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De alternativa ao PT, a um dos principais alvos da Lava Jato: o retorno de Aécio ao Senado

Senador pelo PSDB de Minas deve proferir discurso de defesa 48 dias após ser afastado das funções parlamentares

Aécio, em agosto de 2016, no Senado.
Aécio, em agosto de 2016, no Senado.Cadu Gomes (EFE)

Há quase três anos, Aécio Neves usava as tribunas por onde passavam para se apresentar como a melhor alternativa para retirar o PT da presidência da República. "Ninguém aguenta mais a corrupção do PT" , repetiu várias vezes. Nesta terça-feira, 48 dias após ser impedido de exercer suas funções parlamentares, o senador pelo PSDB de Minas Gerais deverá proferir mais um discurso. Só que dessa vez, para se defender de uma série de acusações que só o afundam em lamaçal do qual terá severas dificuldades de sair.

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Acusado de receber 2 milhões de reais como propina e flagrado em diálogos não republicanos com executivos da J&F que admitiram corromper políticos, entre eles o presidente Michel Temer (PMDB), o parlamentar tucano tenta traçar duas estratégias essenciais para si e para a própria família. Na seara política, quer evitar ser enterrado. Na esfera pessoal, lutará para ver o Judiciário absolver a si, sua irmã, Andrea Neves, e um primo, Frederico Pacheco, das acusações de corrupção passiva e obstrução da Justiça. Andrea, acusada de pedir a propina, e Pacheco, apontado como quem pegou o dinheiro ilícito, cumprem prisão domiciliar e são monitorados por tornozeleiras eletrônicas.

Nesta segunda-feira, Aécio, que por ter foro privilegiado segue sua vida normalmente, passou boa parte do dia discutindo com assessores os detalhes do discurso que deverá fazer entre terça e quarta. Autorizado pelo ministro Marco Aurélio Mello a voltar a ocupar o cargo de senador por Minas Gerais, ele deverá usar a tribuna para dizer que foi injustamente envolvido em uma trama criada por Joesley Batista, o sócio da J&F (a controladora da JBS). O próprio senador admitiu que recebeu os 2 milhões de reais de Joesley, mas diz que o valor foi um empréstimo para que ele pudesse pagar seus advogados. E, certamente, os gastos com advogados tomarão boa parte de seu patrimônio – estimado na eleição de 2014 em 2,5 milhões de reais. Atualmente, o parlamentar responde a pelo menos sete inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Vão desde a acusação de receber 30 milhões de reais da Odebrecht, conforme delatores dessa empreiteira, até o de obstruir a justiça.

Depois de perder o segundo turno da eleição de 2014 por uma estreita margem para Dilma Rousseff (PT), Aécio era tido como nome certo do PSDB para eleição de 2018. Hoje não figura nem como o virtual candidato do partido nas pesquisas dos mais diversos institutos que analisam a opinião pública. Pessoas próxima a ele dizem que, antes da delação da JBS e já envolvido na Lava Jato, ele pensava em concorrer ao cargo de deputado federal, apenas para manter seu foro privilegiado e tentar ter alguma influência política. Contudo, o turbilhão dos últimos dias e as seguidas explicações que é obrigado a dar por conta dos esquemas de corrupção o fizeram a repensar sua carreira. Antes cercado de aliados, sua liderança dentro do PSDB e no Planalto Central já passa a ser questionada.

Influência em queda

Assim que foi afastado das funções parlamentares, Aécio licenciou-se da presidência do PSDB. Seu retorno ao cargo ainda é incerto. As alas jovens e os neófitos na legenda, como o prefeito paulistano João Dória, defendem sua saída definitiva da função do partido. E mais, assumem que ele não tem mais respaldo para defender o apoio ao Governo Temer. Mas seus antigos defensores ainda dizem que o senador merece mais um voto de confiança. “Não vejo por que não poderia reassumir a presidência do PSDB. O partido vai ser mais realista que o Judiciário, que lhe deu o direito à dúvida?”, questionou o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), um dos tucanos mais próximos a Aécio.

Na visão de Pestana, o senador teve apenas “um diálogo infeliz com o Joesley que estava treinado para criar arapucas”. “Ele [Aécio], infelizmente teve o pior momento de sua trajetória política naquele diálogo. Mas agora, o cenário está tudo muito embaralhado”.

Líder do Governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), outro investigado no STF, diz que Aécio retornará ao Legislativo no momento em que achar mais adequado e que a situação atual é de “normalidade”. Jucá, no entanto, conta com o retorno do tucano para garantir que os demais peessedebistas votem a favor da reforma trabalhista, que deve começar a ser debatida e nesta semana e votada na próxima.

Para Ricardo Costa de Oliveira, professor de sociologia política da Universidade Federal do Paraná, o retorno de Aécio ao Senado é a continuidade da mesma composição que está no poder desde a queda de Rousseff. “O Aécio é um símbolo dessa classe dominante tradicional. Indivíduos desse estatuto geralmente gozam de grandes franquias e impunidade no Brasil”.

Além do campo jurídico, Aécio já terá de resolver uma questão no curto prazo. A Comissão de Ética deverá analisar se abre um processo contra ele por quebra de decoro parlamentar. Na primeira tentativa de reabrir o caso, o processo foi enterrado com uma simples canetada do presidente do colegiado, João Alberto Souza (PMDB-MA). Ao engavetar a denúncia protocolada pelo partido Rede Sustentabilidade, João Alberto seguiu um pedido do Governo Temer. Cinco senadores recorreram da decisão e o presidente da comissão tirou uma licença médica no mesmo dia que o recurso foi apresentado. Nos próximos dias, o vice-presidente da comissão, Pedro Chaves (PSC-MS), um dos signatários do recurso, deverá decidir se coloca em votação o pedido de reabertura do caso, o que poderia gerar a cassação do mandato do tucano.

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