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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

O desafio russo

Ao se completarem 25 anos da queda da URSS, a tensão com o Ocidente persiste

O ex-presidente soviético Mihail Gorbachov e sua esposa, Raissa
O ex-presidente soviético Mihail Gorbachov e sua esposa, RaissaAP

Quando se completa um quarto de século do desaparecimento da União Soviética, o mundo assiste a um preocupante aumento da tensão entre a Rússia e o Ocidente.

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O principal elemento de tensão tem a ver com a Ucrânia, motivo de sanções econômicas que a União Europeia decidiu na quinta-feira prorrogar por mais seis meses. Este é, de longe, o choque de maior intensidade com a UE e a OTAN, o que introduz uma perigosa variante militar. Moscou anexou ilegalmente a península da Crimeia e apoia militarmente a guerrilha separatista ucraniana. Era russo o míssil que derrubou um avião civil em 2014, causando 298 mortos, e russos são os aviões que praticam perigosos jogos de guerra no Báltico, Mar Negro e até nas costas ocidentais europeias. Além disso, Vladimir Putin descumpriu repetidamente os Acordos de Minsk, destinados a alcançar a paz na Ucrânia. Embora a UE não tenha nenhum interesse em continuar num rumo de confrontação com Moscou, a agressão à Ucrânia representa uma violação tão grave do direito internacional que não pode ser relevada, sob pena de se dar carta livre a Putin para repetir esses comportamentos agressivos com outros vizinhos europeus.

O segundo ponto importante de tensão é a intervenção russa na guerra da Síria, iniciada com a desculpa de combater o jihadismo do Estado Islâmico, mas que na realidade serviu para escorar a ditadura de Bashar al-Assad e incrementar o fluxo de refugiados para a Europa, no que constitui a maior crise deslocamento de pessoas desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Aqui, de novo, embora a Europa não tenha querido envolver-se militarmente no terreno, o que teria agravado ainda mais o conflito, não cabe outra coisa senão aplaudir a clareza e a dureza dos líderes europeus que advertiram que Moscou e Teerã precisarão assumir sua responsabilidade pelos crimes de guerra que estão sendo cometidos, especialmente na tomada da cidade de Aleppo, que sofre um brutal assédio que inundou de raiva e impotência a todas as pessoas de bem.

A terceira frente de conflito tem a ver com a possível intervenção de piratas informáticos russos na campanha eleitoral dos Estados Unidos para inclinar o resultado a favor do candidato Donald Trump, que, por fim, venceu. A decisão de Barack Obama de investigar o caso a fundo reforça a verossimilitude de uma atividade hostil sem precedentes contra os EUA, mas também contra a Europa, constante vítima de ataques cibernéticos originados na Rússia. E caso os resultados confirmem a responsabilidade russa, as consequências na escalada da tensão são imprevisíveis.

Quando em 25 de dezembro de 1991 foi arriada a bandeira da URSS no Kremlin, todos achamos que iríamos conviver, enfim, com uma Rússia democrática e aberta ao mundo. Mas, lamentavelmente, Vladimir Putin, não por acaso um ex-agente da KGB, decidiu seguir um rumo de confronto com o Ocidente para assim justificar sua atitude autoritária em casa. Putin vai encontrar sempre uma mão estendida no Ocidente, mas também firmeza e rechaço quando não cumprir as normas que garantam a paz e a segurança internacional.

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