Presidência de Trump entusiasma o mercado
Com promessas de menor regulamentação e menos impostos, gestão econômica é a única área em que o republicano recebe mais aprovação
Donald Trump tem pulado de incêndio em incêndio durante suas cinco primeiras semanas de presidência: de tramas de espionagem para uma batalha judicial por sua política migratória ou contendas em tom cada vez mais alto com a imprensa. Mas se algo sorri para o republicano é a economia. É o único capítulo no qual Trump, com os índices de popularidade no chão, recebe mais aprovação do que rejeição entre os norte-americanos. Os grandes números mostram a força econômica, herança de Obama, e suas promessas de menor regulação e menos impostos entusiasmaram o mercado. Em meio ao ruído, a nave avança.
“É a economia, estúpido!” é uma frase citada ad nauseam, popularizada por um assessor de Bill Clinton e que significa que, no fim, o que importa na política americana é a marcha da economia e, apesar de qualquer sucesso em outras áreas, como a política exterior, o eleitor precisava ver que a caixa registradora de sua loja ou o cofrinho que guardava na cozinha iam bem. Para Donald Trump pode significar o grande trunfo de seu mandato. Para seus adversários democratas, uma verdadeira dor de cabeça.
Desde que ganhou as eleições, a Bolsa de Nova York subiu mais de 10% e obteve os recordes de costume. A prometida reforma fiscal e os primeiros decretos para reduzir a carga regulatória das empresas (sobretudo dos bancos) se combinaram com a boa marcha disso que se chama economia real. Alguns sintomas são os pedidos de autorização para construir novas moradias, que aumentaram 4,6%, ou as solicitações de auxílio desemprego, que estão em níveis mínimos há 40 anos. O clima também conjurou em favor de Trump, entregando um inverno ameno e agitando um consumo que atualmente costuma se retrair por conta das nevascas.
Assim, enquanto a agitação política e social ocupa as principais manchetes da imprensa, a economia mais potente do planeta ganhou isso que os norte-americanos gostam de chamar de momentum. Talvez nenhum desses números específicos esteja na cabeça do eleitor da Pensilvânia que lhe deu a vitória em novembro, mas explicam seu entusiasmo.
Gallup, a empresa de análises e pesquisa dedicada a medir a temperatura da sociedade norte-americana, perguntou a opinião sobre o papel de Trump em quatro aspectos que marcaram suas primeiras semanas (economia, comércio exterior, imigração e relações exteriores) e o único terreno em que o republicano conseguiu maior índice de aprovação (48%) que de rejeição (47%) é a economia. E Pew, outro instituto de referência, também detectou um aumento do otimismo: a porcentagem de adultos que considera as condições econômicas boas ou excelentes está em 42%, 11 pontos a mais do que em dezembro passado. Os analistas John Sides e Lynn Vavreck explicam em um livro, The Gamble, que desde o New Deal os presidentes que concorrem às eleições quando a economia cresce vencem, e os que o fazem quando cai, perdem.
“A economia vem crescendo de forma estável por vários anos e os prognósticos apontavam para um crescimento continuado também quando se esperava que Hillary Clinton fosse a próxima presidenta”, afirma Josep Gagnon, economista do Instituto Peterson.
Trump disse que tinha herdado “um desastre” do Governo de Barack Obama, mas a verdade é que, na economia, é exatamente o contrário. O democrata chegou à Casa Branca em 2009 com a pior crise desde o crash de 29 e saiu com pleno emprego. Há muitos senões —a desigualdade, o fraco crescimento e os problemas estruturais—, mas os Estados Unidos experimentaram a recuperação mais sólida dos grandes países desenvolvidos e a renda familiar começou a melhorar. É nessas águas que vai navegar o trumpismo, cujas primeiras diretrizes também favoreceram as expectativas de crescimento.
Para Gagnon, as promessas de Trump deveriam ser cumpridas rapidamente para evitar um efeito adverso. “Essas expectativas afetaram a rentabilidade da dívida pública e revalorizaram o dólar, algo que trava um pouco o crescimento, então se a redução dos impostos e a desregulamentação não vierem logo, os resultados podem ser a redução do ritmo de crescimento”, explica.
A guinada protecionista do discurso de Trump despertou temores em meio mundo e críticas em órgãos internacionais como o FMI, mas os mercados minimizam sua importância e, pelo menos no momento, veem uma compensação na liberalização econômica que a nova Casa Branca traz. Stan A. Veuger, do conservador American Enterprise Institute, recorda que os tratados comerciais dos quais o presidente abriu mão (o do Pacífico e o da Europa) não iam seguir adiante e acredita que os republicanos no Congresso vetariam medidas mais isolacionistas. Adverte-se assim contra um excesso de otimismo em torno da economia de Trump: “Uma reforma fiscal profunda não é feita em menos de um ano” e esse atraso pode deter o crescimento. Muito pouco do otimismo tem a ver com essa volta à América fabril prometida.
Um primeiro rascunho de orçamento
A Administração de Donald Trump se gabou de que fará a maior redução da regulação econômica desde a empreendida pelo também republicano Ronald Reagan, nos anos oitenta. Entre outras coisas, reverteu as normas sobre os bancos impostas por seu antecessor Barack Obama depois da crise financeira de 2008 e promulgou uma norma pela qual não se pode aprovar nenhuma medida sem eliminar previamente outras duas. Essa política, no entanto, se combina com um discurso intervencionista em questões relacionadas ao comércio e ao investimento industrial. Além disso, o aumento do gasto público prometido em infraestrutura ou o investimento militar, combinado com a redução de impostos, podem deixar em apuros a promessa de botar ordem nas contas públicas.
No domingo, dia 26, foram divulgados alguns elementos do primeiro orçamento preparado pela equipe de Trump. Em uma entrevista à TV, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, afirmou que os programas sociais como o Medicare e a Seguridade Social não sofrerão cortes, como prometeu Trump durante a campanha. Mais tarde, fontes da Administração citadas pelo The New York Times afirmaram que outras agências federais como a de Meio Ambiente sofreriam ajustes.
O orçamento com o qual a Casa Branca trabalha, segundo o mesmo jornal, contempla um crescimento econômico de 2,4% este ano, abaixo dos 3% citados pelo presidente na campanha.
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