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Boko Haram liberta 82 meninas sequestradas na Nigéria há três anos

Das 276 que foram sequestradas há três anos, 113 seguem em paradeiro desconhecido

As dezenas de crianças libertadas pelo Boko Haram em 2016.
As dezenas de crianças libertadas pelo Boko Haram em 2016.P. O. (AFP)

O grupo terrorista Boko Haram libertou neste sábado 82 das 276 crianças que sequestrou faz três anos em Chibok, no nordeste da Nigéria, como parte de um intercâmbio de prisioneiros com o Governo. Assim o confirmou em um comunicado o presidente nigeriano, Mahamadu Buhari, que, no entanto, não precisa o número de terroristas encarcerados. As 82 jovens chegaram neste domingo a Abuya, a capital do país, de Maiduguri a bordo de seis helicópteros militares para serem recebidas pelo chefe de Estado em pessoa. Outras 113 jovens seguem em paradeiro desconhecido.

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“O presidente Mahamadu Buhari se compraz em anunciar que as negociações para libertar mais crianças de Chibok deram resultado. Hoje, outras 82 foram libertadas”. Com estas palavras, o porta-voz do presidente Garba Shehu dava a conhecer a notícia, assegurando que “depois de longas negociações, nossas agências de segurança trouxeram de volta estas garotas em troca de alguns suspeitos de pertencer ao Boko Haram retidos pelas autoridades”. Buhari quis também expressar sua gratidão à ajuda prestada pelas forças da ordem, o Exército, o Governo suíço, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha e ONG locais e internacionais.

Os pais são informados da operação a todo momento. Segundo fontes militares, as crianças foram transladadas em vários veículos a partir de um bosque próximo à localidade de Banki, próxima à fronteira de Camerún, até barracões do Exército no sábado à tarde e, desde ali, foram levadas em avião a Maiduguri para viajar a Abuya neste domingo.

Foi em 13 de abril de 2014, em um dos momentos de maior expansão territorial do Boko Haram. Membros desse grupo terrorista que declarou a guerra à educação ocidental e ao Governo nigeriano penetravam em um centro de educação secundária de Chibok, uma localidade do nordeste do país, e sequestravam 276 adolescentes, de entre 12 e 17 anos, que estavam fazendo provas. Em um primeiro momento, 57 delas conseguiram escapar de seus captores, mas o resto desapareceu na intrincada nuvem de bases e acampamentos do grupo terrorista.

O sequestro deu a volta ao mundo devido a uma intensa campanha de denúncia iniciada pelos pais e familiares das crianças que contou com o apoio nas redes sociais de personalidades que fizeram fotos com o lema #BringBackOurGirls, como a então primeira dama norte-americana Michel Obama. No entanto, tiveram de se passar mais de dois anos para que as primeiras 21 fossem libertadas, em outubro de 2016, graças a negociações entre a seita radical e o Governo, também com o apoio da Cruz Vermelha. Outras três foram localizadas e devolvidas a suas famílias depois de uma operação militar no bosque de Sambisa, um dos principais feudos de Boko Haram que caiu em mãos do Exército em dezembro passado.

Durante seu longo cativeiro, muitas das crianças foram casadas à força com suas captores e violadas ou abusadas sexualmente, o que provocou que algumas tivessem bebês. Mesmo assim, existem fundadas suspeitas de que algumas delas possam ter sido vendidas em redes de tráfico em países vizinhos, como Chade e Camerún, ou inclusive usadas como terroristas suicidas em algum atentado.

As negociações não apenas foram longas, como complexas. Em ao menos duas ocasiões (maio de 2014 e agosto de 2016) o líder do grupo terrorista, Abubakar Shekau, exigiu do Governo nigeriano que se sentasse a negociar a libertação de presos em troca das crianças, mas o Executivo presidido por Buhari sempre se negou publicamente a este tipo de intercâmbios. Apesar disso, as conversas seguiam. Além das crianças de Chibok, centenas de pessoas, entre elas mulheres e crianças, seguem sequestradas por esse grupo jihadista radical.

Boko Haram, o grupo terrorista mais sanguinario da África, provocou 20.000 mortos, 1,5 milhões de deslocados internos e refugiados e uma crise humanitária sem precedentes no nordeste da Nigéria em seus oito anos de insurgência. A reação do Exército nigeriano em coordenação com as Forças Armadas de países vizinhos como Chade, Níger e Camarões a partir de 2015 conseguiu fazer a seita até retroceder a seus últimos refúgios nas zonas fronteiriças e no lago Chade, bem como criar divisões internas em seu seio. No entanto, ela continua sendo capaz de provocar atentados suicidas e lançar ataques mortais, como o que ocorreu no último 5 de maio em uma base militar do Chane, no qual faleceram nove soldados e cerca de 40 terroristas.

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