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Trump reafirma veto imigratório, apesar do revés judicial e do assombro mundial

Protestos se estendem por várias cidades dos EUA pelo segundo dia consecutivo

Amanda Mars
Manifestação em Boston contra o decreto migratório de Trump.
Manifestação em Boston contra o decreto migratório de Trump.DARREN MCCOLLESTER (AFP)
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Donald Trump fincou pé neste domingo em seu polêmico veto imigratório, em meio ao assombro no mundo e apesar do revés judicial que paralisa as deportações, impassível diante do segundo grande protesto multitudinário em apenas oito dias como presidente dos EUA. O decreto foi sua primeira grande medida com resultados tangíveis e também a primeira em que se deparou com a justiça. Ainda assim, Trump defendeu a iniciativa, e seu chefe de gabinete não descarta a possibilidade de “levá-la ainda mais longe”.

Na convenção republicana de julho em Cleveland (Ohio), que coroou Trump como candidato presidencial, uma muçulmana trumpista, Sabad Ahmed, explicava a este jornal que não temia “aquilo que ele tinha dito” sobre proibir a entrada de muçulmanos como medida antiterrorista. “É que não vai poder fazer isso, é algo inconstitucional”, dizia. Em outras palavras, lá estaria o sistema para frear os desmandos de seu político.

Cinco meses depois, o decreto imigratório de Trump está à altura de suas promessas eleitorais mais febris, daquilo que pareciam excessos verbais de um homem já por si excessivo, showman e empresário transformado em político, agora presidente.

De certo modo, Ahmed tinha razão. O sistema freou em parte a ordem executiva de Trump, mas somente em parte. No sábado pela noite uma juíza federal de Nova York bloqueou a deportação de cerca de 200 pessoas que se calculava terem ficado retidas nos aeroportos norte-americanos nesse mesmo dia, quando iam entrar no país com seu visto em ordem.

Esta primeira derrota do republicano é bem parcial: o veto continua em vigor para aqueles que ainda não estavam voando a caminho dos Estados Unidos no sábado. E o Departamento de Segurança Interna já advertiu no domingo que manteria o veto, mesmo respeitando a decisão judicial quanto às deportações.

Ao longo do fim de semana, juízes de outros três Estados (Massachusetts, Virgínia e Washington) emitiram ordens no mesmo sentido e 15 promotores prometeram lutar. A primeira decisão foi conhecida em um dia nefasto, enquanto algumas companhias aéreas já começavam a impedir o embarque de cidadãos muçulmanos, os manifestantes se amontoavam nos terminais de grandes aeroportos e reinava a confusão. Basicamente, milhares de cidadãos em todo o mundo não sabiam mais se poderiam entrar ou não nos Estados Unidos.

De origem alemã

Trump, neto de um imigrante alemão, embora durante décadas a família tenha indicado que suas origens eram suecas, foi criado na área mais multiétnica de Nova York, o bairro do Queens. Durante sua campanha, atiçou o nacionalismo branco. Neste domingo, apesar da batalha judicial que se avizinha, reafirmou: “Nosso país precisa agora de fronteiras fortes e controles extremos. Olhem o que está acontecendo por toda a Europa e no mundo. Uma confusão horrível!”, disse. “Grande número de cristãos foi executado no Oriente Médio. Não podemos permitir que este horror continue!”, acrescentou. Trump contempla a exceção aos cristãos em seu veto, aludindo à perseguição.

Houve críticas em seu próprio partido. Os republicanos John McCain e Lindsey Graham alertaram que temiam que, no fim, o decreto ajude a recrutar terroristas para o Estado Islâmico (EI) e seja “uma ferida auto-infligida na luta contra o terrorismo”.

Enquanto isso, as manifestações se sucediam no país. Os protestos haviam começado no sábado no aeroporto JFK, de Nova York, onde foram detidos os dois primeiros iraquianos, e se estenderam aos de Chicago a San Francisco, passando por Dallas. Sabah Ahmed, a muçulmana trumpista, não parou de publicar em sua conta do Twitter notícias de senadores republicanos e líderes internacionais que criticavam o veto.

Por ora, a suspensão das expulsões será mantida até 21 de fevereiro, de acordo com a ordem da juíza Ann Donnelly. Uma entidade de defesa dos direitos civis, a American Civil Liberties Union (ACLU), apresentou denúncia em nome de Hamid Khalid Darwish e de Haider Samir, os dois iraquianos detidos no aeroporto JFK, mas como magistrada federal sua decisão abarca todo o país.

O decreto tenta contornar a questão da inconstitucionalidade ao apontar como alvos países que o Governo considera “especialmente preocupantes”: Irã, Iraque, Líbia, Somália, Sudão, Síria e Iêmen. Mas o chefe de gabinete de Trump, Reince Priebus, advertiu que a Administração não descarta “levar ainda mais longe” a medida e que a lista seja ampliada “no seu devido tempo”. Esclareceu depois que o veto não afeta quem já possui permissão de residência legal nos EUA, o chamado green card, embora tenha dito que estes seriam submetidos a “mais controle”.

O choque desta política na sociedade norte-americana, feita de imigrantes, era palpável no JFK. Nos crachás de identificação dos agentes que formavam os cordões policiais, os sobrenomes árabes, espanhóis ou italianos eram maioria. “Nova York é pura diversidade. Donald Trump pode ser de Nova York, mas não é um nova-iorquino porque aqui acolhemos todos”, dizia Pamela Margolin, uma advogada judia de 47 anos. “Com a proibição de agora, meus antepassados não teriam sobrevivido”, disse.

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