Rússia sobre Trump: do entusiasmo ao desencanto
Meios de comunicação esfriam sua cobertura do novo presidente norte-americano
O entusiasmo da classe política russa por Donald Trump está sendo substituído pela decepção à medida que o novo presidente dos EUA assume e expressa as posições republicanas de seu partido contra Moscou. Apesar da mudança de humor, o Kremlin ainda está na expectativa, especialmente em relação a uma colaboração contra o terrorismo e a resolução do conflito na Síria. A situação atual parece refletir uma pausa, ou talvez um recuo moderado, nos motores que difundiam o otimismo com o novo líder dos EUA. As menções a Trump na televisão russa foram reduzidas substancialmente e “tendem a zero”, diz Alexandr Baunov, diretor do Centro Carnegie de Moscou.
O Kremlin teria dado a ordem de baixar o tom da cobertura informativa sobre o presidente dos EUA depois que o assessor de segurança da Casa Branca, Michael Flynn, teve que renunciar com a divulgação de seus contatos com a Rússia antes da posse de Trump. Assim publicou a agência Bloomberg, que cita três fontes familiarizadas com o assunto. Antes desse escândalo, Trump ultrapassou Putin nas menções na imprensa russa em janeiro, quando o nome do norte-americano apareceu em mais de 202.000 matérias, enquanto o russo apareceu em 147.700, seguido em terceiro lugar pelo ex-presidente Barack Obama com 61.155, de acordo com uma análise do espaço de informação da Rússia realizado pela agência Interfax.
No último 15 de fevereiro foram formados piquetes contra a trumpmania na frente da sede central em Moscou do Russia Today, um grupo informativo controlado pelo Estado russo. Os piquetes, autorizados pela Prefeitura, tinham slogans como “Não ao culto de Trump em nossos meios de comunicação” e foram organizados pelo Movimento de Libertação da Rússia (NOD, na sigla em russo), caracterizado por denunciar supostas conspirações norte-americanas contra seu país. O coordenador desse movimento é Yevgeny Fyodorov, um deputado de Rússia Unida, o partido no poder.
A Rússia aspira a uma relação de igualdade com os Estados Unidos como a mantida pela União Soviética até sua desaparição em 1991. As tradições históricas, a hipersensibilidade e os sentimentos de marginalização fazem com que a classe política russa reaja da perspectiva de fortaleza sitiada. Trump caiu bem para a elite da Rússia por não se encaixar nos moldes políticos de Washington e por ser um empresário habituado a ser pragmático nos negócios.
Após a vitória de Trump, Putin mostrou seu desejo de se encontrar com o novo líder dos EUA e no Kremlin chegaram a considerar um encontro entre os dois líderes em uma conferência de segurança que acontece neste fim de semana em Munique (Alemanha), asseguram alta fontes políticas em Moscou.
A perspectiva de uma reunião de cúpula parece agora mais distante porque os adversários de Trump nos EUA comparam sua atitude em relação à Rússia com uma traição e o presidente norte-americano pode ser forçado a demonstrar de maneira ostensiva que não tem um romance com o Kremlin.
Neste novo clima, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, culpou ontem em Munique a Rússia pela situação na Ucrânia, seu país vizinho. A política russa na Ucrânia, que fazia parte da União Soviética e se tornou independente após a queda do comunismo, é o ponto mais conflitivo nas relações entre Moscou e o Ocidente. Na Ucrânia há uma grande população russa, que Putin apoiou primeiro com a anexação da península da Crimeia, no Mar Negro, e agora dando apoio militar a outros grupos separatistas. A Rússia não quer nem discutir sua possível saída da Crimeia, como pretendia até agora os EUA e a maioria dos países europeus.
A sombra de Moscou se projeta sobre a nova Casa Branca desde que os serviços de inteligência norte-americanos atribuíram aos russos os ciberataques contra o Partido Democrata para supostamente favorecer a vitória de Donald Trump na eleição presidencial. O escândalo em torno aos contatos de Flynn e outros membros da campanha com a Rússia reacendeu suspeitas de conivência.
A relação entre os EUA e a Rússia se tornou refém da política interna norte-americana. Alexandr Baunov, um ex-diplomata russo, acredita que “a hostilidade do mundo exterior vai reforçar as posições dos isolacionistas extremos” na Rússia e, ao mesmo tempo, ajudará a difundir entre a opinião pública mundial a “ideia equivocada” de que “seu crescimento e segurança serão alcançados sobre as ruínas do Kremlin”.
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