Espanha aprova exumação dos restos mortais do ditador Franco
Destino de Franco ainda é incerto, possivelmente o panteão familiar no cemitério de Mingorrubio
Os restos mortais de Francisco Franco, o ditador que entre 1939 e 1975 impôs na Espanha um regime repressivo apoiado no terror e no ultraconservadorismo social e político, encontram-se a uma hora de carro do centro de Madri. Para sermos mais exatos, estão logo depois da loja de presentes, depois das estátuas de anjos com espadas e uma tapeçaria com os quatro cavaleiros do apocalipse. Não muito longe dali há uma cruz de 150 metros de altura. Tudo foi construído, pelo menos a maior parte, por milhares presos que haviam confrontado o regime de Franco em algum momento de suas vidas. Aqui no mausoléu do Vale dos Caídos, nesta meca para turistas mórbidos e para os cada vez menos numerosos simpatizantes do franquismo, o ditador pretendia passar à eternidade. Agora, o Parlamento espanhol decidiu que tem outros planos.
Em uma sessão plenária nesta quinta-feira, aprovou-se uma proposta do Partido Socialista que prevê a exumação dos restos de Franco, para que o monumento “deixe de ser um lugar de lembranças franquistas e católicas e se transforme em um símbolo de irmanação e reencontro”. A medida também determina a elaboração de um censo completo das infraestruturas para colocar placas em memória de vítimas de represálias, e que seja estudada a criação de bancos de DNA para a identificação de desaparecidos.
A aprovação da medida, com 198 votos, não tem peso legal, apenas valor simbólico e político. E abre agora a incógnita sobre o que fazer com o cadáver do ditador. A opção mais popular é a cripta do panteão familiar onde desde 1988 está sepultada sua mulher, Carmen Polo Martínez-Valdés. Fica na colônia militar de Mingorrubio, a 15 quilômetros do centro de Madri.
O Vale dos Caídos foi construído entre 1940 e 1958 por milhares de presos políticos que perfuraram 200 metros de uma montanha de rocha para erigir uma basílica sobre a qual se ergue uma cruz de 150 metros de altura por 50 de envergadura nos braços, com enormes figuras de evangelistas do escultor Juan de Ávalos.
Em seu interior estão depositados os restos mortais de até 36.000 combatentes da Guerra Civil Espanhola (1936-39) recolhidos sem prévia consulta aos familiares. Inicialmente, seriam só os caídos do lado franquista, mas, segundo fontes que trabalharam na construção, pressões de Washington durante a negociação dos acordos hispano-americanos de 1953, solicitando um gesto de Franco para a Espanha derrotada, determinaram que caídos republicanos também fossem sepultados sob a gigantesca cruz.
Dotar o conjunto monumental de um conteúdo simbólico de concórdia, conforme prevê a Lei de Memória Histórica, exigiria retirar os restos de Franco da basílica, o que levou à abertura de negociações extraoficiais com sua família – um diálogo que transcorria, segundo fontes informadas, por “caminhos retos, embora retorcidos” após declarações públicas consideradas ofensivas por alguns dos parentes do ditador.
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