_
_
_
_

Com áudios de Temer e cerco a Aécio, Lava Jato se descola do rótulo anti-PT

Após três anos de investidas midiáticas centradas no PT e aliados, operação surpreende com tucano afastado e prisão de sua irmã, além da exposição do presidente

Gil Alessi

A operação Lava Jato fez, nesta quinta-feira, um de seus movimentos mais ousados em mais de três anos de existência. Com o presidente nacional do PSDB Aécio Neves (MG) afastado do Senado a pedido da Procuradoria Geral da República, sua irmã Andrea presa preventivamente e o presidente Michel Temer com o mandato por um fio, a operação golpeia ao mesmo tempo o Governo e seu principal partido de apoio. Até então o caso construído pelos procuradores tinha como foco principal o PT e aliados, e seus negócios escusos com empreiteiras e a Petrobras. As delações do fim do mundo da Odebrecht começaram a rachar este paradigma, atingindo caciques tucanos, do PMDB, DEM e PSD. Mas ainda não havia uma investida midiática como a prisão de José Dirceu, ou de Antonio Palocci, grandes nomes do partido petista, ou dos peemedebistas Eduardo Cunha e o ex-governador Sergio Cabral. Agora, a colaboração premiada de Joesley Batista, da JBS, estilhaça de vez a imagem do establishment político e faz de Brasília terra arrasada.

O presidente Michel Temer, em pronunciamento na quinta-feira em que descartou renunciar.
O presidente Michel Temer, em pronunciamento na quinta-feira em que descartou renunciar.UESLEI MARCELINO (REUTERS)

A esquerda, sempre crítica à Lava Jato e a seus métodos, não deixou de celebrar a investida contra os tucanos, esquecendo, ao menos temporariamente, as mágoas. Mudam os partidos, segue o mesmo modus operandi da Lava Jato: vazamentos seletivos feitos com um timing que retrata uma agenda própria da procuradoria. As informações da delação de Joesley foram repassadas ao jornal O Globo em um momento no qual o Governo Temer parecia próximo de alcançar seu maior objetivo: a aprovação das reformas trabalhistas e da Previdência. Além disso, nas últimas semanas o Congresso votou uma série de temas sensíveis para o Ministério Público, como uma lei para punir abuso de autoridade, amplamente criticada pelos procuradores. Parte do material divulgado das delações traz uma transcrição e diálogo entre Aécio e Joesley no qual eles conversam sobre um acordão envolvendo todos os partidos atingidos pela Operação para anistiar o caixa 2, o que na prática inviabilizaria muitos dos processos da Lava Jato.

Mais informações
Temer: “Não renunciarei”
Janot pede prisão de Aécio, mas STF nega
Caso Temer deixe a presidência: diretas ou indiretas?
Nas mãos da Câmara um eventual processo criminal ou impeachment

Os vazamentos jogam areia nos planos de Temer, que comemorava uma tímida melhora nos indicadores econômicos. Para o cientista político Antonio Lavareda, da Universidade Federal do Pernambuco, “existe uma janela de tempo para que as reformas sejam aprovadas. Assuntos como esse dificilmente terão andamento em ano eleitoral”. Para o professor, “caso a situação em Brasília não seja pacificada em breve se perderá esta janela temporal”. Agora, com o iminente desembarque de parte de sua base aliada do Governo, a tarefa que já não era fácil se complica. O peemedebista fez pronunciamento em rede nacional na tarde desta quinta no qual afirmou que os indicadores “criaram esperança de dias melhores”, e negou a prática de qualquer ilícito.

Por sua vez, Aécio divulgou nota se dizendo “absolutamente tranquilo quanto à correção de seus atos”. Posteriormente, a assessoria do senador afastado afirmou que ele iria se licenciar da presidência do partido. “Em razão das ações promovidas no dia de hoje contra mim e minha família, quero afirmar que, a partir de agora, minha única prioridade será preparar minha defesa e provar o absurdo dessas acusações e o equívoco dessas medidas”, afirmou me nota.

O braço curitibano da Lava Jato, que tem no juiz Sérgio Moro sua cara mais conhecida, é frequentemente criticada pela partidarização do caso. Cabe ao magistrado julgar os casos da operação na primeira instância, como o do ex-presidente Lula e do ex-deputado Eduardo Cunha. Lula, que é réu em cinco processos, deve ser sentenciado por Moro na ação que trata de ocultação de patrimônio envolvendo um tríplex no Guarujá até julho. O juiz já mostrou que sabe fazer uso do timing político: tirou o sigilo dos grampos feitos sobre Lula e a então presidenta Dilma Rousseff nos quais discutia a nomeação do ex-presidente para um ministério como estratégia para lhe garantir direito ao foro privilegiado. Os áudios fizeram com que o ministro do STF Gilmar Mendes, suspendesse a indicação de Lula.

Após a divulgação de reportagem do jornal O Globo sobre os grampos implicando Aécio e Temer, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa de Curitiba, desabafou nas redes sociais. “Enquanto diziam que éramos contra um partido ou outro, a Procuradoria da República se manteve firme na sua tarefa de revelar a corrupção político-partidária sistêmica que mina todos os esforços da população para trabalhar e crescer por esforços e méritos próprios”, escreveu.

De forma inédita desde o início da operação, a PGR também cortou na própria carne. De acordo com o procurador-geral, “o sucesso desta etapa [da operação], contudo, tem um gosto amargo para a nossa instituição. A pedido de Janot, Fachin determinou a prisão preventiva do procurador Ângelo Goulart Villela e do advogado Willer Tomaz. A PGR determinou o afastamento de Villela de suas funções no Ministério Público Federal e a exoneração do servidor da função de assessor da Procuradoria-Geral Eleitoral no Tribunal Superior Eleitoral. Em nota, Janot afirmou que eles são investigados “por tentativa de interferir nas investigações da referida operação, que envolve o Grupo J&F, e de atrapalhar o processo de negociação de acordo de colaboração premiada de Joesley Batista”.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_