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Condução coercitiva de Silas Malafaia atrai holofotes para nova ação da Polícia Federal

Operação investiga mais 45 pessoas e trata de um esquema de corrupção envolvendo royalties de mineração

Malafaia em audiência sobre entidade familiar, em 2013
Malafaia em audiência sobre entidade familiar, em 2013Lula Marques (Agência PT)

O controverso pastor Silas Malafaia é o alvo mais conhecido da Operação Timóteo, deflagrada pela Polícia Federal (PF) na manhã desta sexta-feira (16). O foco da investigação é a desarticulação de um suposto esquema de corrupção em cobranças judiciais de royalties de exploração mineral. Os royalties são 65% dos valores originários da chamada Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM), destinadas a municípios que têm empresas com atividades de extração mineral. Malafaia é suspeito de apoiar a lavagem do dinheiro do esquema, tendo emprestado contas correntes de uma de suas igrejas para ocultar valores desviados.

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Carioca, o pastor, de 58 anos, está em São Paulo nesta sexta e, pelo Twitter e Facebook, disse estar indignado com a investigação. Ele é alvo de um mandado de condução coercitiva (quando o investigado é levado a depor obrigatoriamente pela polícia) e, por isso, disse que irá se apresentar na capital paulista. Segundo informou a Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, que é presidida por Malafaia, ele estava na cidade para a inauguração de um novo tempo da instituição religiosa.

Cerca de 300 policiais cumprem 52 diferentes mandados de busca e apreensão, além de 29 conduções coercitivas, quatro mandados de prisão preventiva e 12 mandados de prisão temporária em 11 Estados e no Distrito Federal. A Operação Timóteo também determinou o sequestro de três imóveis e o bloqueio judicial de valores depositados que podem alcançar 70 milhões de reais. O esquema, segundo a PF, funcionava a partir do Diretor do Departamento Nacional de Produção Mineral (DPNM), Marco Antonio Valadares Moreira, que tinha informações privilegiadas a respeito de dívidas de royalties e oferecia os serviços de dois escritórios de advocacia e uma empresa de consultoria a municípios com créditos de CFEM junto a empresas de exploração mineral.

As investigações da PF apontam que o esquema teria quatro grandes núcleos. O primeiro seria o do captador, formado pelo diretor do DNPM e sua mulher (também alvo da operação) que buscava prefeitos interessados em participar. O segundo seria o núcleo operacional, composto pelos escritórios de advocacia e a consultoria (em nome da mulher do diretor da DPNM), responsáveis por repassar dinheiro aos agentes públicos. O terceiro núcleo seria formado por políticos e servidores que contratavam os escritórios e a consultoria. Por último, há o núcleo colaborador, sobre o qual o pastor Malafaia prestará depoimento, que se responsabilizava por auxiliar na lavagem do dinheiro.

Por ser a figura mais conhecida da Operação, dado a comentários agressivos contra minorias e causas feministas, além de ter grande circulação no meio político, o pastor acabou virando o foco das notícias sobre o esquema. Em seu Twitter, logo de manhã, ele informou que havia sido avisado por telefone que a Polícia Federal esteve sua casa, no Rio, e começou uma sequência de tweets para rebater as acusações em caps lock.  “Recebi uma oferta de cem mil reais, de um membro da Igreja do meu amigo pastor Michael Abud, não sei e não conheço o que ele faz”, explicou. “ Tanto é que o cheque foi depositado em conta. Por causa disso sou ladrão? Sou corrupto?”, questionou o pastor, dizendo que recebe ofertas de inúmeras pessoas, todas declaradas para o Imposto de Renda. “Quer dizer que se alguém for bandido e me dez uma oferta, sem eu saber a origem, sou bandido?”

Malafaia ainda reclamou da condução coercitiva: “é a tentativa para (sic) me desmoralizar na opinião pública. Não poderia ter sido convidado a depor? Vergonhoso!”.

Segundo nota divulgada pela PF, a Operação Timóteo começou em 2015, quando a Controladoria-Geral da União enviou uma sindicância que apontava incompatibilidade na evolução patrimonial de um dos diretores do DNPM. Apenas esta autoridade pública pode ter recebido valores que ultrapassam os R$ 7 milhões. “O nome da operação é referência a uma passagem do livro Timóteo, integrante da Bíblia Cristã: ‘Os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição”, finaliza a nota. Os nomes dos envolvidos no esquema não foram divulgados.

O nome do pastor Malafaia deu mais visibildade à operação pelo personagem controverso que ele é. Pelo twitter, xinga seus alvos de “imbecis” ou “idiotas”, e tem como alvo predileto ultimamente “esquerdopatas” e nomes do Partido dos Trabalhadores. Durante todo o ano de 2016, o pastor participou de protestos pró-impeachment e contra a corrupção.

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