_
_
_
_
_

As minorias desafiam Trump: “Um ataque contra um é um ataque contra todos”

Conjunto de ativistas volta a mobilizar milhares de pessoas em Los Angeles

Manifestação em defesa dos imigrantes em Los Angeles, no sábado.
Manifestação em defesa dos imigrantes em Los Angeles, no sábado.EFE

Vários milhares de pessoas tomaram novamente neste sábado o centro de Los Angeles para protestar contra Donald Trump na terceira grande manifestação na cidade californiana desde que ele tomou posse como presidente dos Estados Unidos. Sob a ideia da defesa dos imigrantes, a manifestação confirma duas coisas. Primeiro, a energia que Trump está injetando em movimentos de base, que raramente conseguem levar às ruas uma multidão significativa. E segundo, a confluência de um conjunto de interesses diversos que decidiram reagir à política de Trump.

Mais informações
Wall Street sobe imune ao medo político de Trump
Pelo menos 65 restaurantes fecham em Washington no Dia Sem Imigrantes
O grampo telefônico que acuou Donald Trump
México responde nas ruas aos ataques de Trump
México responde nas ruas aos ataques de Trump

O lema principal foi a defesa dos imigrantes num momento em que a Casa Branca parece decidida a se dedicar com dureza à política de deportação de irregulares e de restrições à imigração legal. Convocado por meio do Facebook, o protesto se tornou um cadinho de todas as minorias que de uma forma ou de outra o presidente ofendeu no último ano e meio, mais do que de convicções políticas.

A manifestação de sábado em Los Angeles confirma que Trump está conseguindo levar às ruas e organizar ativistas que normalmente lutam por conta própria. Na rua estavam organizações de base de imigrantes como a União do Bairro e a Coalizão de Direitos Humanos dos Imigrantes em Los Angeles (Chirla), mas a marcha também foi promovida por Black Lives Matter e pelo Comitê de Relações Islâmico-Americanas (Cair). As bandeiras arco-íris LGBT se misturavam a bandeiras mexicanas.

Protesto em Los Angeles contra Trump, no sábado.
Protesto em Los Angeles contra Trump, no sábado.EFE

“O principal que está acontecendo é que a Administração Trump está lançando um ataque contra todas as comunidades não brancas”, disse ao EL PAÍS Hussam Ayloush, diretor do Cair em Los Angeles. Sua esposa é mexicana, e seus filhos compartilham cultura islâmica e mexicana, e ele por isso se sente atacado por dois lados. “Vivo isso como algo pessoal.” “Os imigrantes não são somente os latinos, somos todos”, afirmou, em relação à agressividade do presidente contra os imigrantes.

“Um ataque contra um é um ataque contra todos”, disse Ayloush. A frase seria repetida por vários dos que se dirigiram à multidão a partir das escadarias da Prefeitura de Los Angeles. “Se permitirmos que uma comunidade seja atacada, perderemos a capacidade de prevenir o mesmo ataque em outras comunidades.” Tem sido assim ultimamente em Los Angeles, onde muçulmanos e nipoamericanos fazem seus os temores dos imigrantes latinos.

“É a primeira vez que se vê isso”, respondeu ao EL PAÍS Juan Rodríguez, da união de vendedores ambulantes de Los Angeles, ao ser indagado sobre a solidariedade entre minorias e grupos de ativismo muito diferentes. Seu sindicato luta pelos direitos de cerca de 5.000 vendedores ambulantes da cidade, uma coletividade principalmente imigrante e com alta porcentagem de pessoas sem documentos. Os protestos “vão crescer, definitivamente, conforme Trump continue ameaçando”, declarou Rodríguez. “Para mais incursões, mais organização.”

Num canto da manifestação, Marlene Mosqueda fazia brotarem lágrimas de um grupo de pessoas contando que na quinta-feira seu pai, um pintor de 50 anos e que estava desde os anos 80 nos EUA sem documentos, tinha sido detido. Está esperando o processo de deportação. Toda sua família está nos EUA, incluindo Marlene e seus três irmãos. “Meu pai não tem nada no México”, disse Mosqueda.

Esse é o dia a dia de milhões de famílias nos Estados Unidos, onde não houve nenhuma via para a regularização por três décadas e em que a comunidade sem documentos cresceu a 11 milhões de pessoas (mais que a população de 42 Estados). Há duas semanas a polícia da imigração deteve 680 pessoas numa dúzia de Estados. A detenção de um dreamer [imigrante que chegou aos EUA menor de idade] com permissão de trabalho e a deportação fulminante de uma mãe de três crianças em Phoenix que até então não era considerada prioridade para ser expulsa do país fazem temer o pior sobre as novas normas de Trump.

Nanette Barragán, congressista do Sul de Los Angeles em Washington afirmou ao EL PAÍS que a polícia migratória “não tem um manual” de atuação. “Só o que têm é a ordem executiva” na qual Trump disse que era preciso deportar os criminosos, mas não há, segundo Barragán, nenhuma especificação sobre como aplicá-la. “Isso não é maneira de implementar uma norma.” Os imigrantes irregulares nunca viveram tranquilos nos Estados Unidos, mas havia sido criada a sensação de que quem não tinha antecedentes criminais e tomasse cuidado com a polícia não seria perseguido. Não é mais assim. Barragán pediu aos presentes na manifestação que lhe enviassem fotos e vídeos caso testemunhassem comandos contra imigrantes em lugares como escolas para crianças e adultos.

Enquanto isso, os gritos de “um ataque contra um é um ataque contra todos” eram ouvidos no local. Essas manifestações não apenas começam a ser surpreendentemente frequentes desde a vitória de Trump. Também estão conseguindo engrossar uma variada coalizão de ativistas nas grandes cidades, como se viu neste sábado em Los Angeles. Mas desde que foi eleito o presidente não diminuiu nem um pouco a agressividade de sua retórica para tentar chegar além de seu eleitorado mais fiel.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_