” do líder de oposição. Por essa razão a Sala Penal resolveu conceder uma “medida humanitária” ao dirigente.

Leopoldo López, dirigente do partido Vontade Popular (VP) e ex-prefeito do município caraquenho de Chacao, chegou em casa às 4h da manhã (hora local). Sua libertação foi uma surpresa até para sua família. Reiteradas vezes havia manifestado, por meio de sua esposa, Lilian Tintori, que a condição para deixar a prisão era a saída de todos os presos políticos. López foi condenado em 2015 a 13 anos, 9 meses, 7 dias e 12 horas de prisão, a ser cumprida na penitenciária militar de Ramo Verde. A juíza Susana Barreiros o considerou culpado de participar e instigar as manifestações de 2014, que provocaram a morte de 43 pessoas e ferimentos em centenas.

“Isso representa um reconhecimento da liderança de Leopoldo López, que se prepara para liderar novamente a alternativa ao regime de Nicolás Maduro, cuja resistência Leopoldo López conseguiu quebrar”, afirma Cremades. “É uma vitória acachapante, como foi o homem de Tiananmen [referência aos protestos na China em 1989]. Ficou três anos resistindo a um regime implacável”, acrescenta o advogado espanhol.

É o encerramento de meses de intensas negociações entre o líder do partido Vontade Popular e o Governo da Venezuela. Durante os últimos dois meses, Jorge Rodríguez, prefeito de Libertador (Centro-Oeste de Caracas), e sua irmã Delcy, ex-chanceler do Governo de Nicolás Maduro, visitaram-no várias vezes para lhe transmitir as ofertas do regime. Algumas dessas conversas foram presenciadas pelo ex-presidente da Espanha José Luis Rodríguez Zapatero, que esteve pela última vez em Caracas na semana passada.

No início de junho López esteve a ponto de sair da prisão, mas sua mulher, Lilian, informou que o dirigente rejeitou tal possibilidade. Na Venezuela ocorreram então —e continuam ainda— intensas manifestações da oposição tentando desalojar Maduro antes do tempo, depois que o Supremo, no final de março, por meio de duas sentenças, deslegitimou o Parlamento e, em maio, convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para redigir uma nova Constituição. Leopoldo López temia que sua libertação fosse interpretada como um gesto de capitulação.

No final de junho, López denunciou aos gritos, de sua cela, que estava sendo torturado. “Estão me torturando! Denunciem!”. A acusação foi divulgada em vídeo publicado na conta do Twitter de sua esposa, Lilian Tintori, que afirmou então que estava havia 20 dias sem poder ver seu marido. Nesta sexta-feira, Tintori revelou nas redes sociais que pudera ver López durante uma hora. Tinha exigido voltar a visitá-lo neste sábado junto com seus filhos.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_