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Rússia busca dois suspeitos do atentado com 11 mortos no metrô de São Petersburgo

Putin diz que, ainda que não sejam conhecidas as causas, indícios apontam para ataque terrorista

Pilar Bonet
A polícia vigia nesta segunda-feira a entrada da estação de metrô do Instituto Politécnico, em São Petersburgo.
A polícia vigia nesta segunda-feira a entrada da estação de metrô do Instituto Politécnico, em São Petersburgo.RUSLAN SHAMUKOV (AFP)

Pelo menos 11 pessoas morreram em consequência de uma explosão nesta segunda-feira no metrô de São Petersburgo, segundo os dados divulgados em um comunicado do Comitê Antiterrorista Nacional (CAN) várias horas depois do impacto, ocorrido por volta das 14h30 (horário local), entre as estações Sennaia Ploshad e Tekhnologicheskii Institut. Seis dos 45 hospitalizados, de acordo com o Ministério da Saúde da Rússia, estão em estado crítico.

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Sennaia Ploshad é um importante entroncamento no metrô peterburguês, que é o quarto da Europa, depois de Moscou, Paris e Londres, e também o mais profundo da Rússia. A carga explosiva, equivalente a 200-300 gramas de trotilo, foi detonada no terceiro vagão de um trem que se deslocava de uma estação a outra e continha materiais cortantes, o que intensificou seu impacto letal no compartimento fechado. Não há registro de turistas entre os mortos, segundo informações da agência oficial TASS. Sete pessoas faleceram no lugar da explosão, uma ao ser transportada e duas no hospital.

O terrorismo parece ser a hipótese mais provável, a julgar pelo rumo das investigações e as declarações oficiais. O porta-voz da Procuradoria, Alexandr Kurenoi, se referiu reiteradamente ao evento como “ato terrorista”. A câmera de vídeo do metrô capturou a imagem do suposto organizador do atentado, de acordo com a agência Interfax, citando fontes a par da situação. Segundo uma versão de testemunhas, difundida pelo canal RenTV, o autor do ataque deixou uma mochila com a carga explosiva no interior do trem antes de se fecharem as portas, ao partir da estação Sennaia Ploshad. O maquinista aparentemente tomou a decisão correta, ao não parar o trem no momento da explosão, o que faria com que as autoridades tivessem de lidar com a explosão e suas consequências no interior do túnel. Ele conduziu a composição até a estação seguinte, segundo explicou a porta-voz do Comitê de Investigação, Svetlana Petrenko.

Um porta-voz do Comitê Antiterrorista Nacional, Andrei Przhezedomski, confirmou ao canal de televisão Rússia-24 que outra carga explosiva foi detectada na estação Ploshad Vostanie, no centro de São Petersburgo, junto à estação onde chegam os trens de Moscou.

O metrô de São Petersburgo foi fechado momentaneamente e nas ruas da cidade havia enormes congestionamentos. As imagens de televisão mostraram cenas de pessoas fugindo do interior das estações afetadas e cheias de fumaça. As testemunhas do ocorrido disseram que não houve pânico e o ambiente era de solidariedade e de ajuda.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, se encontrava nesta segunda-feira em São Petersburgo para se reunir com seu colega bielo-russo, Alexandr Lukashenko, com quem tem sérias divergências econômicas. Em um tom sóbrio, sem concessões emocionais, Putin disse que estavam sendo investigadas todas as hipóteses. “Ainda não foram averiguadas as causas, por isso é cedo para falar delas. A investigação dirá o que ocorreu, mas, evidentemente, sempre examinamos todas as possibilidades, desde acidente até delito, em primeiro lugar de caráter terrorista”, disse o chefe de Estado russo. As autoridades federais e municipais farão tudo o que estiver em suas mãos para ajudar as vítimas da explosão, acrescentou.

Um dos motivos iniciais alegados pelos dirigentes russos para intervir militarmente na Síria contra o Estado Islâmico foi a necessidade de lutar contra radicais armados oriundos da Rússia e de outros países do espaço pós-soviético, com fins preventivos, ou seja, lutar contra eles no exterior para evitar ter que fazer isso no território nacional. O contingente de cidadãos da ex-URSS que luta nas fileiras do Estado Islâmico é estimado em vários milhares, embora haja discrepâncias sobre as cifras.

O desdobramento dos acontecimentos na Síria e a redução dos domínios do Estado Islâmico leva os especialistas a pensarem na possibilidade de que os guerrilheiros em retirada voltem (com intenções malignas e experientes em combate) a seus lugares de origem, seja no norte do Cáucaso ou na Ásia Central. Nesse sentido, chama a atenção o atentado registrado em 24 de março na localidade de Naurskaia, na Chechênia, no qual seis soldados russos morreram e outros três ficaram feridos, ao serem atacados de surpresa à noite.

O Estado Islâmico assumiu a autoria do atentado, mais especificamente a “Vilaiat Kavkaz”, que adota a ideologia desse grupo no norte do Cáucaso. Segundo o comitê antiterrorista, o ataque foi perpetrado por seis guerrilheiros e todos eles foram mortos pelos soldados da Guarda Nacional.

O chefe de uma associação de organizações antiterroristas, Iosef Linden, disse ao canal de televisão RBK que o ato terrorista de São Petersburgo é dirigido contra o Estado russo e foi perpetrado para desestabilizá-lo. No passado, o presidente Putin invocou atos terroristas para justificar medidas que ampliaram seu poder. A invasão da escola de Beslan, na Ossétia do Norte, foi usada em 2004 para legalizar a nomeação de governadores, em lugar dos governadores eleitos.

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