Malafaia troca papéis e desce ao inferno do tribunal das redes
Pastor que incendeia seguidores com defesas enérgicas e insultos se indigna com apuração policial
O pastor Silas Malafaia (Rio de Janeiro, 1958) acordou cedo nesta sexta-feira e, como é costume, deu bom dia aos mais de 1,3 milhão de pessoas que o acompanham no Twitter. Enquanto a benção virtual era retuitada por centenas de fiéis, a Polícia Federal batia à porta da casa do pastor, no Rio de Janeiro, tornando assim mais uma investigação anticorrupção na fofoca nacional do dia. Ao meio dia, o nome de Malafaia era o terceiro assunto mais comentado na rede social, enquanto ele vociferava em caixa alta alegando sua inocência em vários “twetars” [sic].
Malafaia, que estava em São Paulo para inaugurar um novo templo da sua igreja Vitória em Cristo, foi procurado pelos agentes para declarar coercitivamente sobre seu papel num suposto esquema de corrupção de cobranças judiciais de royalties de exploração mineral. A suspeita é que o pastor apoiou a lavagem do dinheiro do esquema, tendo emprestado contas correntes de uma de suas igrejas para ocultar valores desviados. Ele nega e apenas confirma que recebeu, em 2013, um cheque de 100.000 reais de um dos advogados envolvidos na trama, como “oferta pessoal”, depositada na conta dele e da esposa, e “declarada”. Foi Deus quem teria falado no coração do letrado e motivado a doação ao pastor, segundo ele contou diante 20.000 pessoas na época. “Sou responsável pela bandidagem de outros?!”, questiona "indignado" ele, assíduo das marchas anticorrupção.
São muitos os que comemoraram a menção do pastor, um personagem que, assim como muitos de seus seguidores, cultiva ódio dos setores mais progressistas da sociedade, a quem ele constantemente insulta. Malafaia, declarado em 2013 o terceiro pastor mais rico do Brasil pela revista Forbes, destila maestria em seus discursos que misturam passagens da Bíblia e recortes de autoajuda, assim como fúria contra os “pecadores”. Há mais de 30 anos ele compra espaços na televisão para falar de Deus. É a favor da cura gay, é contra qualquer direito concedido aos homossexuais, e detona petistas, feministas, defensores do aborto, da eutanásia, pastores competidores, comunistas, esquerdopatas... sempre desde sua posição de “homem do bem”, como ele se autodeclara.
Malafaia não é político, Deus não o chamou para isso, mas sua influência nos pleitos eleitorais e na bancada evangélica do Congresso é sempre considerada. Um outro assunto é entender alguma das suas incoerências. Na última eleição municipal, começou criticando o prefeito eleito do Rio, Marcelo Crivella, por ser "petista", "cínico" e umas quantas outras pérolas, e acabou comemorando do seu lado a vitória. "Tchau, esquerdopatas!", "Chora, Freixo", "Chora, capeta", comemorava no seu perfil.
Sua condução coercitiva frustrada – ele mesmo disse que iria se apresentar voluntariamente numa delegacia de São Paulo –, no entanto, reforça o argumento dos críticos de ações policiais espetaculosas e costura sua história a de outros personagens que o fazem cuspir de raiva.
A condução coercitiva é um recurso usado, teoricamente, quando o suspeito, devidamente notificado, não comparece perante a autoridade policial, mas Malafaia, segundo ele, nunca foi intimado. “É necessário isso? Por que eu não recebi uma intimação para prestar depoimento? Condução coercitiva como se eu fosse bandido?! Se tivessem dois, três, quatro, cinco, dez cheques na minha conta dava para se desconfiar. Mas um cheque que eu recebo de uma pessoa, como recebo de inúmeras pessoas e agora estou achincalhado na mídia?!”, grita exaltado num vídeo gravado e postado nos seus perfis para se defender. O discurso é muito parecido ao da defesa do ex-presidente Lula, conduzido coercitivamente a declarar sob os holofotes de meio Brasil, em março. Malafaia, claro, não gostou da comparação, embora já tenha confessado ter votado no ex-sindicalista. “Os esquerdopatas são cínicos e dissimulados, querer comparar a condução coercitiva de lula com a minha. Ñ estou sendo delatado”, metralhou no Twitter.
Não é a primeira vez que as autoridades vasculham as contas de Malafaia, uma poderosa máquina de pedir dinheiro, defensor do “princípio da agricultura” ou “lei da semeadura”: quem quer receber dinheiro deve doar dinheiro. A Receita Federal e o Ministério Público Federal o investigaram várias vezes por suspeita de desvio do dinheiro do dízimo e lesão à crendice popular. Malafaia sustenta que foi um erro de contabilidade. “Quem atira pedra como eu atiro não pode ter telhado de vidro”, disse à revista Piauí em 2011, quando questionado pelas cinco investigações abertas contra ele desde 2007. “Eu sou besta?”.
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