O sorriso que irritou um manifestante da extrema direita na Inglaterra
“Os dois rostos são tão expressivos que contam em si mesmos toda uma história, que atingiu as pessoas”, diz o autor da imagem
Ian Crossland, líder do grupo de extrema direita English Defence League (EDL), vociferava contra uma jovem de Birmingham durante uma manifestação organizada pelo seu grupo nessa cidade britânica, como reação ao atentado de Londres de 22 de março passado. A atitude da moça, identificada como Saffiyah Khan e que em nenhum momento deixou de sorrir e de se mostrar tranquila diante da agressividade de seu interlocutor, atraiu a admiração da deputada trabalhista Jess Phillips. Sua mensagem no Twitter ajudou a viralizar a imagem que registra o momento, captada pelo fotógrafo Joe Giddens.
Who looks like they have power here, the real Brummy on the left or the EDL who migrated for the day to our city and failed to assimilate pic.twitter.com/bu96ALQsOL
— Jess Phillips MP (@jessphillips) April 8, 2017
“Quem parece ter o poder aqui: a verdadeira garota de Birmingham ou o homem da EDL, que emigrou para nossa cidade por um dia e não conseguiu se integrar?”, pergunta Jess Phillips em sua mensagem.
“Uma imagem não mente jamais. Os rostos dos dois são tão expressivos que contam em si mesmos uma história, que atingiu as pessoas”, diz ao telefone o autor da foto, que trabalha para a agência Press Association. O tuíte da parlamentar britânica teve 18.000 “curtidas” e foi compartilhado 10.000 vezes em pouco mais de um dia. Outras mensagens posteriores a ele chegaram a ultrapassar esses números.
Saffiyah Khan, nascida no Reino Unido, afirmou à imprensa britânica que se aproximou da manifestação organizada pelo grupo ultraconservador por causa do histórico do EDL, associado à violência de rua e à incitação ao ódio contra a comunidade muçulmana, à qual ela pertence. A protagonista da imagem declarou à BBC que, à certa altura, tentou ajudar uma mulher que usava véu e que estava cercada por um grupo de 25 homens por ter gritado “islamofóbicos” em direção a eles.
O líder da EDL criticou Saffiyah Khan logo depois desse incidente, que teria interrompido o minuto de silêncio em homenagem às vítimas do atentado de Londres. Este é o momento que se vê na imagem. “O minuto de silêncio tinha acabado havia uns três ou quatro minutos. Não consegui ouvir o que Ian Crossland dizia e não diria que sua atitude tenha sido violenta, embora ele estivesse muito irritado”, diz o fotógrafo que registrou o fato.
Um outro tuíte, publicado pelo trabalhista David Lammy, mostra uma outra imagem, também captada por Giddens. Nela é possível ver como um policial é obrigado a segurar a mão do líder ultradireitista enquanto a jovem continua a sorrir, com as mãos nos bolsos.
Já em 2010, pouco depois da criação da EDL, a polícia alertava publicamente sobre as atividades desse grupo, afirmando que elas só servem para “reforçar o extremismo islâmico”.
So much love for this. Second photo of Saffiyah Khan staring down the EDL with a smile is even better. Solidarity, sister 👊👊👊👊✊✊✊✊ pic.twitter.com/jbz9ZmXWWQ
— David Lammy (@DavidLammy) April 9, 2017
"Encanta-me. A segunda foto de Saffiyah Khan olhando fixamente a EDL com um sorriso é ainda melhor. Solidariedade, irmã".
A manifestação de Birmingham foi a primeira da EDL que Joe Giddens acompanhou como repórter fotográfico. Segundo o seu relato, houve no ato “um pouco de confronto, mas em nenhum momento se chegou à violência física”. O britânico afirma que cerca de 100 pessoas participaram do ato, número bastante inferior ao registrado em uma festa realizada horas antes em uma mesquita da cidade e que ele também registrou com sua câmera.
O importante apoio de Jess Phillips
Não é por acaso que a imagem de Saffiyah Khan encarando o líder da English Defence League, Ian Crossland, tenha sido popularizada justamente pela deputada trabalhista Jess Phillips.
A parlamentar de Birmingham instalou em 2016 uma espécie de “bunker” blindado em seu escritório após ter recebido ameaças contra a sua segurança. O fato aconteceu poucas semanas depois de sua colega de partido Jo Cox ter sido assassinada por um homem com ligações com a extrema direita.
Apesar das ameaças, ela declarou então ao The Guardian que não planejava deixar o cargo. Meses antes, o jornal havia classificado a parlamentar como uma pessoa "em quem se pode confiar". Sobre a atitude de Saffiyah Khan, Phillips afirma, agora, que se trata de um "exemplo de esperança".
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