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Los Angeles e Nova York declaram guerra à Washington de Trump

Los Angeles proíbe funcionários de colaborar com o Governo federal em imigração Em Nova York, o governador Andrew Cuomo e o prefeito Bill de Blasio criticam o presidente

Pablo Ximénez de Sandoval

A rebelião das grandes cidades dos Estados Unidos contra Donald Trump vai tomando forma. Em Nova York, o governador Andrew Cuomo e o prefeito Bill de Blasio se declararam em guerra contra o presidente. Os dois dirigentes democratas consideram que as prioridades orçamentárias e a reforma sanitária de Trump são um verdadeiro “perigo” para os cidadãos. Já em Los Angeles, essa rebelião se concretizou na terça-feira como um decreto municipal que proíbe qualquer tipo de contato dos funcionários da cidade com a polícia de imigração federal. Trata-se de uma questão fundamental de segurança pública. O Departamento de Polícia da cidade acionou o alarme com dados inquietantes que já mostram uma diminuição da confiança dos latinos nas forças policiais.

O chefe de policial de Los Angeles, Charlie Beck.
O chefe de policial de Los Angeles, Charlie Beck.AP
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Os dados foram divulgados pelo chefe de polícia, Charlie Beck, e pelo prefeito Eric Garcetti, durante um evento na região leste de Los Angeles, o coração latino da cidade. Desde janeiro, a população hispânica local (mais de 48%) denunciou 25% dos estupros e 10% menos casos de violência doméstica em comparação com o mesmo período do ano anterior. Os crimes não diminuíram na mesma proporção e a redução das denúncias não ocorreu em outras etnias da cidade.

“Apesar de não haver provas de que essa redução esteja relacionada à preocupação da comunidade hispânica com a imigração, o Departamento acredita que o medo de deportação pode estar fazendo os hispânicos hesitarem em denunciar quando são vítimas”, disse Beck. Ele não acusou diretamente Trump de estar atemorizando os moradores, mas não foi preciso.

“Essas políticas estão tornando nossas cidades menos seguras”, disse o prefeito Eric Garcetti em um dos quatro eventos sobre imigração realizados na terça-feira, em uma maratona que evidencia o estado de alerta em Los Angeles. Garcetti começou a jornada às 6h em um programa especial da emissora local da Univision sobre os direitos dos imigrantes. Em seguida realizou uma teleconferência com outros prefeitos e participou de mais dois eventos, com comunidades de imigrantes para assegurar que “a cidade está aqui para protegê-los”.

“Quando as testemunhas não falam porque têm medo, quando um pai deixa de levar a filha ao colégio porque teme ser preso, a cidade toda se desgasta, nos tornamos menos seguros. Podemos ver o número de crimes aumentando e as pessoas voltando a viver escondidas”, disse Garcetti ao EL PAÍS ao fim de um desses eventos.

Segundo estimativas, 38% da população de Los Angeles é estrangeira e mais de 800.000 imigrantes que vivem ali estão em situação irregular. A política de não colaboração da polícia de Los Angeles com a imigração federal remonta a um decreto de 1979. Foi mantida durante décadas por governos democratas e republicanos porque ficou claro que, se a população latina (50% da cidade) tivesse medo da polícia, seria impossível desenvolver uma política de segurança.

O novo decreto municipal estende essa política ao corpo de bombeiros e às polícias portuárias e aeroportuárias. Também assegura a confidencialidade dos dados fornecidos para acessar serviços municipais (por exemplo, o cadastro em uma biblioteca) e obriga todo funcionário municipal a comunicar qualquer tentativa por parte da polícia de imigração de obter sua colaboração.

A ação do Governo municipal tem algo de simbólico, mas vem em um momento em que os símbolos são importantes. Precisamente nesta terça-feira, o procurador-geral dos Estados Unidos, Jeff Sessions, acusou diretamente as cidades que não colaboram com a imigração, chamadas cidades-santuário, de serem uma ameaça para a segurança pública. O Governo Trump apoia sua agressividade contra os indocumentados, uma população de 11 milhões de pessoas, apresentados como criminosos fora de controle. Ações como a de terça-feira em Los Angeles têm como objetivo mostrar a realidade contrária, que a agressividade nas detenções e deportações leva milhões de pessoas a se esconderem e prejudica a ação policial nas grandes cidades. “Pergunte aos chefes de polícia por que adotam essa política, em vez de tentar obrigá-los a mudar”, disse Garcetti de forma retórica sobre Trump.

O presidente ameaçou cortar recursos federais de estados e municípios que se recusarem a aplicar suas políticas. Nesse sentido, o prefeito afirma estar convencido de ter a Constituição do seu lado. Entre outros precedentes, a decisão do Supremo Tribunal sobre a reforma sanitária de Barack Obama estabelecia que os recursos federais não podem estar condicionados à aplicação da agenda política do presidente.

O “Dia da Ação em Imigração” promovido por Garcetti foi realizado em conjunto com outras 60 cidades norte-americanas. “Não se trata unicamente de Los Angeles, apesar de sermos o marco zero desse problema. Não se trata de Nova York ou Chicago. É uma questão que afeta cidades pequenas em todo o país. Hoje tivemos a participação de prefeitos de 31 estados”.

Nova York

Enquanto isso, em Nova York, é o governador Andrew Cuomo que dirige suas baterias contra Trump. Segundo ele, as políticas do presidente podem ser "devastadoras". “Se lembrasse de onde vem, se escutasse as vozes dos que foram seus vizinhos, talvez lhe ajudasse a se dar conta de que precisa seguir outro caminho”, comentou o prefeito Bill de Blasio. Cuomo, que desponta como aspirante a grande contraponto político de Trump, vai além e considera que os planos de Trump atentam diretamente contra os valores sobre os EUA se sustentam.

Nova York deve ser a ponta de lança no âmbfito das políticas para a proteção do meio ambiente, a categoria que mais perde no novo orçamento federal. E, embora tenha sido reforçado o recurso para o Departamento de Segurança Nacional, as prioridades da Casa Branca vão estão mais para reprimir com dureza a imigração ilegal e cortar os recursos às cidades-santuário.

James O´Neill, comissário da polícia de Nova York, calcula que seu departamento vai perder até 190 milhões de dólares se a proposta orçamentária prosperar nos termos atuais. O principal prejudicado será o aparelho antiterrorista que se montou durante os últimos anos para se adaptar às novas ameaças. “É absolutamente crítico que chegue esse dinheiro”, afirmam as autoridades locais, que não ocultam sua raiva e se apresentam desafiadores.

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