_
_
_
_

Chimamanda: “Pai é verbo tanto quanto mãe”

Escritora nigeriana lança livro 'Para educar crianças feministas' com dicas práticas para uma formação igualitária

Marina Rossi

“Se o seu marido dorme com outra mulher e você o perdoa, será que a mesma coisa aconteceria se você dormisse com outro homem?”. Com esse questionamento, a escritora Chimamanda Ngozi Adichie (Nigéria, 1977) inicia seu mais recente livro. “Se a resposta for “sim”, então a sua decisão de perdoá-lo pode ser uma escolha feminista, já que não tem relação com o gênero”, concluiu a autora. 

Chimamanda Ngozi Adichie, em Columbia, no ano passado.
Chimamanda Ngozi Adichie, em Columbia, no ano passado.Fernando Sancho
Mais informações
Antes morta do que ser uma ‘mãe helicóptero’
Chimamanda Ngozi: “Não há motivos para tanta raiva nos Estados Unidos”
Chimamanda Ngozi Adichie: Crônica de um grande erro

O novo livro da escritora feminista não é, no entanto, sobre relacionamentos. Ao menos não sobre relacionamentos entre casais. Para educar crianças feministas, um manifesto (Companhia das Letras, 14,90 reais) é praticamente um manual com questionamentos e respostas sobre a educação infantil atrelada ao feminismo.

Feito de 15 lições, o manifesto pode ser lido em uma sentada só. Alguns questionamentos são mais complexos, como esse que abre o livro, sobre a vida íntima de um casal. Outros, de fato, são mais simples, como brinquedos com as cores “de menino” e “de menina”, um ponto que já deveria ter sido superado. Mas não está.

Escrito na forma de uma carta que a autora enviou para uma amiga que acabara de ser mãe, o livro é mais um no estilo Chimamanda de questionamentos. Nascida em Enugu, na Nigéria, a escritora hoje vive entre seu país natal e os Estados Unidos. Tornou-se mais conhecida depois que seu romance Americanah (Companhia das Letras) foi lançado, em 2014, e rapidamente se tornou referência para meninas e mulheres de diferentes gerações. Antes disso, porém, Chimamanda já havia publicado Meio sol amarelo (2008) e Hibisco roxo (2011), ambos pela Companhia das Letras. Em 2014, seu primeiro manifesto ganhou forma de livro: Sejamos todos feministas foi um discurso da autora no TED, que acabou adaptado e publicado em 2014.

Agora, a autora recorre ao mesmo formato de manifesto em Para educar crianças feministas. Após o questionamento sobre infidelidade a partir do ponto de vista do gênero, Chimamanda dispara a primeira lição: Não seja definida somente pela maternidade. “Seja uma pessoa completa, nunca peça desculpas por trabalhar. Você gosta do que faz e gostar do que faz é um grande presente que você dá à sua filha”.

Na sequência, a autora coloca novamente os pais em pé de igualdade, ao dizer que “pai é tanto verbo quanto mãe”. “Às vezes as mães, tão condicionadas a ser e a fazer tudo, acabam sendo cúmplices na redução do papel dos pais”, escreve. “Abandone a linguagem da ajuda. Ele não está “ajudando”, está fazendo o que deveria fazer”.

As lições que fazem parte do manifesto de Chimamanda não são somente para mães e pais. Servem para homens e mulheres, solteiros ou casados. Podem, inclusive, ser uma boa alfinetada para aquele tio machista. Nunca é tarde.

Para educar crianças feministas

Algumas das dicas da autora:

"Abandone a ideia de “papéis de gênero”. “Por que você é menina” nunca é razão para nada. Saber cozinhar não é algo que vem pré-instalado na vagina. Cozinhar se aprende".

"Nunca fale do casamento como uma realização. Um casamento pode ser feliz ou triste mas não é uma realização".

"Ensine-a a defender o que é seu. Se outra criança pegar o brinquedo dela sem permissão, diga-lhe para pegar de volta, porque seu consentimento é importante".

"Não pense que criá-la como feminista significa obrigá-la a rejeitar a feminilidade. Feminismo e feminilidade não são mutuamente excludentes".

"Ensine a questionar a linguagem. Uma amiga nunca chama a filha dela de princesa, porque vem carregado de pressupostos sobre fragilidade aí. Decida o que você diz a sua filha."

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_