Movimentos convocam ato contra anistia ao caixa 2 e foro privilegiado
Grupos que pediram saída de Dilma voltam às ruas neste domingo, em meio ao fogo cruzado entre Congresso e a Lava Jato
Passado quase um ano desde que o processo de destituição de Dilma Rousseff foi iniciado na Câmara dos Deputados, grupos como o Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre (MBL) convocam a primeira manifestação de 2017. Os movimentos, protagonistas do impeachment nas ruas, agora colocam o Congresso no foco dos ataques: O protesto deste domingo, convocado em dezenas de cidades, estará mais centrado na oposição à anistia ao caixa 2, ao voto em lista fechada, ao financiamento público de campanha e ao foro privilegiado. Os temas estão alinhados com a Operação Lava Jato, que investiga a corrupção proveniente de caixa 2, mas não tem a força-tarefa mais como tema principal. “A Lava Jato nós sempre apoiamos”, disse Rogerio Chequer, do Vem Pra Rua. “Agora a pauta é pela renovação política”.
De acordo com Chequer, a renovação política abrange essa espécie de "combo", como ele mesmo diz, de medidas que o Congresso quer "empurrar para a sociedade". O voto em lista fechada é uma proposta que prevê que o eleitor vote no partido e não no candidato. A principal crítica à essa medida é que os partidos poderiam esconder nas listas os candidatos implicados em casos de corrupção. A anistia ao caixa 2 é uma emenda que entraria no projeto das 10 medidas contra a corrupção que perdoa os crimes de caixa 2 de campanha praticados pelos partidos. Já o foro privilegiado garante a todos os políticos que somente o Supremo Tribunal Federal (STF) possa julgá-los. "O Congresso quer aprovar a anistia ao crime de Caixa 2 para livrar a cara de dezenas de políticos enrolados na Lava Jato", diz uma publicação na página do Vem Pra Rua no Facebook.
Apesar da concordância em torno desses temas que ameaçam a democracia, segundo dizem as lideranças, a manifestação deste domingo terá outras pautas que não são comuns a todos os movimentos. O MBL e o Nas Ruas, por exemplo, também incluíram na agenda de mobilização o fim do Estatuto do Desarmamento. "Para derrubar um pilar da esquerda, é importante derrubar o estatuto do desarmamento", explica Carla Zambelli, do Nas Ruas. O Estatuto, sancionado pelo ex-presidente Lula em 2003, regulamenta o registro, posse e comercialização de armas de fogo no país. Desde o ano passado, as frentes parlamentares da Segurança Pública, Evangélica e do Agronegócio da Câmara dos Deputados (apelidadas de BBB - Bala, Boi e Bíblia) vêm pressionando Michel Temer pelo direito à posse de armas. "Se a segurança pública é falha e o cidadão de bem está desarmado, ele não tem direito de se defender", diz Zambelli.
A liberação do uso e porte de armas não é, porém, defendida pelo Vem Pra Rua. "Isso não faz parte da pauta do Vem Pra Rua nem para o domingo e nem para o movimento", disse Rogerio Chequer. Outro tema que não tem a adesão de todos os movimentos que estarão no protesto é a reforma da Previdência. O MBL tem uma proposta própria, que, segundo sua página no Facebook, acrescenta novos pontos àquela feita pelo Governo Temer. Carla Zambelli afirma que o Nas Ruas apoia a ideia do MBL. Já Chequer diz que "desconhece" a proposta do outro grupo, mas que sabe da "necessidade de um ajuste previdenciário". Procurado, o MBL não atendeu às ligações da reportagem.
Juntos mas diferentes
As divergências entre esses movimentos já vinha sendo percebido desde o final do ano passado. Em dezembro, data da última manifestação liderada por eles, e a primeira desde que Michel Temer assumiu a presidência, chegou até a ser ventilada a possibilidade de grupos da esquerda participarem do ato. O Vem Pra Rua convocou a manifestação dizendo que "não importa se você é de direita, de esquerda ou de centro. Você tem que ir pra rua protestar contra os corruptos". A frase foi uma fagulha que incendiou muitas discussões de seguidores dos movimentos anti-PT, contrários à presença de grupos de esquerda nas ruas com eles.
Desde então, o Vem Pra Rua vem sendo chamado de um movimento de "centro-esquerda". O rótulo é rejeitado por Rogerio Chquer, que diz não fazer parte desse binarismo. Mas agora nas ruas, a divisão chegou a ser quase física: parte do ato deste domingo em São Paulo sairia em passeata da avenida Paulista até o Largo da Batata, inaugurando um novo formato para esses grupos, habituados a marcar os protestos aos domingos, na avenida Paulista, sem deslocamento.
A reportagem apurou que a ideia surgiu depois que o Vem Pra Rua se negou a seguir a proposta dos demais de não levar caminhão de som para a avenida. O objetivo seria "despersonalizar" o protesto, "como foi em 2013, com todo mundo no chão", segundo pessoas próximas. Com a recusa do Vem Pra Rua de aderir a esse formato, parte dos outros movimentos decidiu sair da Paulista em marcha. Chequer nega qualquer conversa neste sentido. "Foi feita uma reunião junto com a Polícia Militar há um tempão e todo mundo falou dos caminhões que ia levar", disse. Mas, segundo ele, "se andarem [em passeata], eu acho ok. Os esforços são complementares".
Seja como for, a ideia sobre a passeata não está mais em discussão. Carla Zambelli afirma que os movimentos voltaram atrás apenas por uma questão de segurança. "A ideia inicial era essa [de ir até o Largo da Batata], mas a Polícia Militar pediu para que a gente não saísse em passeata, porque isso aumentaria muito a chance de incidentes", disse. "Então, para não colocar em risco a segurança de ninguém, decidimos permanecer na Paulista". Segundo ela, existe a "possibilidade de rachas" entre os movimentos. "Mas onde a gente puder convergir é onde vamos colocar energia".
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