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Prefeito de Buenos Aires inaugura gabinete na favela mais famosa da capital argentina

Horacio Larreta despacha quase toda semana de seu escritório na Villa 31

Carlos E. Cué
Horacio Larreta em frente ao seu gabinete na Villa 31, em Buenos Aires.
Horacio Larreta em frente ao seu gabinete na Villa 31, em Buenos Aires.Daniel Baca

No começo, era muito estranho. Acostumados a viver isolados da cidade, os 40.000 moradores da Villa 31, a favela mais antiga e famosa de Buenos Aires, a apenas 200 metros do bairro mais caro da capital da Argentina, se surpreendiam ao ver o prefeito Horacio Rodríguez Larreta passear por suas ruas. Mas pouco a pouco estão se habituando. “Não afrouxe, careca”, grita-lhe um comerciante, enquanto outros, mais desesperados, se aproximam para pedir trabalho. Larreta abriu um gabinete no coração da villa e quase toda semana vai até lá, atravessando o bairro a pé e conversando com os moradores.

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O escritório é simbólico. Trata-se de moderno edifício de três andares, que contrasta com o caos e a pobreza ao seu redor. Foi construído sobre as ruínas do “galpão do Tarzan”, uma conhecida boca de drogas no bairro. “Esta era a principal sede dos traficantes da favela. Assim queremos dar a ideia de que o Estado chega aonde antes não chegava”, diz Larreta.

Esse “antes” inclui os últimos 10 anos que ele próprio passou no Governo municipal, primeiro como braço direito do hoje presidente Mauricio Macri, e agora como seu sucessor à frente da prefeitura. A Villa 31 cresceu como nunca, piorou muito. Mas Larreta culpa a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner por isso. “Não podíamos fazer obras, são terrenos do Estado, estávamos confrontados. Agora Macri me autorizou a entrar.”

O prefeito precisa vencer duas resistências: a dos moradores da comunidade, que não confiam num poder que sempre quis tirá-los daqui – a área foi ocupada na década de 1930, aproveitando uma lacuna jurídica sobre o uso de terrenos públicos, e até hoje seus moradores não pagam água nem luz –, e a de alguns cidadãos de outros bairros que não gostam da ideia de ver seus impostos gastos em ajudas aos favelados.

As dúvidas dentro do bairro, com exceções – sobretudo os que vivem literalmente debaixo da via expressa que corta a Villa 31 e terão suas casas derrubadas – vão se dissipando pouco a pouco, à medida que os beneficiados percebem que suas casas estão sendo arrumadas e as ruas estão ganhando esgoto e encanamento de água potável. A prefeitura promove uma reforma completa que custará o equivalente a 1,35 bilhão de reais – sendo um terço do valor pago pelo Banco Mundial – e incluirá a mudança no traçado da via expressa.

“Quando você vem toda semana, começam a acreditar em você. Estamos rompendo o círculo vicioso do ceticismo dessas pessoas, que passaram décadas ouvindo promessas. E aí você vê como eles estão”, diz Larreta, enquanto aponta, do seu gabinete, dezenas de cabos elétricos que ligam as casas entre si, a água acumulada, as ruas de barro. Dentro do gabinete, tudo é modernidade. Fora, um desastre impensável numa capital como Buenos Aires. “É uma dívida pendente desta cidade”, admite. A Prefeitura pretende transferir para lá a sede da secretaria municipal de Educação, com 1.500 funcionários públicos que irão se instalar no coração da favela. Atualmente, não há nem sequer uma escola dentro desta minicidade cheia de crianças.

A maioria dos portenhos jamais pisou na villa. Passam por cima dela com seus carros diariamente, veem a miséria impossível de ocultar, mas nunca entram. Larreta e David Fernández, o responsável pelo projeto, sonham com um futuro no qual milhares de cidadãos da capital possam comprar frutas e hortaliças melhores e mais baratas nesta área. Há um enorme galpão que hoje é utilizado para a limpeza de ônibus. “Imagino como [o mercado da] Boquería de Barcelona em alguns anos”, diz Larreta. Difícil conceber algo assim em meio ao pó, ao barulho e ao lixo esparramado. Mas Fernández não duvida: “Isto é como se Buenos Aires fosse uma casa grande, e a Villa 31 fosse um quarto que esteve fechado durante 85 anos. É uma enorme oportunidade”.

As autoridades exalam otimismo e apresentam alguns dados: “Em 2015 houve 30 assassinatos na villa. Em 2016, cinco. Neste ano, até agora, nenhum. Não digo que não se venda droga, mas não é uma zona tomada pela droga”, sentencia Larreta. Nem todos, porém, compartilham do seu entusiasmo, pois a realidade da Villa 31 é muito dura, e alguns temem que tudo isto seja puramente cosmético, sem solucionar o problema de fundo: a desigualdade e a exclusão social. Um terço dos argentinos são pobres, e a villa está aí, a 200 metros do bairro da Recoleta, o mais sofisticado da cidade, recordando diariamente as enormes disparidades sociais que dominam a América Latina.

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