_
_
_
_
_

Equipes de emergência correm contra o tempo para consertar represa na Califórnia

Milhares de pessoas tiveram de desocupar suas casas com medo de que o dique se rompa

A água se evade com capacidade máxima pelo deságue da represa de Oroville, na segunda-feira. À esquerda, o dique de contenção emergencial danificado.
A água se evade com capacidade máxima pelo deságue da represa de Oroville, na segunda-feira. À esquerda, o dique de contenção emergencial danificado.JOSH EDELSON (AFP)
Pablo Ximénez de Sandoval
Mais informações
A falha de San Andreas está nos avisando do ‘Big one’?
Tempestade soterra centenas de veículos no deserto da Califórnia
Terremoto de 6,5 pontos sacode a costa norte da Califórnia
Adeus ao cenário de ‘O Exterminador do Futuro’, ‘Grease’, ‘Fear The Walking Dead’...

Na noite desta segunda-feira, a represa de Oroville, na Califórnia, era uma tragédia prestes a eclodir. As equipes de emergência têm 72 horas para consertar um dique que, caso venha a se romper, poderá despejar uma montanha de água sobre dezenas de quilômetros em torno da segunda maior reserva de água do estado. O Departamento de Recursos Hídricos não tem outra opção que não seja testar pela primeira vez os limites de resistência da estrutura, e torcer para que ela aguente. Trata-se de retirar o máximo de água possível antes da chegada de uma nova tempestade, prevista pelos meteorologistas para esta quinta-feira, e ao mesmo tempo reforçar o dique que está sob ameaça de ruptura.

Os fatos registrados até o momento são os seguintes. As fortes chuvas que caíram sobre a Califórnia nos últimos meses, pondo fim a uma situação de extrema seca que vigorava em mais de 80% do estado, encheram as represas em níveis inéditos desde muitos anos. No caso do lago Oroville, a represa sobre o rio Feather, cerca de 75 quilômetros ao norte de Sacramento, teve suas comportas abertas para se esvaziar um pouco. A operação vinha sendo realizada havia alguns dias quando os engenheiros detectaram uma rachadura na rampa de descida da água que colocava em risco o conjunto da estrutura. No fim de semana, decidiu-se utilizar o deságue de emergência da represa, ao qual nunca se havia recorrido desde a sua construção, há cinquenta anos. Trata-se de um muro baixo, pelo qual a água pode transbordar a fim de aliviar a represa. Mas a água não cai para uma área canalizada como ocorre no caso do deságue principal, e sim em plena montanha. Pouco depois de começar a utilizar essa alternativa, a encosta da montanha, sob esse muro, começou a se desprender, formando fendas e buracos e arrastando rio abaixo todo tipo de escombros naturais que poderiam gerar grandes problemas. O maior perigo, agora, é que essa erosão acabe minando os próprios alicerces do muro e, com isso, derrubá-lo. Esse é o cenário do pesadelo: que a água represada em 10 metros de altura do lago avance sobre as populações da região. O que está em risco não é a represa em si, mas esse muro de contenção.

Risco de ruptura

Helicóptero transporta um saco com pedras para depositá-lo na área que sofreu erosão.
Helicóptero transporta um saco com pedras para depositá-lo na área que sofreu erosão.AFP

Cerca de 188.000 pessoas foram obrigadas a deixar suas casas no domingo diante do risco de ocorrer uma ruptura do muro do deságue de emergência. Na segunda-feira, o xerife local deixou claro que a situação continuava a ser emergencial e que ninguém poderia voltar para casa.

Diante da situação, as autoridades decidiram reforçar a estrutura ao máximo, esperando que ela resista. A comporta principal ficou aberta durante toda a segunda-feira permitindo a passagem de 2.800 metros cúbicos de água por segundo. O enorme buraco existente no meio da rampa passou a ser um problema secundário em relação ao risco de queda do muro de emergência. As imagens da queda d’água, jamais vista ali, foram amplamente divulgadas pela televisão.

À tarde, os engenheiros puderam registrar um êxito momentâneo. A água transborda por cima do muro de deságue de emergência quando o nível do lago chega a uma altura de 274 metros. O uso intensivo do deságue principal no domingo e na segunda-feira conseguiu fazer com que o nível ficasse abaixo dessa altura, detendo assim o transbordamento pelo muro de emergência vinha sendo erodido pela montanha.

O deságue maciço fez com que o nível do lago caísse 1,5 metro sem danificar de forma significativa a rampa principal. Os engenheiros calculam que, nesse ritmo, será possível baixar o nível em mais 2,4 metros por dia. O objetivo imediato é obter uma queda de 4,5 metros no total para abrir espaço para a chuva que poderá cair na quinta-feira, explicou Bill Croyle, do Departamento de Recursos Hídricos. Depois disso, a meta é diminuir em 15 metros o nível de todo o lago, já que caiu muita neve neste inverno e o degelo deverá ter início em breve.

O passo seguinte será reforçar a área que fica sob o muro para o caso de as chuvas previstas já para a madrugada da quarta-feira para a quinta-feira obriguem a que o deságue de emergência seja utilizado novamente. Durante a noite, caminhões e helicópteros estavam sendo usados com toda pressa para depositar pedras sob o muro a fim de reforçar toda a área erodida.

Nesta segunda-feira, o governador da Califórnia, Jerry Brown, enviou uma carta ao presidente Donald Trump pedindo que seja decretado estado de emergência federal para a região atingida. Com isso, poderiam ser liberados recursos de Washington para ajudar a população, que está fora de suas casas.

A represa Oroville alimenta o rio Sacramento, de onde sai boa parte da água canalizada rumo ao vale central e às cidades do sul.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_