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Muro de Trump já está funcionando

Agressividade do presidente contra os imigrantes prendeu famílias em suas casas e provocou uma queda drástica da imigração ilegal

Pablo Ximénez de Sandoval
Um imigrante do Sri Lanka, em sua casa em San Diego.
Um imigrante do Sri Lanka, em sua casa em San Diego.REUTERS

O muro de Donald Trump é uma realidade. Existe, funciona. Mas não se vê. É um muro de palavras, uma retórica furiosa contra os imigrantes como os Estados Unidos não escutavam há décadas. O novo Governo norte-americano chegou com uma mensagem clara: não queremos que vocês venham. Serão presos, não terão nenhuma chance. E os que já estão aqui dentro, queremos que saiam. Tornaremos sua vida impossível até que partam. Se alguém levou Donald Trump a sério foram os imigrantes. Para sua administração, é um sucesso. Para os países de origem e as cidades onde vivem, é uma preocupação. Para as famílias sob risco de separação, é uma tragédia.

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Em 11 de março, durante uma conferência sobre segurança na fronteira em San Antonio, Texas, o diretor de compras da polícia de fronteira, Mark Borkowski, fez uma exposição reveladora. Borkowski relatava como nas últimas décadas se investiu em tecnologia, cercas e mobilização de policiais na Califórnia, Arizona e Texas, e em geral as chegadas de imigrantes ilegais variavam para mais ou para menos. Até novembro de 2016. “Eu me pergunto o que aconteceu em novembro...”, disse Borkowski, enquanto entre o público, formado por profissionais de segurança, se ouviam risadas.

Em novembro foram presas 66.363 pessoas tentando cruzar a fronteira ilegalmente. Em dezembro foram 58.431. Mas além disso ocorreu uma redução de dezembro a janeiro, e em fevereiro, e em março. “Em toda a história das estatísticas da Patrulha de Fronteira, desde os anos 50, é a primeira vez que isso ocorre”. O número de prisões nunca havia diminuído entre janeiro e março. “Eu me pergunto o que aconteceu em janeiro...”, voltou a brincar Borkowski.

O número de prisões não é o único indicador para saber se chega menos gente ilegalmente aos Estados Unidos. Mas se é preciso prestar atenção em um, é o mais significativo. Além disso, explicou Borkowski, existem outros detalhes que os profissionais podem observar. Por exemplo, se em um lugar costumavam surgir pegadas de andarilhos e de um dia para o outro deixam de aparecer.

Para os profissionais de segurança, é evidente que a vitória de Donald Trump, por si própria, tornou a fronteira mais segura. O muro de desprezo está funcionando. As ordens executivas de 25 de janeiro mandavam iniciar a construção de um muro, contratar milhares de agentes para deter imigrantes, procurar a colaboração das polícias locais e impedir qualquer entrada ilegal. De tudo isso, só o último item aconteceu.

Ronald Vitiello, chefe da polícia de fronteira, disse na mesma conferência que a política de prender e soltar em função da periculosidade do indivíduo “incentivava a vinda”. A nova ordem é que ninguém sairá da prisão até que seja julgado e deportado. O promotor geral, Jeff Sessions, anunciou ao lado do muro de Nogales uma mobilização sem precedentes de promotores e juízes para agilizar o processo. Os números indicam que foi o suficiente para que Donald Trump coloque a redução histórica em imigração como um sucesso de seus primeiros 100 dias.

A outra frente das ordens executivas é deportar os aproximadamente 11 milhões de ilegais que vivem nos Estados Unidos, um número impossível de se lidar após 30 anos com o caminho à regularização bloqueado. Os números indicam que Trump e Sessions não deportaram mais gente do que o ano mais rígido de Barack Obama. Mas deportaram mais pessoas comuns, que não tinham problemas com a lei e que até agora pensaram que em se evitando a polícia poderiam viver tranquilas.

A polícia de fronteira não tem capacidade legal para deportação em grande número (por isso a polêmica com as cidades santuário, que se negam a ajudar nessa tarefa). Mas bastaram alguns casos isolados para se transmitir a sensação de que ninguém está a salvo: uma mãe de três filhos cidadãos norte-americanos no Arizona, outra mãe em Ohio, três dreamers que a princípio estavam legalmente protegidos, um homem que acabava de deixar sua filha no colégio... O impensável é real, o temor é real, até o ponto em que a polícia de Los Angeles afirma que a denúncia de crimes diminuiu porque existe toda uma população que começa a ter medo de fornecer seus dados a qualquer autoridade.

Recentemente, um funcionário de alto escalão mexicano confessou que seu medo é que todo o aparato propagandístico de Trump e Sessions, praticamente impossível de se colocar em andamento na prática, tivesse na realidade um objetivo: a autodeportação das pessoas. Que elas cheguem à conclusão de que não vale a pena viver assim, da mesma forma que aparentemente milhares chegaram à conclusão de que não vale à pena se arriscar a viajar aos Estados Unidos. O muro do medo já está funcionando

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